Saúde

Automedicação custa R$ 60 bilhões ao Sistema Único de Saúde anualmente

Além dos prejuízos ao País, prática pode gerar intoxicação, alergias e mascaramento de doenças e até causar morte

Por Texto: Lucas França com Tribuna Independente 05/05/2018 13h21
Automedicação custa R$ 60 bilhões ao Sistema Único de Saúde anualmente
Reprodução - Foto: Assessoria
Seja por conta própria ou por indicação, o simples ato de tomar remédios sem recomendação médica pode ser mais prejudicial à saúde do que se imagina. Os perigos da automedicação vão além do agravamento da doença, porque o uso inadequado de medicamentos pode gerar reações adversas, inclusive levar a morte. Neste sábado (5), é o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos e especialistas alertam para os perigos da automedicação. Além de grave, a prática custa R$ 60 bilhões ao ano para o Sistema Único de Saúde (SUS). A cada real investido no fornecimento de medicamentos, o governo gasta cinco reais para tratar as adversidades causadas pelo uso incorreto dos medicamentos, entre eles estão às reações adversas que são responsáveis por 39,3% dos gastos, seguido pela não adesão ao tratamento com 36,9% e pelo uso de doses incorretas 16,9% dos gastos. Em Alagoas a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), informa não dispor de dados computados dos gastos, uma vez que, mesmo sendo uma prática recorrente, as pessoas que se automedicam não torna público essa prática. Mas, a assessora de Assistência Farmacêutica da Sesau, Sybelle Lima, faz um alerta sobre os perigos da automedicação para a saúde. “A automedicação é perigosa, pois o leigo pode tomar o remédio inadequado para seu estado de saúde. Uma atitude que não vai oferecer o efeito desejado, além de expor o paciente a efeitos colaterais diversos”, comenta. Sybelle Lima explica que medicamentos como analgésicos podem mascarar doenças. “Ao reprimir os sintomas, o paciente pode acreditar que resolveu o problema, quando na verdade pode estar provocando um agravamento do quadro”, destaca. Outro fator de risco é observado no uso de antibióticos sem orientação adequada. “A dosagem, o tempo e o tipo de antibiótico devem ser corretos para que o organismo não desenvolva uma resistência ao remédio. Isso porque, quando isso acontece, encarece e dificulta o tratamento, além de deixar os organismos nocivos mais resistentes à medicação”, ressalta a farmacêutica. Hábito é muito comum, segundo relatos A estudante Rayane Oliveira tem o hábito de se automedicar e já sofreu as consequências por isso. “Geralmente vou à farmácia e eu mesmo compro algum remédio para alergia sem prescrição médica ou orientação. Mas, uma vez tomei o Tylenol [(Paracetamol) é um analgésico e anti-térmico para uso adulto e pediátrico, serve para aliviar dores leves e febre baixa. As principais indicações do medicamento são para dores associadas a resfriados comuns ou sintomas de alergias, mas também pode ser utilizado em ocasiões que fogem do que a bula recomenda, e acabei ficando com os olhos avermelhados e ardendo. Tinha alergia ao medicamento”, comenta. De acordo com Rayane, sempre que estava com dor de cabeça comprava remédios e tomava. “Costumo ler a bula para ver para que a medicação serve. Avalio as contraindicação e acabado tomando”, confessa. A dona de casa Mayara Almeida também confessa a prática e acrescenta ainda que procura o diagnóstico pela Internet. “Eu costumo tomar remédios sem prescrição. E ainda faço pior. Procuro o diagnóstico no Google”, conta. EFEITOS Sybelle diz que na automedicação também são ampliadas as chances de uma reação alérgica, que foi o que aconteceu com a estudante. “Ao prescrever uma droga, o médico leva em consideração o seu histórico clínico, e esse cuidado atende ao propósito de resguardar o paciente sobre esse risco”, explica. Além disso, a farmacêutica ressalta outro fator importante que está relacionado ao armazenamento do medicamento em casa. “Uma vez que excessos de calor e umidade podem alterar sua composição química. Outro problema também é o risco de crianças ingerirem as substâncias e sofrerem intoxicação. O importante é que todos sigam a orientação médica à risca. A dosagem e os horários para a administração dos remédios devem seguidos de forma rigorosa e ninguém deve tomar qualquer remédio sem a prescrição de um profissional habilitado”, orienta. Campanha alerta sobre importância de acompanhamento A presidente do Conselho Regional de Farmácia de Alagoas (CRF/AL), Mônica Meira, alerta que metade dos casos poderia ser evitada com uma supervisão mais cuidadosa e efetiva dos tratamentos. Por isso, o Conselho Federal de Farmácia em parceria com o CRF/AL, lançou a campanha de promoção da adesão às terapias medicamentosas e ao seu uso seguro e racional. A iniciativa é em comemoração ao Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos. “O nosso objetivo é despertar na população a consciência de que o acompanhamento farmacêutico no tratamento consegue prevenir danos para a saúde do paciente. Durante todo o mês de maio, os voluntários engajados na iniciativa buscarão serviços públicos de saúde, como as UBSs e as farmácias públicas, para verificar se pacientes polimedicados têm acesso e aderem ao tratamento medicamentoso ou não”, explicou. Mônica Meira diz que acompanhamento farmacêutico no tratamento consegue prevenir danos à saúde do paciente (Foto: Assessoria do Conselho Regional de Farmácia de Alagoas) Neste sábado (5), o CRF/AL esteve no Centro de Maceió, em frente ao antigo Produban, das 8h às 12h, realizando uma ação de orientação à população sobre como utilizar os seus medicamentos e oferecendo também os serviços de aferição de pressão e teste de glicemia capilar. Tudo gratuito. Segundo o Ministério da Saúde, 82% dos pacientes que utilizavam cinco ou mais medicamentos de uso contínuo o faziam de forma incorreta ou demonstravam baixa adesão ao tratamento. Um em cada três pacientes abandonou algum tratamento, 54% omitiram doses, 33% usaram medicamentos em horários errados, 21% adicionaram doses não prescritas e 13% não iniciaram algum tratamento prescrito. “Com a campanha na rua, a gente espera contribuir de forma mais efetiva para a reversão dessas estatísticas. Em paralelo estamos trabalhando para inserir o cuidado farmacêutico na rotina das unidades básicas de saúde”, comenta Mônica. Brasil é recordista mundial em automedicação, segundo ICTQ O Brasil é recordista mundial em automedicação. Segundo uma pesquisa do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), divulgada em 2016, 72% dos brasileiros se medicam por conta própria. Além do uso inadequado, muitos têm o hábito de aumentar as dosagens para obter alívio mais acelerado. Outro dado relevante mostra que 40% da população faz o autodiagnóstico por meio da internet. A edição anterior da mesma pesquisa, feita em 2014, apontou que quanto maior o grau de escolaridade, maior é a prática da automedicação pelos brasileiros.  Uma das alternativas para auxiliar no combate ao uso indevido de medicamentos seria promover a venda fracionada. Isso favoreceria o acesso aos remédios, aumentaria as chances de adesão ao tratamento e, ainda mais importante, evitaria o desperdício. Atualmente tal proposta está em análise no senado, por meio do projeto de lei nº 98/2017.