Saúde

19% dos alagoanos são afetados por hipertensão arterial

Dados são da última Pesquisa Nacional em Saúde; no Brasil, 31 milhões de brasileiros tem a doença

Por Lucas França com Tribuna Independente 26/04/2018 08h45
19% dos alagoanos são afetados por hipertensão arterial
Reprodução - Foto: Assessoria
Nesta quinta-feira (26), comemora-se o dia nacional de prevenção e combate à hipertensão arterial, uma doença que atinge um em cada três brasileiros. No Estado, a porcentagem de alagoanos afetados pela hipertensão já era de 19%, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) com base nos dados da Pesquisa Nacional em Saúde (PSN), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2013. No Brasil, o total de hipertensos era de 31 milhões (21% da população do país). No país 70% dos hipertensos dependem da rede pública de saúde. Em Alagoas, uma das ações que vem contribuindo para que o Estado apresente uma incidência de dois pontos percentual abaixo da média nacional é o Programa Pesquisa para o SUS: gestão compartilhada em Saúde (PPSUS), uma parceria da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) e da Sesau, com recursos das duas instituições e do Governo Federal. Um dado preocupante apontado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), é que no Brasil menos de 50% dos hipertensos controlam a doença. O empresário João Manoel Carnaúba está entre os alagoanos hipertensos. Ele diz que controla a doença com medicamentos. “Controlo com remédios. ‘Tiro’ minha pressão constantemente e faço regime de alimentos sem sal”, conta. Apesar do uso de medicamentos que segundo João Manoel são caros, ele diz que não usa os do Sistema único de Saúde (SUS), porque não tem bons resultados. O empresário confessa que comete um erro.  “Só erro em uma coisa; não prático exercício físico, mas sou consciente de que é muito importante e recomendado pelos médicos”, ressalta. Outro que sabe a importância do acompanhamento médico e dos usos dos medicamentos para controlar a hipertensão é o aposentado Elson José de França. “Sou hipertenso há muitos anos, mas controlo com medicamento recomendado pelos médicos. Ela está controlada e por isso faço uma alimentação normal, vivo sem problemas até agora”, conta. “Doença acomete 25% da população adulta”, diz José Wanderley   O médico cardiologista José Wanderley Neto diz que a hipertensão arterial acomete 25% da população adulta e é um importante fator de risco para doença arterial coronariana que é a causa de infarto, uma doença de alta letalidade. “Além do coração, as outras consequências graves são o derrame cerebral e a falência dos Rins”, acrescenta. José Wanderley Neto fala também do determinismo genético. “Além dele, o consumo de sal, o aumento do peso, o uso do cigarro e a falta de atividade física são indutores ou fatores que agravam a pressão arterial”. Do mesmo modo, a cardiologista Anabel Viviane Leão Lima explica que a hipertensão tem caráter familiar, mas  que o hábito de comer alimentos ricos em sal, também contribui muito para o surgimento da doença. “Particularmente os enlatados e embutidos, por conterem sal na conservação são muito utilizados pela população. Além disso, a falta de atividade física também contribui. A complicação mais frequente relacionada é a HAS [Hipertensão Arterial Sistêmica] e o AVC [Acidente Vascular Cerebral]”, explica a cardiologista. Anabel ressalta que a HAS é fator de risco para os eventos cardiovasculares principalmente se o indivíduo for diabético. “É necessário reduzir o sal (se possível trocar por ervas); evitar alimentos industrializados e fazer atividades físicas ao menos três vezes por semana (no mínimo)”, ressalta a cardiologista. Campanha chama população para fazer o diagnóstico   Com objetivo de aumentar a estatística do controle da doença, o Conselho Regional de Farmácia de Alagoas (CRF/AL) faz um chamamento para que a população busque os serviços de saúde para fazer o diagnóstico o mais rápido possível. Eliane Campesatto, farmacêutica, e presidente da comissão de ensino do CRF/AL e professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), explica que além do tratamento com medicamentos, outras medidas são importantes para evitar o desenvolvimento da doença, como por exemplo, uma alimentação saudável com consumo moderado de sal, atividades físicas, redução do stress, controle do peso e outros. Segundo a farmacêutica, um levantamento do serviço farmacêutico de Curitiba, mostrou que mais de 90% dos pacientes tem dificuldade de aderir ao tratamento medicamentoso. “Esse é um dos grandes problemas do nosso sistema de saúde, pois a adesão ao tratamento é negligenciada em todos os níveis. O paciente é diagnosticado, recebe tratamento, mas o acompanhamento posterior deixa a desejar”, lamenta. Campesatto diz ainda que o tratamento incorreto resulta em muitos problemas como, por exemplo, ineficácia do tratamento e o aumento das reações adversas. “O cuidado farmacêutico em pacientes com hipertensão é muito importante. Além de orientar sobre o medicamento o farmacêutico orienta sobre a mudança de hábitos de vida, que é fundamental para o controle da hipertensão”, pontua. Estudo voltado para atenção à saúde já mostra resultados   De acordo com matéria publicada no site da Fapeal em abril de 2015, o Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS), que iniciou em Alagoas em 2001 já trouxe resultados positivos. Em 2009 um dos projetos financiados na área teve seus resultados incorporados às práticas da rede de saúde pública no Estado. Voltado para risco cardiovascular e fatores dietéticos de proteção e atividades de promoção à prática alimentar saudável em mulheres a partir dos 60 anos de idade, o estudo ofereceu subsídios importantes para a reestruturação da atenção à saúde de idosos e pessoas com hipertensão arterial e diabetes na Secretaria Municipal de Saúde de Maceió (SMS), especialmente na área de Promoção da Saúde. Apesar de termos menos hipertensos relativamente, ainda de acordo com o IBGE (2014), 13% dos alagoanos preferem consumo elevado de sal, o índice mais alto entre os estados do Nordeste, cuja média é de 10%. Sandra Vasconcelos, nutricionista e professora da Ufal, explica que o grande vilão desta história é mesmo o sal, mas a população ainda não tem orientação suficiente a respeito do principal fator responsável pela pressão alta: a alimentação. É comum, por exemplo, o consumo do “sal oculto”, aquele sódio que é componente de outra substância, utilizada em produtos processados, como o ciclamato de sódio presente em alguns adoçantes, e muitas vezes a população nem desconfia. A cultura alimentar é responsável ainda por outros comportamentos nocivos. “Muitos hipertensos estão abandonando as raízes por bolachas diet e light, com base em conceitos errados”, alerta a pesquisadora. “Inhame, macaxeira e batata doce são muito mais relevantes para a nutrição e fazem parte da nossa história”, conclui Sandra Vasconcelos.