Saúde

'Sociedade está desinformada sobre o autismo'

Diretora de associação destaca importância do debate e conhecimento aprofundado do assunto

03/04/2018 08h28
'Sociedade está desinformada sobre o autismo'
Reprodução - Foto: Assessoria
Em todo o país, estima-se que existam 2 milhões de autistas. A Síndrome do Espectro Autista só foi incluída na Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde em 1993. Esta ‘novidade’ do assunto é apontada como o principal entrave para a desmistificação da informação. Pollyana Veiga, uma das diretoras da Associação dos Amigos dos Autistas de Alagoas (AMA-AL), destaca a importância do debate e de um conhecimento mais aprofundado sobre  o assunto. “Na verdade, embora seja uma síndrome cada vez mais frequente, que tem crescido muito na última década, a sociedade não conhece o autismo. A sociedade vê como pessoas que não conseguem falar ou interagir, quando na verdade não é isso. Não é só isso. Existem diversas manifestações. É bem complexo, envolve uma série de coisas. São pessoas que precisam de adaptação e a gente quer conscientizar a sociedade de que é preciso conhecer o autismo. Saber que na síndrome não existem pessoas iguais, o autismo afeta as pessoas de forma diferente, em graus diferentes”, esclarece. A Associação atende, de forma multidisciplinar, 45 autistas em Alagoas. Segundo Pollyana, a complexidade de cada caso vai além da restrição da fala. “A Associação faz acompanhamento multidisciplinar com fonoaudiologia, terapia ocupacional, pedagogia, educação física durante um turno, são seis terapias durante um turno. Os casos são tão variados, que na nossa associação atendemos 45 autistas e todos são diferentes. O espectro é a variação de grau de desenvolvimento. Acreditamos que o estudo brasileiro esteja ultrapassado. No Brasil as estatísticas dizem que a cada 200 pessoas uma é autista. Nos Estados Unidos isso está bem mais avançado em termos de estudos, pesquisas e lá é uma média de um caso para cada 80 pessoas”, pontua. “Cada conquista dele, nos deixa feliz”, diz mãe   Adriana Mendes, de 40 anos, tem quatro filhos. O caçula, Vicente de 4 anos, foi diagnosticado com a síndrome, há cerca de dois anos, após a própria família perceber diferenças em seu comportamento. “Meu filho Vicente tem 4 anos. Ele tem uma irmã gêmea, mas é uma criança neurotípica (normal). Ele com mais ou menos dois anos não falava, falava muito pouco enquanto a menina era tagarela. Nesse período, começamos a desconfiar e levamos para uma otorrinolaringologista. A médica fez todos os exames, mas não detectou nenhum problema e nos encaminhou para uma neuropediatra. Esta então fez a consulta, mas não fechou nenhum diagnóstico e isso nos deixou muito angustiados” Adriana conta que foi um longo percurso desde a primeira consulta até o fechamento do diagnóstico. Todo o processo foi marcado por angústia e incertezas. “Com dois anos e meio o levamos para uma consulta em são Paulo com um especialista no assunto e foi quando enfim ele diagnosticou o Vicente com autismo. A partir daí receitou as terapias como fono e terapia ocupacional e posteriormente para a psicóloga. Mas foi muito penoso. Até fechar o diagnóstico foi muito difícil porque existia a dúvida e a incerteza sobre o que poderia ser e como nós poderíamos agir. O diagnóstico é um divisor de águas. Depois dele abre sua mente e você pensa: E agora o que vamos fazer? Que direção tomar? Então você consegue dar passos mais firmes, mais assertivos porque você sabe o que está tratando”, explica a mãe. Ela diz ainda que a dificuldade em conseguir o diagnóstico se dá muitas vezes por receio. Em outros países, segundo ela, o autismo tem sido identificado cada vez mais cedo. “O autismo causa certo medo porque é desconhecido. Tem se falado muito dele, mas é tudo muito novo. O momento de ouvir o diagnóstico foi muito difícil, mas também foi muito libertador”, pontua Adriana. De lá para cá a evolução no desenvolvimento do menino é comemorado pela família. “Cada conquista dele nos deixa muito feliz. Antes ele passava cinco minutos sentado na mesa para comer. Hoje ele come tudo. Foram dois anos de desenvolvimento perceptíveis. Quem convive conosco percebe o quanto ele mudou”, destaca ela. Para a mãe, a conscientização sobre o assunto deve ser feita por meio do respeito. Ela diz que existem muitas dificuldades de aceitação e incompreensão pelas diferenças entres as crianças autistas e as típicas. “O mais importante é o respeito, é o amor. Quando você trata o seu próximo, inclui no ambiente, seja na escola, em casa, quando passa a incluir em todas as rotinas como membro da família isso passa a ser um processo revolucionário. A sociedade precisa aprender a respeitar o que não conhece. O respeito e amor com as pessoas que não conhece. A gente vê muitos casos de crianças que sofrem preconceito nas filas porque se sentam no chão, eles fazem birra, em um comportamento digamos ‘inadequado’, mas isso é angustiante para eles, são experiências desafiadoras para eles e a sociedade precisa amar mais o desconhecido, seja falando disso, ou de qualquer outra coisa que a sociedade não conheça.”