Saúde

Medo e complicações tornam pílula inimiga de algumas mulheres

Muitas são as dúvidas na cabeça das mulheres sobre benefícios e efeitos colaterais da medicação

Por Tribuna Independente com Texto: Evellyn Pimentel 24/02/2018 15h57
Medo e complicações tornam pílula inimiga de algumas mulheres
Reprodução - Foto: Assessoria
Para umas, aliada, para outras, a pílula anticoncepcional é uma inimiga. Quase sessenta anos se passaram desde que a primeira pílula foi autorizada para comercialização, em 1960. De lá para cá, muitas são as dúvidas na cabeça das mulheres sobre os benefícios e efeitos colaterais da medicação. Seja por medo ou por complicações, algumas optam por abandonar ou nem fazer uso das medicações contraceptivas. Para especialista, é preciso orientação profissional. No entanto, não há motivo para pânico. Temendo complicações, a relações públicas Nair Michele, de 35 anos, deixou de usar medicamentos anticoncepcionais há pouco mais de três anos. Ela conta que sofria com alguns desconfortos físicos e apesar de procurar médicos e mudar o tipo de medicamento, o problema não se resolveu. “Eu tomei anticoncepcional durante quatro anos. Sentia muito enjoo pela manhã, chegando a vomitar algumas vezes, dor de cabeça constante, inchaço no corpo... Foi quando minha médica passou uns exames e identificou que estava atacando meu fígado. Mesmo trocando de pílula para injetável por cerca de uns oito meses, os sintomas persistiam. Foi quando decidimos parar e usar só camisinha”, detalha. Segundo Nair, usar o anticoncepcional era motivo de dúvida. “Sentia medo o tempo todo”, conta. A mistura de medo e desconforto também motivou a maquiadora Cíntya Santos, de 27 anos, a trocar o medicamento anticoncepcional pela camisinha. “Não tomo mais, eu tomava. Passei uns três anos tomando, mas sempre me fez muito mal. Tinha efeitos colaterais, muita dor de cabeça, ficava irritada. Aí eu troquei a pílula pelo injetável, mas a própria injeção doía muito, deixava o músculo dolorido por uns três dias, até roxo ficava. E também me fazia mal porque eu engordei bastante, quando eu estava no período do ciclo eu ficava com coágulos. À medida que o tempo foi passando os coágulos foram aumentando e eu fui ficando com muito medo porque tinha alguma coisa muito estranha”, afirma. Cíntya explica que procurou orientação médica até chegar à decisão de suspender o uso da pílula. “Então eu consultei um ginecologista e falei para ela que ia parar e parei. Além do que eu estava lendo de casos de pessoas com trombose por conta do anticoncepcional. Aí eu parei em 2015”. Pedagoga deixa de usar anticoncepcional após contrair trombose venosa profunda A pedagoga Meire Célia Lima, de 42 anos deixou de usar a pílula há treze anos. O motivo? Uma trombose venosa profunda. A doença atingiu as pernas de Meire Célia até o ponto de deixá-la sem andar. “Fazia uso de anticoncepcional por um período e parei. Anos depois retornei o uso e em um único comprimido tive a trombose. Sentia muitas dores nas pernas, um cansaço constante, minhas pernas pesavam. Até que um dia quando acordei não consegui andar, a perna estava muito inchada e vermelha. Graças a Deus não precisei fazer cirurgia, pois fui diagnosticada a tempo”, conta. Ela conta que sequer imaginou que a pílula poderia causar tais efeitos, nem os médicos. Só após a alta do hospital e uma investigação aprofundada por parte de um cirurgião vascular que a causa foi constatada. “Fiz uma investigação para saber o motivo da trombose, pois segundo eles [médicos] eu não fazia parte do grupo de risco. A priori não foi feito a relação com a pílula porque eu não citei de imediato, como havia sido apenas uma pílula não falei. Só depois quando saí do hospital, em uma consulta com o cirurgião vascular foi que ele solicitou a investigação e foi constatada a relação”, detalha a pedagoga que desde então não usa medicamentos contraceptivos. MEDO Para a jornalista Gabriela Palmeira, de 29 anos, utilizar a pílula não é opção. Ela diz que nunca fez uso de nenhum tipo de medicamento anticoncepcional, mas admite que o uso é importante. “Eu nunca tomei, justamente porque tenho esse medo de ter alguma coisa. Tenho medo das reações, medo de desenvolver câncer, trombose. Não acho um método totalmente seguro. Na verdade, minha postura pessoal é de que não tomo, porque não gosto e acredito que pode fazer mal a longo prazo, mas não posso ser egoísta a partir da minha visão”, pontua. Gabriela diz ainda que para ela a questão deve ser analisada de um ponto de vista mais amplo, que envolve os direitos de homens e mulheres. “Diante da luta pelos direitos reprodutivos, a luta pela revolução sexual, o anticoncepcional foi uma ferramenta muito importante. Mas hoje em dia a gente tem que ir mais à linha de porque não os homens? Nós mulheres somos férteis uma vez por mês, os homens são o tempo todo. Então, por que temos que agredir nosso corpo?”, opina. Médico esclarece que remédio não pode ser considerado vilão De acordo com o ginecologista e obstetra Alexandre Calado não há motivo para preocupação, pois a interrupção do uso só é indicada para os casos onde há algum histórico de doenças. “Normalmente é desaconselhado em casos onde a pessoa tem alguma complicação vascular como varizes, passado de cirurgia cardíaca. Então, é indicada a opção para outro método anticoncepcional, não é muito comum. Exatamente porque pode piorar os quadros de hipertensão também é desaconselhado, mas isso ocorre em idades mais avançadas, que normalmente já tomaram por um bom tempo”, reforça Calado. O médico acrescenta que a evolução dos métodos anticoncepcionais se deu também pela redução da quantidade de hormônios presentes nas pílulas, o que reduz os riscos. Além disso, o ginecologista explica que o anticoncepcional protege contra tipos de câncer. “O anticoncepcional dá proteção relativa contra câncer de ovário. Com relação ao câncer de mama, quanto menos hormônio melhor, mas aí tem que ser avaliado o custo-benefício se vale a pena usar e porque está usando. Normalmente se usa para contracepção. Tem que ser procurado um ginecologista para ser avaliada a necessidade de utilizar hormônio, porque as pílulas hoje são de baixa dosagem, mas é preciso ser avaliado com o ginecologista”. Ainda segundo ele, todo medicamento deve ser tomado sob orientação médica. No entanto, em alguns casos, as mulheres compram qualquer tipo de pílula, sem se preocupar com a dosagem hormonal, que muitas vezes é desnecessária. “Está errado. Os anticoncepcionais têm vários tipos de drogas utilizados. Só o ginecologista pode avaliar qual deve ser utilizado. Às vezes você pode usar uma dosagem hormonal muito alta sem ser preciso. O ideal é ir à farmácia com uma receita do ginecologista, é o mais recomendado”.