Saúde

Alagoas ocupa pior colocação do Nordeste em número de transplante

Apesar de no estado terem sido realizados apenas seis procedimentos no primeiro semestre, número representa avanço com relação a 2016

Por Tribuna Independente 01/09/2017 08h39
Alagoas ocupa pior colocação do Nordeste em número de transplante
Reprodução - Foto: Assessoria

Nos seis primeiros meses deste ano foram realizados seis transplantes em Alagoas, entre os 30 potenciais doadores. De acordo com o Registro Nacional de Transplantes (RNT) 407 pacientes ativos estão na lista de espera no Estado. Mas o número representa um avanço, uma vez que o ano passado inteiro totalizou cinco procedimentos apenas.

Mesmo assim, Alagoas ocupa atualmente a última colocação no Nordeste. Seguindo o ranking dos piores índices, vem Sergipe (43) e Piauí (60). O campeão é o estado de Pernambuco, que registrou nos seis primeiros meses 282 procedimentos do tipo. Ceará ocupa o segundo lugar de melhor índice. Foram 262 transplantes realizado no Estado este ano. E a terceira colocação fica com o estado da Bahia (252).

O mês de setembro é dedicado ao incentivo e conscientização da importância do transplante de órgãos, o chamado Setembro Verde. Entre os dias 27 e 30 estão programadas ações da Associação dos Renais Crônicos e Transplantados de Alagoas (Arcal) em parceria com a Central de Transplantes da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) direcionadas à população.

De acordo com o presidente da Arcal, José Wilton da Silva, o principal problema em relação a doação de órgãos e os transplantes no estado é a falta de políticas públicas, o que dificulta o acesso aos pacientes.

“Nossa maior dificuldade é que a maioria dos pacientes está precisando ir para outros estados, por falta de uma política eficaz no estado de Alagoas. A situação não é nada boa. Hoje um paciente passa mais de dez anos para conseguir um transplante no estado. Cerca de 90% não consegue”, expõe.

Para José Wilton, o sistema de transplantes carece de maior atenção, principalmente em relação aos profissionais que executam os procedimentos.

“A maior problemática é a falta da política direcionada a questão dos transplantes. O incentivo aos profissionais. Também trabalhar uma campanha de informação das pessoas sobre a importância do transplante. Não tem equipe destinada exclusivamente para transplantes. A maioria atua em outras áreas e, quando precisa, é chamada as pressas para fazer o transplante e isso dificulta o trabalho”.

O representante dos transplantados aponta ainda falhas no sistema de recepção dos doadores, que depende obrigatoriamente do funcionamento adequado do aparelhamento de saúde do estado.

“A principal porta de entrada de potenciais doadores é o HGE, mas o HGE atende de forma desumana, com profissionais e usuários insatisfeitos. Então fica difícil uma pessoa querer doar os órgãos de um ente querido que nas suas últimas  horas foi atendido de forma desumana, foi mal atendido, no chão do hospital, sem um atendimento digno. E quando se identifica que ele é um potencial doador que a equipe aborda, a família vai dizer sim para a doação de órgãos? É muito difícil”.

Autorização da família é outro entrave para doações no Estado

Além da necessidade de políticas públicas, o cardiologista José Wanderley Neto, especialista em transplantes, reforça a necessidade de um atendimento mais adequado para os pacientes nos últimos momentos da vida.

José Wanderley Neto diz que alguns entraves para realização do procedimento acabam desestimulando equipes (Foto: Adailson Calheiros)

 

“Ainda existe preconceito. Essa barreira ainda não foi vencida no Brasil, principalmente aqui no Nordeste. A autorização da família é um problema a ser vencido. Existe uma barreira cultural. Em função também da própria estrutura dos serviços de saúde. As pessoas têm muita dificuldade de ter acesso. Então, quando vão ser abordados pelo pessoal da Central de Transplantes, há uma resistência muito grande, numa hora que já é muito dolorida. Se o doador tiver um atendimento com presteza, mas quando existe essa barreira fica mais difícil a autorização da família”

O médico avalia ainda que outros problemas complicam a efetividade dos procedimentos no estado. “Quando vai preparar o doente para transplante é preciso uma série de exames. Precisa dispor para tomar a decisão, mas para fazer pelo Sistema Único de Saúde demora para fazer a investigação completa do doente e tomar a decisão de  colocá-lo na lista. Isso acaba desestimulando as equipes, vai ficando cansado de ter esse problema na porta e não poder resolver com presteza.”

De acordo com o médico, quando bem executado o sistema de doação e transplantes permite a sobrevida de muitos pacientes. A taxa de sucesso nos procedimentos que ele realiza é bastante satisfatória, na ordem de 90% pós-cirurgia.

“Nosso programa de transplantes vai completar 30 anos e é muito bom. Nossa taxa de sucesso é acima de 90% de doentes que sobrevivem. Após 10 anos, a taxa é de 55% de sobrevivência nos que foram operados”, diz o cardiologista.