Saúde

Formação de profissionais de saúde em Educação à Distância gera polêmica

Conselhos Regionais e Estaduais de Farmácia e Enfermagem estão participando de uma série de debates

Por Tribuna Independente 06/04/2017 10h30
Formação de profissionais de saúde em Educação à Distância gera polêmica
Reprodução - Foto: Assessoria

Você confiaria ser atendido por um profissional da área de saúde, por exemplo, um farmacêutico ou enfermeiro que tenha formação em nível superior feito 100% na modalidade de Educação à Distância (EAD)?

A discussão sobre educação a distância nessa área de formação está gerando polêmica pelo Brasil. Os Conselhos Regionais e Estaduais de Farmácia e Enfermagem estão participando de uma série de debates para alertar toda sociedade sob o risco da formação através dessa modalidade em cursos que requer a presença dos alunos em sala de aula e, sobretudo, a vivência prática.

O presidente do Conselho Regional de Farmácia de Alagoas (CRF/AL), Alexandre Correia, esteve em Brasília junto aos representantes da comissão de ensino do CRF-AL Mônica Meira, Flávia Dabbur e Rui Reys participando da discussão sobre o Ensino a Distância para os cursos de farmácia.

Alexandre Correia, que também é membro da Comissão Parlamentar do Conselho Federal de Farmácia (CFF), destacou que o debate que ocorreu em Brasília foi para alertar a população sob os riscos que o ensino a distância em farmácia pode trazer. “Somos um curso em que a prática está muito presente e o ensino à distância não se adequada a nossa formação profissional”, afirmou.

Ele pontuou ainda que o presidente do Conselho Federal de Farmácia, Walter Jorge da Silva, foi quem abriu os trabalhos e convocou todas as profissões de saúde para se unirem e trabalharem contra o ensino à distância. De acordo com o presidente do CRF, a sociedade hoje já sofre com a má prestação de serviço e, se o ensino à distância for aprovado, essa realidade será pior.

Para a presidente da Comissão de Ensino do CRF/AL, Mônica Meira, a discussão foi muito importante porque existe um decreto para ser assinado pelo presidente da república, Michel Temer, que autorizar o ensino à distância em 100% para os cursos de saúde. “Isso é impossível porque os cursos da área de saúde precisam do contato com os pacientes, precisam de prática. Como é que um farmacêutico pode desenvolver a sua profissão sem ter prática?”, questionou.

População tem receio de ser atendida por formado em EAD

A reportagem do Tribuna Independente ouviu algumas pessoas sobre  se elas confiariam em enfermeiros ou farmacêuticos  formados nessa modalidade. A maioria disse ter receio se de serem atendidos por profissionais com formação foi totalmente na modalidade EAD.

“Depende da forma como o curso foi estruturado. Se o curso todo fosse EAD, eu não confiaria. Isso porque sem as aulas práticas presenciais, acredito que seja impossível formar um profissional da área da saúde qualificado para atender as demandas da sua profissão, bem como as particularidades que só são vistas no momento em que se está lá na vivência nos estágios. Mas, se somente as aulas teóricas fossem na modalidade à distância, creio que, se o estudante for ativo para o estudo, o ensino não seria defasado. Tanto que se têm muitos bons profissionais (pedagogos, assistentes sociais, etc.) formados pelo EAD e que não deixam a desejar”, comentou o estudante de medicina Victor Mendonça.

“Curso dessas áreas totalmente a distância não seriam uma boa. Os profissionais dessas áreas estão lidando com vidas e, para isso, eles têm quer ter vivência prática. Mas, se o curso for bem estruturado apenas com aulas à distância em disciplinas teóricas, não vejo nenhum problema”, disse Raianne Alameida, técnica em enfermagem.

“Existem bons profissionais que concluíram na modalidade a distância, mas depende muito de como o curso foi estruturado e a metodologia de ensino. Além disso, áreas com farmácia, enfermagem e medicina requerem um cuidado especial, porque são profissões que vão lidar com vidas. E, nesse caso, um curso totalmente EAD não iria formar um excelente profissional. Ele precisa ter vivência em estágios e ter contato com paciente“, explicou o assistente social Valney Erick.

De acordo com a presidente da Comissão de Ensino do CRF/AL, a ideia é realmente mobilizar os estudantes, os representantes de classe, centros acadêmicos e os sindicatos da categoria para que esse decreto não seja assinado pelo presidente. “Vamos confeccionar um documento para levar ao Ministério da Educação, ao Inep e fazer um movimento junto à bancada federal de Alagoas para que eles se sensibilizem com a causa”, destacou.

Para presidente do Sineal, não se pode fazer prática à distância

A presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Estado de Alagoas (Sineal), Rosimeire Machado, informou que a instituição e demais entidades de classe também são totalmente contrárias ao EAD.

Segundo Rosimeire, em Alagoas, existia curso de enfermagem à distância, mas o Conselho Nacional de Educação barrou em todo Brasil. “O curso EAD em enfermagem está suspenso”, frisou.

“Não se pode fazer prática à distância. Saúde exige cuidar das pessoas. Os cursos presenciais já dão problema, imagine a distância”, pontuou à sindicalista.

Maria José Sampaio, diretora do Sineal, também comentou acerca do assunto. Ela salientou que não tem como se ter uma qualificação profissional na área de enfermagem com o ensino a distância, principalmente por conta da diversidade no saber do processo de ensino.   “A aprendizagem na área de enfermagem deve ocorrer em espaços teórico e prático”, frisou.

A diretora disse ainda que, com a formação à distância, esse processo de aprendizado teórico e prático seria ocupado. “A formação à distância na enfermagem poderá levar risco ao usuário, além de infringir o código de ética”, destacou.