Roteiro cultural

Museu Théo Brandão faz 50 anos de portas fechadas no mês do folclore

Principal espaço de exposição da arte popular está fechado aguardando recursos para reforma estrutural

Por Valdete Calheiros - colaboradora / Tribuna Independente 20/08/2025 07h49 - Atualizado em 20/08/2025 11h09
Museu Théo Brandão faz 50 anos de portas fechadas no mês do folclore
No mês em homenagem ao folclore, o Museu Théo Brandão se encontra de portas fechadas para reforma - Foto: Edilson Omena

O Dia Internacional do Folclore comemorado nesta sexta-feira (22) será marcado por uma grande lacuna na cultura alagoana uma vez que o Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore, que celebra hoje 50 anos de memória e identidade, está de portas fechadas ao público e sem previsão de reabertura.

Ao ser batizado de Théo Brandão, o museu, gerido pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), homenageou o doador do acervo de arte popular, professor, médico e folclorista Theotônio Brandão Vilela.

O acervo conta com cerca de 28 mil, 30 mil peças, segundo cálculos feitos pela direção. No acervo muita coisa tridimensional com peças de grandes artistas alagoanos, dividido em categorias fotográficos, sonoro, um bibliográfico, fora a biblioteca, especializada em cultura popular, folclore.

O equipamento cultural da Ufal celebrará seu meio século de dedicação à cultura popular nordestina, com ênfase especial na riqueza artística e simbólica de Alagoas, sem público para apreciar seu rico acervo.

DIRETORA

De acordo com a diretora do Museu Théo Brandão, a museóloga Hildênia Oliveira, o prédio está temporariamente fechado, devido a problemas estruturais tanto internos quanto em seu entorno, agravados pela falta de investimentos regulares na manutenção e na valorização do espaço.

Hildênia Oliveira afirmou que o Museu celebra 50 anos com condições difíceis, mas contribuindo de forma importante com a cultura alagoana.

“Não vejo este momento como uma grande lacuna, vejo com um preenchimento significativo, criativo para Alagoas. Apesar das condições ruins do espaço, o Théo Brandão se mantém muito vivo, muito atuante”, defendeu Hildênia Oliveira.

Esperança é uma reforma patrocinada pelo PAC Seleções

Na avaliação da diretora, apesar da situação atual, o Museu segue vivo, presente na cena cultural e acadêmica, e encontra renovadas esperanças em um projeto submetido ao Edital do PAC Seleções, com a proposta de criação do Complexo Cultural Théo Brandão.

O projeto, detalhou, prevê um futuro promissor para a cultura alagoana, com o restauro do Museu Théo Brandão. As ações incluem também a construção de um anexo moderno, acessível e integrado à paisagem urbana”, contou a diretora Hildênia Oliveira.

A diretora do Théo Brandão explicou que o Museu está fechado para o público espontâneo, mas continua com as visitas de grupos de até 20 pessoas, principalmente de estudantes. “Todo o fluxo é encaixado nas possibilidades atuais”.

Os agendamentos, ela explicou, são feitos por e-mail. No momento, o e-mail não está sendo divulgado, uma vez que o Museu não tem a capacidade, conforme a própria direção, de receber grandes públicos.

Ela adiantou que no próximo dia 04 de setembro o equipamento sedia um grande evento, uma semana de design, cuja duração será de 30 dias.

Hildênia Oliveira recordou que a Comissão Alagoana de Folclore é uma das mais antigas do Brasil, sendo inclusive, anterior à Comissão Nacional do Folclore.

Inicialmente instalado no bairro do Pontal da Barra, em Maceió, o Museu Théo Brandão se consolidou como um dos mais importantes espaços de preservação da arte e da cultura popular do Nordeste brasileiro.

Conforme a Ufal, o acervo é composto por peças que narram histórias, tradições e expressões simbólicas do povo nordestino com um olhar afetuoso e profundo sobre as manifestações culturais alagoanas.

Entre cerâmicas, brinquedos populares, peças de fibra vegetal, máscaras e indumentárias de folguedos, o museu abriga obras de grandes mestres da arte popular, como Fernando Rodrigues, Dona Irinéia, Sil de Capela, entre tantos outros que são referência na cultura do povo nordestino.

Além da coleção tridimensional, o equipamento detém um dos maiores e mais valiosos acervos documentais, fotográficos e sonoro do país voltados para a cultura popular, com registros que atravessam gerações e preservam a memória oral, visual e simbólica das tradições populares Nordestinas e brasileiras.

Casarão do Museu Théo Brandão, na Avenida da Paz, tradicional reduto de manifestações folclóricas (Foto: Edilson Omena)

Casarão da Avenida da Paz já pertenceu à família Machado

Atualmente situado na Avenida da Paz, em um belíssimo casarão de arquitetura eclética do início do século 19, que pertenceu à tradicional família Machado, o Museu Théo Brandão passou por um processo completo de restauro no início dos anos 2000.

O equipamento cultural foi reaberto em junho de 2002 e devolveu à cidade um espaço cultural renovado, com intervenções que respeitaram e preservaram suas características arquitetônicas originais.

Segundo a diretora do Museu Théo Brandão, a museóloga Hildênia Oliveira, a falta de investimentos prejudica um dos equipamentos mais significativos da cultura e da memória alagoana.
“Mesmo temporariamente fechado, o museu segue buscando parcerias para a preservação da cultura e da identidade alagoanas: aliado a outras instituições – como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular e o Núcleo Multidimensional de Gestão do Patrimônio e Documentação em Museus – o Museu Théo Brandão colabora na coordenação do projeto ‘Memórias Alagoanas: o acervo sonoro de Théo Brandão’”, completou a diretora.

Para dar visibilidade e audibilidade ao acervo sonoro de Théo Brandão, o projeto trabalha o material composto por gravações originais de áudios da cultura popular realizadas entre os anos 1940 e 1970.

Fazem parte desse projeto os registros sonoros de Théo Brandão: identificação e itinerários de uma coleção fonográfica, financiado pelo CNPq, por meio da Chamada CNPq/MCTI/FNDCT Nº 18/2021.

Diretora afirma que instituição tem um legado

A diretora Hildênia Oliveira, salientou, ainda, que ao longo de 50 anos, o Museu Théo Brandão se consolidou como uma das mais importantes instituições culturais de Alagoas.
“É um espaço de formação, de pesquisa, de memória e de celebração das expressões populares, sendo referência para pesquisadores, estudantes, músicos, artistas, mestres da cultura popular e toda a comunidade.

UFAL

A Ufal afirmou que o rico acervo do Museu conta a história da arte e da cultura popular nordestina e, em especial, alagoana, o Theo Brandão se reafirma como um guardião do patrimônio imaterial e simbólico da região, resistindo às adversidades e construindo pontes entre passado, presente e futuro.

Para a Ufal, o Museu Théo Brandão, em seus 50 anos, é símbolo de resistência da arte popular e do Folclore alagoano. Por meio de manifestações como o reisado, o guerreiro, o coco de roda, a rendeira e o artesanato em palha e barro, o povo alagoano preserva tradições que atravessam gerações.

Reitor da Ufal destaca importância

O reitor da Ufal, Josealdo Tonholo, salientou que o Museu Théo Brandão não apenas guarda a história, mas mantém viva a tradição e contribui para que as futuras gerações conheçam e valorizem a rica herança cultural de Alagoas.

O reitor também comentou que, em seus 50 anos de atividades, o Museu Theo Brandão exerce um papel essencial na preservação, valorização e divulgação da cultura popular alagoana.

“Muito além de ser a casa permanente da Mamãe Alagoas, que permite aos seus Filhinhos prolatarem o começo da epifania do Carnaval, este espaço santo da arte e do folclore abriga um vasto acervo de peças folclóricas, fotografias, indumentárias e obras de arte popular, funcionando como um centro de pesquisa, educação e memória”, destacou.

Josealdo Tonholo afirmou ainda que “cinquentenário e mais vivo que nunca, mas pedindo socorro, como tudo que se relaciona à cultura no Brasil. Teimoso como toda gente alagoana, o Museu Théo Brandão clama por um restauro, aguardado há um bom tempo [que esperamos vir com recursos do Programa PAC]. Que venha o restauro, que venha a nova expografia, pois é o Museu que nós enxergamos e nos reconhecemos. Não é à toa que ele é a Casa da Gente Alagoana”, finalizou.

O Dia do Folclore é celebrado internacionalmente no dia 22 de agosto. Na mesma data, no ano de 1846, a palavra “folklore” (em inglês) foi inventada.

O autor do termo foi o escritor inglês William John Thoms, que fez a junção de “folk” (povo, popular) com “lore” (cultura, saber) para definir os fenômenos culturais típicos das culturas populares tradicionais de cada nação.