Roteiro cultural

Yerma: obra de García Lorca chega a Maceió e retrata a dor de uma mulher obcecada pelo desejo da maternidade

Espetáculo escrito em 1934 é adaptado pelo Centro de Pesquisas Cênicas e apresentado em cinco sessões em agosto por alunos do curso de teatro

Por Assessoria 11/08/2025 10h59
Yerma: obra de García Lorca chega a Maceió e retrata a dor de uma mulher obcecada pelo desejo da maternidade
A história trata sobre vida de um casal que segue, segundo as tradições de sua comunidade, as prescrições cotidianas do casamento - Foto: Divulgação

Escrita em 1934, e apresentada pela primeira vez no mesmo ano, Yerma é uma obra popular de caráter trágico, explorando a dor de uma mulher que vive obcecada pelo desejo de ser mãe num ambiente rural patriarcal. O espetáculo chega a Maceió, numa adaptação do Centro de Pesquisas Cênicas (CEPEC), em cinco sessões, que acontecem nos dias 15, 16 e 17 de agosto, para a conclusão da turma do nível Avançado da escola alagoana de teatro.

A história trata sobre vida de um casal que segue, segundo as tradições de sua comunidade, as prescrições cotidianas do casamento – o homem empenha-se no trabalho junto ao gado e no cuidado com a terra, a mulher cuida da casa e do bem-estar do marido. Yerma deseja, como única condição de felicidade, ter um filho; no entanto, o tempo passa, a gravidez não vem e o desejo de outrora vai dando lugar à frustração.

“Ela se vê presa entre a secura de seu corpo, a indiferença do marido e a pressão social por maternidade – até que sua frustração atinge um ponto irreversível. A peça expõe, em tom íntimo, temas como infertilidade, honra, opressão feminina e o peso da tradição”, explica o diretor do espetáculo Claudemir Santos.

Claudemir Santos traz ao palco uma Yerma potencializada, mostrando o vazio que Lorca retrata – na terra, no corpo, na alma – ressoa profundamente com questões contemporâneas: autonomia corporal, pressões de gênero e a construção da identidade feminina. “Estamos lidando com um público acima de 14 anos, formado por intelectuais, artistas e profissionais de comunicação e filosofia. Eles se conectam com textos densos e interpretações que unem poesia, pensamento e sensorialidade. Yerma foi escolhida por seu apelo universal e pela urgência de ressignificar essa tragédia sob uma lente contemporânea”, acrescentou o diretor.

Um dos grandes diferenciais da montagem é onde será apresentada com uma proximidade radical: em uma sala fechada, o público vivencia a respiração dos atores; cada tremor no palco pode ser sentido no peito de quem assiste.

Além disso, a estética da “seca” como presença sensorial, vem com o figurino, terra sob os pés, iluminação âmbar contínua — tudo dialoga com a aridez, a infertilidade e o calor seco da alma de Yerma. Um teatro visceral, que fala ao corpo e à emoção, evocando o realismo poético enquanto rompe a quarta parede.

Imersão profunda nos personagens

No palco, nove alunos dão vida a personagens criados por García Lorca. Yerma será vivida pela aluna/ atriz Clara Lima. “Interpretá-la tem sido um grande desafio, a personagem passa por estados emocionais muito intensos, o desejo, a frustração e a raiva, que exigem o estudo e a compreensão do que a leva a esses sentimentos em cada uma de suas cenas”, descreveu.

Já Ahyas será João, marido de Yerma, um homem maduro, focado em sua honra e moral perante a sociedade acima de tudo, mais até do que a vida e a relação com sua esposa. “Interpretar esse personagem é desafio prazeroso enquanto ator. É um homem bruto, hora agressivo, insensível, gélido, apático, duro, inseguro, desconfiado e seco, o que me transporta a aprender mais sobre atuação pra dar conta de dar vida a ele como ele merece. Yerma significa ‘seca’, mas a real sequidão dessa história está no coração e mente de seu esposo, que dentro de tudo que falei, ainda esconde um segredo místico de família que deixa todos de boca aberta”, completou o aluno/ator.

O trabalho é fruto de uma imersão profunda, que teve início há seis meses, explorando peso, fluxo e energia no corpo dos atores. “Isso cria uma física da seca, do cansaço, da tensão interna. Para voz dinâmica, aplicamos técnica com atenção à velocidade, intenção e entonação, mantendo o sentimento, sem perder a poética do texto. Focos ainda em ações realísticas, com o uso de adereços que simboliza atividades simples, ancorando a cena na vida cotidiana”, disse o diretor, reforçando que a cenografia minimalista - apenas dois bancos e um chão de terra no espaço alternativo - reforçam a imersão, com público a poucos centímetros de cada suspiro e cada gota de suor cênico.

Para os alunos/atores, foi um processo de aprendizado que ajudou a compreender em grupo, os objetivos do que foi escrito pelo autor da obra. “Fomos analisando juntos cena por cena e aprofundando o estudo de cada personagem. Esses momentos foram fundamentais para criar uma base sólida de entendimento coletivo sobre a peça e garantir que todos estivéssemos contando a mesma história. Depois disso, partimos para os ensaios práticos, com foco no corpo, na voz e nas relações entre os personagens em cena. Cada etapa contribui para que a montagem ganhe forma e profundidade”, pontuou o diretor.

“Sou apaixonado por aprender, me via toda aula e ensaio fascinado, principalmente por aprender a mesclar minha performance através das técnicas de Stanislavski e Laban, cujo nosso professor e diretor trouxe com maestria. É incrível aprender com ele que sim, atuar é dar vida e emoção, mas antes de tudo a técnica, o preparo, o estudo e a pesquisa. Após as aulas, começamos a estudar o texto juntos, de forma coletiva, discutindo cena por cena, objetivo por objetivo, vozes, intenções... Claudemir em poucos ensaios já marcou praticamente todo o espetáculo e agora nessa reta final é focar em fazer cinco sessões incríveis para nosso público e finalizar o ciclo de formação no teatro com chave de ouro no nosso CEPEC”, retratou Ahyas.

Espetáculo visceral

Com a ideia de fazer uma montagem que leva o espectador à imersão desde o primeiro momento, criando uma atmosfera que culmina em um clímax impactante — a tragédia é inevitável, mas a catarse é completa, o espetáculo traz ainda uma reflexão contemporânea. “Apesar de ambientada na Andaluzia dos anos 30, Yerma reflete debates atuais sobre o corpo da mulher, a imposição social e a identidade feminina — convidados a questionarem e sentirem junto com a protagonista”, finalizou Claudemir Santos.

Enquanto o grande dia da estreia não chega, os atores vivem a expectativa e o desejo de um espetáculo que marque a vida de todo público e do teatro alagoano. “O público pode esperar um espetáculo sensível e forte. Yerma fala sobre o desejo, a angústia, a frustração, a dor e a raiva de uma mulher que se sente inútil diante da sociedade em que vive. A ideia é que aqueles que assistam se sintam tocados e se sensibilizem pela dor da personagem”, disse Clara Lima.

“Impacto, reflexão, fúria, anseio, paixão, cultura, raiva, tristeza e muita arte. Yerma é uma história profunda que nos entrelaça e apaixona por mostrar de forma crua, seca, a opressão as mulheres, as regras ditas a seu corpo e o quanto a sequidão da moral e bons costumes podem envenenar”, acrescentou Ahyas.

Serviço:

Yerma - Livre adaptação da obra de Federico Garcia Lorca.

Sessões: 15 de agosto, às 20h / 16 e 17 de agosto, às 17h e 19h30.

Local: Espaço CEPEC (Rua Basileu Mendes, N 165, Pajuçara).

Classificação: 14 anos.

Ingressos limitados: R$60,00 (inteira) / R$30,00 (meia)

Promocional: TODOS PAGAM MEIA-ENTRADA!

Você pode adquirir com o elenco, no Sympla (link na Bio) ou na recepção da escola.

Curso livre de Teatro CEPEC - Turma nível Avançado

Elenco: Ahyas, Anna Cláudia Almeida, Clara Lima, Kevin Vieira, Laís Miranda, Laura Maravilha, Léo Eira, Rob d Lyra e Yasmin Vitória.

Ficha Técnica

▪️Direção, Cenografia, Iluminação e designer gráfico: Claudemir Santos

▪️Produção: Aldine de Souza

▪️Auxiliar de Produção: Alícia Costa

▪️Figurino: Elenco;

▪️Maquiagem: Alexandre Nascimento

▪️Videomaker: Victor Soares

▪️Assessoria de Comunicacão: Anna Cláudia Almeida

▪️Fotografia: Thiago Lima