Roteiro cultural
Curta alagoano “O Mapa em que Estão os Meus Pés” é selecionado para o 53º Festival de Cinema de Gramado
Obra de estreia do diretor é uma das 12 selecionadas entre os mais de mil curtas inscritos

O curta-metragem alagoano “O Mapa em que Estão os Meus Pés”, de Luciano Pedro Jr., fará sua estreia mundial no 53º Festival de Cinema de Gramado. O filme é uma produção da La Ursa Cinematográfica, em coprodução com a Fumaça Azul Neon. Uma das competições cinematográficas mais tradicionais da América Latina, o evento realiza sua edição 2025 entre 13 e 23 de agosto, na serra gaúcha.
A lista de filmes selecionados foi divulgada nesta quinta-feira (17). Segundo a organização, mais de mil curtas de todas as regiões do país se inscreveram para a categoria, e apenas 12 obras foram escolhidas. Para Luciano Pedro Jr., que estreia na direção com o trabalho, a seleção representa um sonho.
“É de fato acreditar que estamos num lugar de honra e de acreditar que esse filme tem algo muito especial, e que precisa de uma grande janela de cinema para ser exibido ao público. Só tenho a agradecer à curadoria por abraçar o filme e ter dado essa possibilidade de a gente nascer da melhor forma possível”, diz o diretor.
“O Mapa em que Estão os Meus Pés” foi inteiramente rodado em película Super-8, com filmagens nas cidades de Barra de Santo Antônio, Porto de Pedras e Maceió, no litoral alagoano. A escolha pela bitola, segundo o diretor, se deu pela sua relação com a fotografia analógica. Luciano também é responsável pela direção de fotografia do filme.
“Sempre fui apaixonado por película, e já fotografava em película. Tirei muitas fotos por alguns anos. Saber que um processo químico gera imagens, e que os grãos vão se movendo para compor isso também, definitivamente era algo que me fascinava. Depois fiquei pensando até na própria magia de fazer o filme e no levantamento de hipóteses. O filme é inspirado numa viagem feita pelo meu bisavô, um retorno a sua cidade natal. Então eu criei uma fabulação em que eu encontro uma caixa com os rolos de super-8 filmados por ele e nunca revelados. O super-8 é um modo de filmar muito pessoal, artesanal, caseiro e um tipo de filme que é basicamente um arquivo de memória familiar ou de registro da sociedade”, conta Luciano.
INSPIRAÇÃO PESSOAL
O enredo do curta resgata uma história improvável vivida por Sebastião, bisavô de Luciano, um pescador e agricultor que passou a vida inteira numa vila de pescadores em Porto de Pedras. Lá ele formou família com sua esposa Edna e mais de 10 filhos. No filme, Sebastião é interpretado pelo ator alagoano Igor de Araújo (“O Agente Secreto”), responsável pela voz que conduz a narrativa.
Segundo o diretor, o coração de Sebastião sempre permaneceu conectado com o lugar onde ele nasceu. “Ele sempre quis voltar lá. Então, com 84 anos, ele sumiu por seis dias. Procuramos ele em todos os lugares possíveis, inclusive na cidade natal dele, mas não o achamos. No sexto dia, à noite, lembro até hoje, depois de uma reza na casa de minha avó, recebemos a ligação informando que ele tinha sido achado por um grupo de crianças. Ele tinha sido achado lá, no lugar que ele sempre se sentiu pertencente. Sempre perguntávamos como ele havia feito esse trajeto de 127km, e ele sempre ria e desconversava”, relata Luciano.
Sebastião acabou falecendo três meses e sete dias depois, e morreu com esse segredo guardado. “Ficou uma lacuna na história da minha família. Cada pessoa tinha sua versão. Eu cresci pensando qual seria a minha possibilidade dessa história, quando pensei que tinha algo a criar através disso, comecei a roteirizar, e aí decidi fazer um filme sobre, principalmente porque achei lindo o fato de um senhor da idade dele perseguir o próprio desejo do coração de retornar ao seu lugar de origem, ao seu lugar no mundo”, diz ele.
A PRIMAVERA DO CINEMA ALAGOANO
A participação em Gramado também evidencia o momento de visibilidade do cinema alagoano, reconhecido pela crítica como uma das cenas mais expressivas do audiovisual brasileiro contemporâneo.
“Apenas no último ano tivemos projetos alagoanos no Festival de Cannes, no Festival de Tiradentes, no Olhar de Cinema, no Prêmio Grande Otelo do Cinema Brasileiro, no Cine PE, no Cine Ceará, no Curta Cinema, no Kinoforum, entre muitos outros. Nossa produção têm marcado presença e garantido prêmios nas principais janelas do mercado nacional e internacional. Isso é reflexo dos editais e políticas de fomento que mudaram a realidade do nosso setor nos últimos anos. Atualmente Alagoas possui 19 longa-metragens, 3 séries, 9 telefilmes e mais de 100 curtas-metragens em produção”, celebra o produtor Rafhael Barbosa.
“O Mapa em que Estão os Meus Pés” foi realizado com recursos do Prêmio Pedro da Rocha, da secretaria de estado da cultura e economia criativa (Secult/AL). O filme também contou com recursos da Lei Paulo Gustavo para sua finalização, além de apoio da prefeitura de Barro de Santo Antônio e da prefeitura de Porto de Pedras.
SOBRE O DIRETOR
Luciano Pedro Jr. é um ator, diretor e roteirista alagoano, de 27 anos, que se formou em Teatro pela Universidade Federal de Pernambuco. Tem trabalhado no audiovisual há 6 anos, atuando e colaborando com cineastas como Renata Pinheiro, Caio Dornelas, Rafhael Barbosa, Ulisses Arthur, Pedro Severien, Cacá Diegues, Marcelo Lordello, entre outros. Agora, roteirizando e dirigindo, prepara-se para estreia em Gramado do seu primeiro curta “O Mapa em que Estão os Meus Pés” e também para a distribuição em festivais do seu outro curta “Brincadeira de Criança”. No momento, o diretor alagoano encontra-se roteirizando seu próximo trabalho, o curta “Meu lado esquerdo”, uma animação sobre uma mulher que teve AVC e seu processo de recuperação.
SOBRE A PRODUTORA
Criada em 2015 pelos realizadores alagoanos Rafhael Barbosa e Felipe Guimarães, a La Ursa Cinematográfica vem ampliando sua atuação nos últimos anos, desbravando caminhos junto com o movimento do cinema alagoano contemporâneo. Além da produção de curtas-metragens premiados internacionalmente, festivais e atividades formativas, atualmente a produtora realiza três longas-metragens em produção, além de projetos em desenvolvimento. O longa-metragem desenvolvimento “Filhas do Mangue”, de Stella Carneiro, foi selecionado pelo programa Factory no 78º Festival de Cannes em 2025.
Entre os principais lançamentos está o curta-metragem “A Barca”, de Nilton Resende. A produção inspirada na obra da escritora Lygia Fagundes Telles participou de mais de 100 festivais em 20 países, entre eles a Mostra de Tiradentes e Festival de Havana, além de ser um dos finalistas do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. A Barca venceu 39 prêmios, e foi licenciado para o Canal Brasil e para a plataforma Itaú Cultural Play.
Em 2021, a La Ursa lançou o documentário “Cavalo”, seu primeiro longa-metragem, no circuito de cinemas, em parceria com a Descoloniza Filmes. Mesmo diante do período pandêmico, o lançamento teve uma boa repercussão junto ao público e imprensa especializada, estreando em 25 salas das principais capitais brasileiras. O filme teve lançamento simultâneo nas plataformas digitais e foi licenciado para o Canal Brasil.
Os projetos da La Ursa atualmente em produção são os longas de ficção “Olhe para Mim” (em finalização) e a animação “Utopia” (em produção), ambos dirigidos por Rafhael Barbosa; “Ed. Lygia” (em pré-produção), de Nilton Resende, além de “FIlhas do Mangue”, de Stella Carneiro.
SINOPSE
Sebastião decide plantar seu coração no lugar onde nasceu.
FICHA TÉCNICA
Escrito e dirigido por Luciano Pedro Jr.
Com:
Igor de Araújo
Direção de produção:
Rafhael Barbosa
Produção:
Renata Czarny
Luciano Pedro Jr.
Assistência de produção:
Albert Victor Damasceno
Assistência de direção:
Jasmelino de Paiva
Direção de fotografia:
Luciano Pedro Jr.
Direção de arte:
Gabriela Araújo
Assistência de arte:
Lucas Cardoso
Som:
Leo Bulhões
Mixagem e desenho de som:
Lucas Coelho
Montagem e edição de som:
Matheus Farias, edt.
Correção de cor:
Octávio Lemos
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