Roteiro cultural
Obra de Jorge Amado, 'Dona Flor e Seus Dois Maridos' ganha versão alagoana
Espetáculo promete bom humor e cenas apimentadas no palco do Teatro de Arena
Uma das mais famosas histórias de Jorge Amado, retratada em filmes e minisséries na televisão brasileira, será encenada neste final de semana em Maceió. A versão alagoana de ‘Dona Flor e Seus Dois Maridos’ promete esquentar, neste domingo (3), o palco do Teatro de Arena Sérgio Cardoso, com cenas ousadas e muito bom humor, em duas sessões, às 18h e as 20h30. Os ingressos custam R$ 50,00 e R$ 25,00 (inteira e meia) e podem ser adquiridos na plataforma Sympla.
Dirigida por Aldine de Souza e com preparação corporal, iluminação e cenografia de Claudemir Santos, a peça é ambientada na Bahia dos anos 40. Dona Flor, sedutora professora de culinária em Salvador, é uma jovem alegre, apaixonada e doce, que vive um casamento conturbado com o devasso malandro Vadinho. Ele só quer saber de farras e jogatina nas boates da cidade. A vida de abusos e noites em claro acaba por acarretar sua morte precoce, deixando Dona Flor viúva. Ela logo se casa novamente, com o recatado e pacífico farmacêutico Teodoro.
Com saudades do antigo marido - que apesar dos defeitos era um ótimo amante - acaba causando o retorno dele em espírito, que só ela vê. Isso deixa Flor em dúvida sobre o que fazer com os dois maridos que passam a dividir o seu leito. A partir daí, ela sente-se dividida entre Vadinho e Teodoro.
A montagem é uma realização do Curso Livre do Centro de Pesquisas Cênicas (CEPEC) e conta com onze atores alunos da turma iniciante do curso, que teve início em fevereiro deste ano, além da participação de um aluno da turma avançado. A distribuição de personagens e os ensaios começaram no último mês de junho, uma preparação intensa para contar ao público a história que já conquistou os palcos do Brasil em outras produções.
A diretora sempre se destaca no cenário local com a escolha dos enredos que leva aos palcos alagoanos e explica o porquê trazer uma obra de Jorge Amado. “Sempre foi um desejo e é um grande desafio trazer aos palcos os temas que ele abordou em suas obras. Espetacularizar temas tão delicados e instigantes foi a minha maior justificativa. Como somos um curso livre, senti que essa turma seria capaz de traduzir os textos tão marcantes de Jorge Amado em ações cênicas singulares e necessárias”, comenta Aldine de Souza.
O processo de construção do espetáculo com uma turma de iniciantes é sempre desafiador, mas de forma leve, as cenas foram ganhando vida e estão dentro da expectativa da direção. “Tratando-se de um nível Iniciante, o processo foi leve e bem compreensível. Mesmo o texto requerendo muito dos corpos do elenco, conseguimos ir crescendo gradativamente, evoluindo nossos personagens e, principalmente, focando nas características de cada um, que possui uma função diferente na história. Com a preparação corporal e todo direcionamento durante o processo, os alunos estão alcançando o objetivo e o espetáculo só evolui a cada passagem”, finalizou.
O espetáculo tem a adaptação de Ana Cecília da Silva e conta com coreografia de Camille Costa, aderecista Elisa Gomes, maquiagem de Alexandre Nascimento, e produção executiva de Fernanda Esprícigo, videomaker Victor Soares e fotografia e designer Romeo de Luca.
Uma mulher dividida entre dois amores
Romance sempre cai no gosto popular e com a história de Dona Flor não seria diferente. Uma viúva que que casa novamente, mas não consegue esquecer o ex-marido, com quem teve um amor carnal, tórrido, mas que deixou marcas.
Para dar vida à Dona Flor, a jornalista Anna Cláudia Almeida conta que se debruçou nos filmes para construir sua personagem. Apesar da sensualidade e descrições de nudez, típicas dos romances de Jorge Amado, ela conta que um dos aspectos relevantes na história é o amor sem limites de Flor por Vadinho, que se transforma num relacionamento tóxico e submissão.
“Flor se apaixona pelo homem boêmio que é entregue aos prazeres carnais e às jogatinas. Ele também se apaixona pela professora, mas não consegue se desvencilhar de quem verdadeiramente é — uma pessoa desregrada e inconsequente —, causando profundo sofrimento à esposa. Teodoro chega em sua vida com um amor estável, mas apesar disso ela não consegue ser feliz, porque precisa dos dois e vive um conflito interno. Nós mulheres buscamos esse amor completo: o fogo da cama e a tranquilidade na vida. Ela se completa com ambos”, disse.
Querino Neto é estudante de teatro, advogado e dará vida ao malandro Vadinho. Ele conta que desde que recebeu o personagem vem se dedicando aos estudos para a construção de corpo e voz que levará par cena. Segundo ele, um grande desafio para quem está iniciando na arte.
“Para construir Vadinho, recorri ao arquétipo brasileiro de homem malandro e mulherengo, que explora em excesso sua própria sexualidade e se entrega aos vícios. Vadinho é a representação do homem que, apesar de abusivo, é carismático, tornando difícil a identificação do seu comportamento opressor — algo que, infelizmente, é muito comum nos relacionamentos amorosos. Um papel desafiador, sem dúvida, mas prazeroso porque ele é meu oposto e isso torna o processo ainda mais especial”, disse.
Para Alexandre Cavalcante que vai interpretar Teodoro, o personagem tem grande relevância na história por conseguir transformar a vida de Flor. “Ele é um homem nobre que faz Flor conhecer o que é o amor terno, respeitoso e pode se sentir valorizada. Ele pode prover a segurança, o carinho e o cuidado que ela sempre quis ter, diferente de Vadinho que a fez sofrer. Na história vai ser possível visualizar esses aspectos em várias cenas e falas”, acrescentou.
Conheça todos os personagens
Rozilda é mãe de Flor e Rosália será interpretada por Alícia Costa. É uma mulher autoritária e ranzinza, louca pra casar as filhas com partidos ricos da cidade. Finge ser da alta sociedade mas não passa de uma mulher endividada. Não tem papas na língua nem respeito pela individualidade das filhas.
Rosália é irmã de Flor e filha de Rozilda e será interpretada por Clara Lima. É uma mulher apaixonada, que se desprende da mão autoritária da mãe, a partir de sua paixão. Entretanto, não se vê limitada ao seu casamento e ajuda Flor, sua irmã, a se enxergar além da viuvez.
Dona Lita é tia de Flor e no espetáculo ganha vida com a aluna Laís Góis. Mulher de olhar afiado que ama a vida e diz o que pensa, o que a faz muitas vezes entrar em atrito com sua irmã, Rozilda. Apesar das diferenças, Lita ama sua família e quer o melhor para suas sobrinhas.
Norminha é amiga de Flor e será interpretada por Layane Oliveira. É uma mulher astuta, sem rótulos, casada porém um tanto libertina que apoia amiga em qualquer escolha que ela tome. A personagem está ao lado de Dona Flor nos momentos mais importantes da história e traz leveza e risadas diante dos desafios que a personagem enfrente no desenrolar do espetáculo.
Dona Dinorá é amiga de Flor, uma mulher precipitada, egocêntrica e escandalosa e que ama uma fofoca; está sempre disposta a adicionar seu ponto de vista na conversa. Diz o que pensa, e o que ouviu sem muitas vezes pensar no sentimento alheio, sempre usando de seu sarcasmo para lidar com o mundo. A personagem será interpretada por Giovanna Ellen.
Mirandão é amigo de Vadinho e será interpretado por George Ferreira. É um senhor divertido, astuto, que assim como o malandrão que se torna marido de Flor, tenta se dar bem na vida. Eles estão sempre juntos nos melhores e piores momentos.
A prostituta Dionísia de Oxossi se torna amiga e comadre de Dona Flor. Thaiara Juvino viverá a personagem, uma mulher autêntica, livre e de santo forte. Mãe de primeira viagem, tem um recém-nascido que se torna afilhado de Flor por conta de um desentendimento que foi vinculado ao Vadinho.
Dona Aurora é viúva do Major Pergenttino, uma mulher forte, elegante, da alta sociedade, que gosta de reunir os amigos para grandes festas. Mesmo com a morte do esposo não perdeu a sua alegria e nem o seu brilho. E é justamente em um dos eventos que realiza que Flor e Vadinho se conhecem e se apaixonam. Francilene Farias dará vida à personagem.
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