"Tudo que eu tinha deixei lá não trouxe não, deixei o meu roçado plantadinho de feijão. Deixei a minha mãe com o meu pai e meus irmãos e com a rosinha eu deixei meu coração. Por isso, eu vou voltar pra lá, não posso mais ficar. Rosinha ficou lá em Propriá...". É desse jeito, com a letra da música do mestre Luiz Gonzaga e seu parceiro Guio de Morais, que os paulojacintenses e os visitantes irão festejar no próximo sábado (29), a 71ª edição do Baile da Chita, em Paulo Jacinto, interior de Alagoas.

E essa grande festa acontece a exatamente  daqui a oito dias, no Clube Recreativo Paulo Jacintense, às 23h. 6º Patrimônio Imaterial Histórico e Cultural de Alagoas, o Baile da Chita é o mais antigo do estado e está sendo aguardado por toda a população por sua tradição, sua história cultural e sociopolítico. A realização do Baile da Chita é de fundamental importância, pois estará dando prosseguimento à cultura que foi o ponta pé inicial da emancipação da cidade de Paulo Jacinto.

Dércio Canuto, da comissão organizadora do baile em 2023, falou do engajamento da população e sobretudo ressaltou o trabalho dos membros da comissão que não mediram esforços para realização do evento. ''Você é paulojacintense, conhece nossa cultura e sabe a importância desse baile. Não é à toa que em 2015 ele se tornou Patrimônio Imaterial de Alagoas, então não tinha como deixar está data passar em branco, são 71 anos com essa festa belíssima que movimenta nossa economia, nossa cidade. O baile que nos tornou independentes politicamente. E saber que toda a população, os visitantes estão apoiando colaborando é muito gratificante. Ressalto que a comissão que está envolvida este ano vem com muita garra para levar o melhor ao público. Queremos confraternizar e nos emocionar juntos com vocês'', pontuou.

Pauta de diversas reportagens especiais na mídia local e regional, temas de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), o famoso baile terá como atrações a Orquestra Golden Time e a cantora Kátia Di Tróia. ''Como todo mundo sabe, o Baile da Chita é um evento familiar, um evento de encontro de gerações e a ideia é justamente essa levar o melhor dos músicos, das músicas que caracterizem a tradição. Por isso, é muito bem pensando na hora de contratar as atrações. Já passaram no palco do Clube Recreativo ou da antiga Lagense – local que o baile já foi realizado por anos, grandes nomes da música e grandes grupos – como o LCD, Time Machine e etc... para não fugimos da nossa história'', ressalta Canuto.

De acordo com Dércio, a festa está garantida das 23h às 7h da manhã. E que um dos momentos mais importantes do baile, a coroação da rainha também irá acontecer. ''A rainha este ano foi escolhida por meio de uma votação popular. E a estudante Mirelly Rayane, 15 anos foi a escolhida, uma jovem muito bonita que irá representar todas as outras até o próximo baile'', comentou.

E por falar em rainha, a estudante Myrelle Raynne de Lima Silva, 15 anos, filha de Renicacia Moreira da Silva e Marcelo de Lima Silva, foi eleita através de uma enquete em um perfil no Instagram, disse que se sente muito honrada em representar as mulheres da cidade. ''Me sinto muito lisonjeada de representar a minha terrinha nesta tradição que é o Baile da Chita, que vem dando continuidade há 71 anos de história. Minha participação nesse concurso foi uma experiência muito importante e única, toda minha gratidão aos que votaram em mim e me apoiaram para que tudo fosse possível. Tudo que estou vivendo está sendo mágico! Um sonho de criança que vem se realizando, estou muito feliz e com certeza irá ficar marcado em minha vida'', comentou a jovem.

A mãe da majestade não escondeu a emoção sem saber que sua filha foi a escolhida pela maioria dos internautas. ''Esse sempre foi o sonho dela. Eu como mãe, assim como e a irmã dela sempre incentivamos a essa realização desde quando ela se inscreveu. No dia da votação estávamos muito nervosas, o coração a mil. Chorei bastante em ver a alegria dela. Agora, estamos nos preparativos para no dia 29 sair tudo perfeito. Confesso que vou ficar mais emocionada ainda no dia ao assistir ela sendo coroada'', disse Renicacia Moreira.

ORIGEM DO BAILE

A história do baile está diretamente liga a história do município, uma vez que é um ano mais antigo do que a própria cidade, justamente porque o baile foi organizado com o propósito de angariar fundos (recursos) para emancipar a cidade que pertencia a Quebrangulo.

O Baile da Chita surgiu após várias reuniões entre Josefa Barbosa (a idealizadora), José Aurino de Barros (In memória), e outros membros da comunidade, que discutiam o que fazer para pagar o advogado e emancipar o povoado que pertencia a Quebrangulo.

Evento agrega outras tradições históricas

Nos preparativos para o primeiro baile, Josefa teve a ideia de colocar uma rainha, uma vez que o baile seria realizado após os festejos juninos, no mês de julho. A rainha era eleita através dos fundos adquiridos, a que mais arrecadasse dinheiro na venda de rifas e bingos seria a eleita. Todos esses acontecimentos se deram por volta da década de 50.

Como uma forma de dá continuidade a tradição, a escolha da rainha ainda acontece, com algumas modificações. Como não se trata de arrecadação de dinheiro para emancipação, atualmente a escolha da rainha é feita com votos dos diretores ou associados do clube. Para participar deste momento a jovem tem que obedecer a alguns requisitos como, por exemplo, ter idade entre 15 e 18 anos, ser natural da cidade ou morar na cidade.

MÚSICA

A musicalidade também se tornou importante. Na época, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira estavam fazendo sucesso com a composição Propriá, que carinhosamente ficou conhecida como Rosinha de Propriá pelos paulojacintenses, por se tornar a chamada de abertura do evento. A época, Luiz Gonzaga estava de passagem pela região Nordeste e ao saber que sua música era considerada a chamada de abertura do baile, em agradecimento e por convite do senhor José Aurino de Barros, prefeito nomeado em 1953, fez questão de realizar um show na cidade já emancipada. Até hoje a música Propriá, ainda é tocada pelas bandas e orquestras convidadas, na abertura do baile, e inclusive ganhou uma paródia cantava por artistas locais e a filha da idealizadora da festa a cantora alagoana Leureny Barros, que foi uma das primeiras rainhas.

Em entrevista a reportagem da Tribuna em 2021, Leureny Barbosa, disse que a tradição é a cultura mais importante para o município. ''É o evento mais importante da nossa cidade, tanto que se tornou patrimônio do estado. Minha mãe foi idealizadora, realizou alguns dos bailes. O evento é indiscutivelmente histórico e importante para o estado. Sou suspeita em falar, fui rainha em 1961, minha irmã foi à primeira rainha. Sobreviver esses anos todos é inexplicável, mas, é um encantamento que envolve a cidade, muitas meninas sonham com esse momento. Eu sempre falo que a rainha deveria ter uma função social na cidade, aproveitar esse momento, ir às escolas, despertar a curiosidade nas crianças e adolescentes. Existe um envolvimento de toda a cidade para esse momento. Talvez o amor com que se foi feito anos atrás pode estar ligado a essa sobrevivência''.

ECONOMIA

No período da festa, a movimentação na cidade aumenta. Gerando mais renda para o comércio local. Nessa época as costureiras da cidade fatura, pois muita gente quer ir seguindo a tradição e acabam em busca das profissionais para fazer suas roupas com o tecido chita.

Quem também fatura com o baile são os pequenos comerciantes e ambulantes que acabam vendendo seus produtos nos arredores do clube.

GRATUITO

Para acompanhar a festa privada, a prefeitura da cidade realiza uma festa gratuita com apresentações culturais e shows com grandes nomes da música regional, o evento que era conhecido como Festa da Chitinha comemora 31 anos de história. Antigamente era realizado no dia seguinte ao baile, mas com as mudanças a festa ficou maior passando a ser três dias.

A Festa da Chita (aberta ao público) vai acontecer do dia 28 ao dia 30 de julho. Este ano, se apresentaram no palco montado na Praça de Eventos Zefinha Barbosa, as bandas:

Sexta (28) - Michele Andrade , Samya maia e Maciel Valente

Sábado (29) - Jonas Esticado, Forró das antigas e artistas da terra (Rodolpho Pegação, Fábio Costa e Vera Santos)

Domingo (30) - Baby som , Luan Estilizado e Edson Gomes

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