Roteiro cultural

Solenidade de abertura do Circuito Penedo de Cinema é realizada sob forte emoção, banhada de música e memória

Centenas de pessoas acompanharam a programação de abertura, que contou com a apresentação da Orquestra Monte Pio dos Artistas, a exibição do longa ‘Os Primeiros Soldados’, debates e shows musicais

Por Assessoria 15/11/2022 16h17
Solenidade de abertura do Circuito Penedo de Cinema é realizada sob forte emoção, banhada de música e memória
Abertura Circuito de Cinema - Foto: Paula Fernandes

A solenidade de abertura da 12ª edição do Circuito Penedo de Cinema aconteceu, nesta segunda-feira (14), com muita emoção, saudosismo, debate e música, com a apresentação da Orquestra Monte Pio dos Artistas, sob regência do maestro Júlio Catarina, e a presença do diretor do longa-metragem nacional “Os Primeiros Soldados”, Rodrigo de Oliveira. O festival, que foi realizado no Centro de Convenções e Eventos Zeca Peixoto, finalmente pôde voltar ao seu antigo lar de movimento e respirar bons ares após o período de reforma do local, que só foi reinaugurado em 2021.

Com integrantes adolescentes e jovens adultos, a orquestra embalou as mais de 200 pessoas que estavam na plateia. Músicas como “Dancing Queen”, “Welcome to the jungle” e algumas marchinhas de carnaval, emocionaram a plateia e a fizeram dançar. Na plateia também estavam artistas como Francisco Gaspar e Marcélia Cartaxo.



A atriz Marcélia Cartaxo apresenta no Circuito Penedo o filme “A mãe”, de Cristiano Burlan. Crédito: Paula Fernandes

Durante sua fala na solenidade, Sérgio Onofre, coordenador do Circuito, contou que estava feliz e enfatizou a grande dimensão que é o Circuito Penedo de Cinema. “É um prazer muito grande estar neste espaço sagrado, neste templo do cinema, que já foi e voltará a ser um dos principais palcos de exibição de cinema do país”, disse Onofre, que, emocionado, também contou um pouco sobre a trajetória do festival e a importância de sua continuidade.

“Quando começamos essa atividade, 2011, a gente buscava intensificar, pretendia recolocar primeiro na cena do audiovisual nacional um espaço aberto para o povo, que já era nos anos 70/80 e que hoje, graças a esses parceiros, continuamos. A cultura, a educação, a ciência foram os três principais alvos desse governo atual, mas sobrevivemos. Estamos aqui para celebrar, enterrar definitivamente o passado e apontar para o futuro de novidades”, concluiu.

Banhado pelo Rio São Francisco, à beira da magia da história penedense, o Circuito começou a caminhar exclusivamente como Festival de Cinema Brasileiro, entre as décadas de 70 e 80, com a participação de diversos cineastas e artistas locais e nacionais. O antigo Cine São Francisco, como antes era intitulado e onde agora funciona o centro de convenções, foi o local que sediou, na época, as oito edições do festival.

E é por isso que o evento é considerado histórico e está nesse lugar de resistência. Além de ter passado por modificações significativas, também enfrentou o contexto da ditadura militar e seus malefícios, como a censura. No festival, durante esses anos de vida já foram exibidos filmes como “Bye bye Brasil”, de Cacá Diegues (6ª Edição), “Prova de Fogo”, de Marcos Altberg e “Pele de Bicho”, de Pedro Camargo.

Momento de discursos


A frente de honra da solenidade foi composta por Sérgio Onofre, Josealdo Tonholo, reitor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), a representante da Secretaria de Estado de Cultura (Secult-AL), Teresa Machado; Ronaldo Lopes, prefeito de Penedo, Aliny Costa, secretária de Cultura de Penedo, o deputado federal Paulão, o secretário de Turismo de Penedo, Jair Galvão, o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Maciel Oliveira e a Vilma Araújo, representante do Sebrae Alagoas.

Após Sérgio Onofre discursar, foi a vez de Maciel Oliveira. Ele saudou a todos os presentes e parceiros do evento, e revelou que estava sendo satisfatório participar do Circuito.

“É com grande satisfação que nós participamos mais um ano do Circuito. Consideramos que o que fazemos não é patrocínio, é um investimento, porque não existe só lembrar do Rio São Francisco sem lembrar do povo, e não lembraremos do povo se também não lembrarmos da arte e da cultura desse povo”, disse ele.

Aliny Costa revelou que sentiu uma satisfação imensa por fazer parte mais uma vez do evento. “Eu fico muito grata por participar de tudo isso. Penedo respira cultura, respira arte, como também o turismo. A gente vem investindo cada vez mais nesses aspectos para dar tudo de bom para o nosso povo, para nossa terra”, disse.

Logo em seguida, foi a vez de Jair Galvão. Ele pontuou a movimentação econômica e a questão turística que o Circuito estimula na cidade. “Penedo é uma cidade incrível, uma cidade que é a capital da economia criativa do Nordeste. Eu fico encantado com as oportunidades que nós temos aqui em Penedo para o turismo, mas, sobretudo, por sua cultura e por sua própria história”.

Após o discurso do deputado, o prefeito de Penedo, Ronaldo Lopes, tomou a vez de falar e, em uma pequena pausa antes de falar, expressou em seu olhar um mergulho no fundo da memória. “O festival iniciou em 1975 e eu tive a oportunidade de acompanhar todos os festivais que aconteceram aqui em Penedo, no Cine São Francisco. Foram oito edições. Fui testemunha do sucesso que era para Alagoas os festivais que aconteceram aqui”, contou o prefeito, que parecia vivenciar novamente o passado sob uma nova forma.

“Lutamos muito para que pudéssemos conseguir restaurar esse cinema. Esta é a primeira vez que o festival volta ao seu antigo lugar, o lugar que ele nunca devia ter saído. Hoje a história recomeça”, disse ele.

Josealdo Tonholo falou logo depois. O reitor da Ufal incentivou a busca ainda mais pela valorização do Circuito e da cultura em si. “Temos a necessidade de resgatar Penedo como uma cidade turística. De um lado a qualidade ambiental e do outro a nossa gente e seus costumes, e nisso entra o festival de cinema. A gente não tem que economizar energia não, temos que investir mesmo em cultura e em cinema”.

Uma cidade criativa


Depois que todas as autoridades falaram, a representante da Prefeitura de Santos (SP), Raquel Pelegrini, foi convidada a subir ao palco. Ela trouxe consigo um convênio de cooperação mútua entre a Prefeitura de Penedo e a Prefeitura de Santos, que é considerada uma das maiores cidades criativas da América Latina.

O objetivo da assinatura é trocar conhecimentos e obter apoio para também tornar Penedo, em um futuro não tão distante, candidata a ser a cidade do audiovisual na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e para ser considerada, de fato, uma cidade criativa.

Para Raquel, é uma honra trabalhar em parceria com Penedo neste momento em que a cultura e o cinema começam a respirar um pouco melhor. “Santos é uma cidade criativa desde 2015 e a gente precisa de outra representação do lado de cá do Nordeste. Essa troca de informações e saberes é muito importante porque Penedo é uma cidade que movimenta muita gente, movimenta uma cadeira produtiva”, afirmou.

Assinaram o termo o prefeito de Penedo, Ronaldo Lopes, a representante da prefeitura de Santos, Raquel Pelegrini, a secretária de cultura de Penedo, Aliny Costa, o secretário de turismo, Jair Galvão e o reitor da Ufal, Josealdo Tonholo.

‘Os Primeiros Soldados’


Na ocasião, logo depois da assinatura do termo, houve a exibição do trailer do longa-metragem nacional “Os Primeiros Soldados”, lançado este ano. Em seguida, subiu ao palco o diretor e realizador do filme, Rodrigo de Oliveira. Mediada por Rosana Dias, a conversa ocorreu em forma de entrevista sobre o processo criativo do filme, a concepção dos personagens, os desafios, como se deu a criação do roteiro, a questão social e política da epidemia da Aids no Brasil, sobre a importância de uma das atrizes ser travesti, entre outros assuntos.

Em uma de suas falas, o diretor pontuou bem a ativa participação histórica e social de travestis e mulheres transexuais na época da epidemia e atualmente.

“Elas estão na ponta e na liderança desse movimento desde sempre. A gente não teria no Brasil avanços na questão do HIV/Aids se não fosse essa comunidade afrontosa, que infelizmente segue sendo morta muito mais cedo que a população brasileira por homofobia, transfobia”, disse ele.

O filme retrata um grupo de jovens LGBTQIA+ de Vitória (ES) celebrando a virada de 1983 sem a ideia do que está avançando no país. Um dos jovens acaba percebendo que algo muito terrível começa a aparecer em seu corpo. O desespero diante da falta de informação e do futuro incerto aproxima outros jovens também doentes. Eles tentam sobreviver à primeira onda da epidemia de Aids.

Para Rodrigo, a obra audiovisual seria um alerta e um filme de prevenção à transmissão do vírus, como também lança um olhar atento à possibilidade de erradicar essa transmissão.

“A Aids mata mais de 11 mil pessoas por ano no Brasil e a gente tinha a sensação de que isso não acontece mais, que é coisa do passado. E o filme é sobre isso: retomar o começo da epidemia no Brasil para justamente iluminar um pouco o que é que a gente pode fazer hoje para erradicar, de ter uma possibilidade real de erradicar, a transmissão da Aids”, concluiu.

Após a conversa, houve a exibição do longa-metragem. A programação foi encerrada com os shows musicais do 3º Festival Alagoano de Rock, que ocorreu na Praça 12 de Abril. Participaram do encontro os artistas Wado, Lambertos, Janaina Melo, Morcegos e a banda Invisible Control.