Política

O que é um ferro de solda, ferramenta usada por Bolsonaro para violar tornozeleira eletrônica, segundo PF

Ex-presidente foi preso preventivamente na manhã deste sábado (22) após um pedido da Polícia Federal depois da convocação para uma vigília feita pelo filho, os senador Flávio Bolsonaro

Por G1 23/11/2025 16h45
O que é um ferro de solda, ferramenta usada por Bolsonaro para violar tornozeleira eletrônica, segundo PF
Modelo de ferro de solda - Foto: (imagem ilustrativa). — Foto: Divulgação

O ex-presidente Jair Bolsonaro teve prisão preventiva decretada neste sábado (22), depois de tentar violar a tornozeleira eletrônica com um ferro de solda. A atitude foi assumida pelo ex-presidente depois que o Centro de Monitoração da Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal recebeu um alerta de que havia algo grave com a tornozeleira de Jair Bolsonaro.

🔍O ferro de solda é uma ferramenta usada para unir peças metálicas por meio de calor. É um item comum em bancadas de eletrônicos, oficinas e muito utilizado para pequenos reparos em casa.

A ferramenta funciona a partir de uma resistência interna que transforma energia elétrica em altas temperaturas, suficientes para derreter a liga metálica conhecida como solda, de acordo com as normas técnicas previstas na ABNT (NBR NM 60335-2-45), baseada na IEC 60335-2-45, uma norma da Comissão Internacional Eletrônica).

A ponta aquecida, geralmente feita de cobre, pode chegar a mais de 400 °C. Quando encosta na solda, derrete o material e permite que ele se espalhe entre dois componentes. Ao esfriar, essa solda solidifica e cria uma conexão firme, garantindo contato elétrico e resistência mecânica.

O equipamento é mais comumente usado para montar e consertar placas eletrônicas, fixar fios e reparar aparelhos domésticos.

🔍A liga metálica utilizada com o ferro de solda é, tradicionalmente, uma mistura de estanho e chumbo, que cria um material de preenchimento para unir componentes eletrônicos ou peças metálicas.

Entenda a prisão

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi preso em casa na manhã deste sábado (22) e levado à sede da Polícia Federal em Brasília. Ele vai passar por uma audiência com um juiz neste domingo (23).

🔎A audiência de custódia serve para que um juiz verifique se a prisão foi realizada dentro da legalidade e se houve respeito aos direitos fundamentais do detido. O procedimento é obrigatório, mesmo em prisões ordenadas pelo STF.

A prisão é preventiva, sem prazo determinado, e foi solicitada pela PF ao Supremo Tribunal Federal (STF). A Procuradoria-Geral da República (PGR) concordou com a prisão.

Em vídeo feito durante a inspeção da tornozeleira, o ex-presidente é questionado por uma agente sobre avarias na tornozeleira. A cena se passou na casa de Bolsonaro, durante a madrugada.

No vídeo, aparecem a perna de Bolsonaro com a tornozeleira e as marcas de violação. A agente mostra o equipamento para a câmera e pergunta ao ex-presidente o que tinha ocorrido. Bolsonaro respondeu que tinha usado ferro de solda no aparelho.

Agente: Equipamento 85916-5. O senhor usou alguma coisa para queimar isso aqui?

Jair Bolsonaro: Meti um ferro quente.

Agente: Ferro quente?Bolsonaro: Curiosidade.

Agente: Que ferro foi? Ferro de passar?

Bolsonaro: Não. Ferro de solda. De soldar.

Agente: Ferro de solda, aquele que tem uma ponta?

Bolsonaro: Sim.

Agente: Está certo. O senhor tentou puxar a pulseira também?

Bolsonaro: Não, não, não, não.

Agente: Não?

Bolsonaro: Não rompi a pulseira não. Fica tranquila.

Agente: Tá. A pulseira aparentemente está intacta, mas o case foi violado. Que horas o senhor começou a fazer isso, senhor Jair?

Bolsonaro: Ah, já no final da tarde.

Agente: Final da tarde? Está certo. Essa tampa chegou a soltar ou não?

Bolsonaro: Não. Não soltou não. Está tudo em paz. Tudo em paz aqui.

Tornozeleira passará por perícia da PF


Mesmo com o relatório da Secretaria de Administração Penitenciária do DF, a tornozeleira avariada por Bolsonaro seguiu para perícia no Instituto Nacional de Criminalística, da PF, que tem o prazo legal de até dez dias para entregar um relatório.

O prazo deve ser menor porque esse tipo de perícia é considerado simples.

🔎A parte do equipamento que foi queimada com um ferro de solda, segundo um profissional que acompanha o caso, é o "coração" da tornozeleira, onde ficam os sensores de localização e integridade e toda a parte eletrônica do aparelho.

Tanto essa parte como a pulseira, que prende o equipamento ao tornozelo, têm sensores que disparam se forem danificados, segundo o profissional.

Cronologia

Relembre a cronologia dos movimentos que resultaram na prisão de Bolsonaro na Superintendência da PF em Brasília:

Por volta das 17h de sexta-feira (21)

Senador Flávio Bolsonaro (PL-SP) convoca, pelas redes sociais, uma vigília próxima à casa do ex-presidente Jair Bolsonaro, no bairro Jardim Botânico, em Brasília. O convite previa que a vigília começaria às 19h deste sábado (22).

Por volta das 23h de sexta-feira (21)

A Polícia Federal pede ao Supremo Tribunal Federal (STF) a prisão preventiva de Bolsonaro com base na convocação feita por Flávio.

A PF afirmou haver "a possibilidade concreta de que a vigília convocada ganhe grande dimensão, com a concentração de centenas de adeptos do ex-presidente nas imediações de sua residência, estendendo-se por muitos dias, de forma semelhante às manifestações estimuladas pela organização criminosa nas imediações de instalações militares, especialmente no final do ano de 2022".

Para a PF, havia risco de a vigília dificultar que Bolsonaro cumprisse a pena de prisão no processo da tentativa de golpe, que está próximo de ser encerrado.

"Tal fato [a vigília] tem o condão de gerar um grave dano à ordem pública, podendo inclusive inviabilizar o cumprimento de eventuais medidas em decorrência do trânsito em julgado da ação Penal 2.668/DF [da trama golpista], ou exigir o indesejável emprego de medidas coercitivas pelas forças de segurança pública para o seu cumprimento, colocando em risco a segurança de moradores do condomínio de residência e imediações, apoiadores, policiais designados para a missão e até mesmo o condenado e seus familiares", afirmou a PF.

0h08 de sábado (22)

Em paralelo ao pedido da PF, o Centro Integrado de Monitoração Eletrônica (Cime), ligado à Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal, registra a "ocorrência de violação" da tornozeleira eletrônica usada por Bolsonaro.

O Cime informou nesta manhã, em nota, que não fornece detalhes sobre casos concretos. Alexandre de Moraes registrou a comunicação do órgão.

"O Centro de Integração de Monitoração Integrada do Distrito Federal comunicou a esta Suprema Corte a ocorrência de violação do equipamento de monitoramento eletrônico do réu Jair Messias Bolsonaro, às 0h08min do dia 22/11/2025. A informação constata a intenção do condenado de romper a tornozeleira eletrônica para garantir êxito em sua fuga, facilitada pela confusão causada pela manifestação convocada por seu filho", escreveu o ministro.

1h25 de sábado (22)

Acionado por Moraes, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, assina um parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) informando que não se opunha à prisão preventiva solicitada pela PF.

"Diante da urgência e gravidade dos novos fatos apresentados, a Procuradoria-Geral da República não se opõe à providência indicada pela Autoridade Policial", afirmou Gonet ao Supremo.

Ordem de prisão

Moraes decreta a prisão preventiva do ex-presidente por ver risco de fuga nos fatos novos — a vigília convocada por Flávio e a tentativa de violação da tornozeleira eletrônica. A decisão é tomada na madrugada, após o ministro consultar a PGR — não há um horário expresso no documento.

"Não bastassem os gravíssimos indícios da eventual tentativa de fuga do réu Jair Messias Bolsonaro acima mencionados, é importante destacar que o corréu Alexandre Ramagem, a sua aliada política Carla Zambelli, ambos condenados por esta Suprema Corte; e o filho do réu, Eduardo Nantes Bolsonaro, denunciado pela Procuradoria-Geral da República no Supremo Tribunal Federal, também se valeram da estratégia de evasão do território nacional, com objetivo de se furtar à aplicação da lei penal", afirmou Moraes na decisão.

O ministro determina que a prisão seja cumprida na manhã deste sábado, "com todo o respeito à dignidade do ex-presidente [...], sem a utilização de algemas e sem qualquer exposição midiática", e que Bolsonaro fique recolhido na Superintendência da Polícia Federal no Distrito Federal.

Por volta das 6h de sábado (22)

A PF vai até o condomínio do ex-presidente e cumpre a ordem de prisão. Bolsonaro é levado em um comboio de veículos para a Superintendência da PF, na Asa Sul, em Brasília.