Política

Marluce Caldas no STJ impacta na eleição em AL

No cenário de momento, o caminho do Senado está livre para Renan Calheiros e Arthur Lira

Por Emanuelle Vanderlei - Tribuna Independente 12/07/2025 10h00
Marluce Caldas no STJ  impacta na eleição em AL
Acordo com o prefeito JHC para escolha de Marluce Caldas é não sair candidato ao governo, onde enfrentaria Renan Filho, nem ao Senado Federal - Foto: Reprodução

Reunindo em Brasília as principais lideranças políticas de Alagoas, incluindo adversários históricos, o presidente Lula (PT) oficializou, na noite da última quinta-feira (10), a indicação da procuradora de Justiça do Ministério Público Estadual (MPE-AL), Marluce Caldas para o Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A escolha de Lula causa impactos políticos e eleitorais no estado, sobretudo porque houve um acordo envolvendo nomes como do prefeito JHC (PL), do ex-presidente da Câmara Federal, deputado Arthur Lira (PP), e da família Calheiros, que tem como os principais expoentes, o senador Renan Calheiros e o hoje ministro dos Transportes, Renan Filho.

O que está em jogo em 2026, caso o acordo seja cumprido, é que JHC não se lance candidato ao governo estadual, nem ao Senado, afastando assim uma disputa entre Renan Filho e JHC, e uma espécie de caminho aberto para o quinto mandato de Renan Calheiros ao Senado. Ainda nesse contexto, as tratativas nacionais apontam para que o prefeito de Maceió deixe o Partido Liberal (PL), se filie ao PSB, e seja base de Lula na capital alagoana.

Vale lembrar que Rodrigo Cunha (Podemos) abriu mão de quatro anos de mandato no Senado para a mãe de JHC, Eudócia Caldas (PL), se tornando vice-prefeito da capital. A expectativa até aqui era que ele assumisse o comando do Poder Executivo nos dois últimos anos de mandato, mas os planos mudaram, ao menos neste momento.

Em suas redes sociais, Renan Filho publicou uma foto ao lado de Marluce na sexta-feira (11), congratulando-a. “Parabenizo a procuradora Marluce Caldas pela indicação de seu nome pelo presidente Lula a assumir a vaga de ministra do Superior Tribunal de Justiça. Estou certo de que a primeira mulher alagoana a assumir a função conduzirá seu trabalho com o mesmo afinco e dedicação que marcaram sua carreira no Ministério Público Estadual de Alagoas”, postou o ministro, que posou ao lado de Marluce e JHC.

O deputado federal Arthur Lira também se pronunciou publicamente. Em material enviado à imprensa, ele também posa ao lado de Marluce na foto e destaca a importância da indicação. “A indicação de Marluce Caldas ao Superior Tribunal de Justiça é uma conquista para todas as mulheres brasileiras e um motivo de imenso orgulho para Alagoas, que vê uma de suas filhas ocupar com total mérito uma das mais altas Cortes do país. Corte que já tem uma representação alagoana destacada, por meio do trabalho do competente ministro Humberto Martins”, destacou Lira. 

Ainda segundo o parlamentar, “com a indicação de Marluce ganham o STJ e o país, com uma futura magistrada combativa e atuante, que sempre foi um exemplo de dedicação à causa do bom e justo direito”, concluiu o parlamentar.

Em Brasília, os aliados de Arthur Lira garantem que o acordo para que Marluce Caldas assuma o cargo de ministra no STJ é um facilitador para os planos do ex-presidente da Câmara, que não tem escondido de ninguém que será candidato ao Senado em 2026. Lembrando que o senador Renan Calheiros tem se mostrado contra a “marchar” com Lira em um “grande pacto” nas eleições do próximo ano.

REAÇÕES NA CÂMARA

Em Maceió, os aliados de JHC na Câmara Municipal estão de olho nas possíveis mudanças de planos do prefeito, mas as opiniões estão divididas. O vereador Leonardo Dias (PL), foi taxativo ao dizer que não fica do mesmo lado que os possíveis novos aliados do prefeito. “Estou acompanhando as notícias e irei aguardar as movimentações políticas para definir meus passos, mas que jamais apoiarei Lula e Calheiros.”

Por outro lado, o novo líder de JHC na casa, Kelmann Vieira, vê as possibilidades com mais tranquilidade. “Eu, agora mais ainda, após ser escolhido como líder do governo na Câmara Municipal, faço parte do grupo do prefeito JHC, que vem fazendo um excelente trabalho e transformando a cara da nossa capital com ações jamais vistas na nossa história. Qualquer movimento político que eu venha a fazer ou apoiar para 2026 depende exatamente do direcionamento e da decisão que o prefeito assumir. Não tenho participado ou sabido oficialmente de qualquer negociação ou acordo. Até o posicionamento oficial do prefeito JHC, não temos como prever o que virá, mas repito: ele terá meu apoio em qualquer decisão que tomar”.

Teca Nelma (PT), que tem feito oposição a JHC, não respondeu sobre a possibilidade de JHC se tornar aliado do seu partido. Mas destacou o trabalho de Marluce Caldas e comemorou a indicação.

“Fiquei muito feliz com a indicação da Dra. Marluce Caldas para o Superior Tribunal de Justiça (STJ). Desde 1986, Marluce já realizava um trabalho brilhante no Ministério Público de Alagoas. Sempre foi uma defensora incansável das mulheres, da infância e da juventude. Também teve destaque nacional ao representar o Ministério Público nas discussões técnicas que deram origem à Lei Seca, que salva milhares de vidas no trânsito todos os dias. Tenho certeza de que a Justiça brasileira tem muito a ganhar com a presença de uma alagoana forte, experiente e comprometida como ministra do STJ”.

Já o vereador Rui Palmeira (PSD), que também tem atuado combativamente como oposição, preferiu não comentar sobre as especulações políticas nesse quesito.

O QUE SE DIZ EM BRASÍLIA

A indicação de Marluce para o STJ teve o apoio explícito do senador Renan Calheiros e do ministro Renan Filho.

Inicialmente, chegou a ser cogitada uma chapa que contemplasse os três e isolasse o deputado Arthur Lira, com Renan Filho para o governo alagoano; e Renan Calheiros e JHC para as duas vagas de Senado.

Desde o fim de 2024, o presidente Lula tentava uma solução para o impasse. A tendência, de momento, é que Lira dispute uma das vagas ao Senado, mas sem estar no palanque da família Calheiros, de quem é rival.

Mesmo em palanques separados, a avaliação no Palácio do Planalto é que a solução diminui a tensão envolvendo um aliado histórico de Lula – o senador Renan – e o deputado Arthur Lira, que é o relator do projeto de isenção de imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.

Nas últimas semanas, Arthur Lira chegou a pedir ao presidente Lula um pouco mais de tempo para que houvesse uma decisão sobre Marluce Caldas ser escolhida para a vaga de ministra do STJ.

Além do poder que acumulou durante os quatro anos como presidente da Câmara, Lira tinha como arma poderosa para pressionar Lula em relação ao STJ: o projeto que aumenta a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, do qual é relator, e que está avançando na Casa. *Com agências

Com o “acordo”, chances de disputa em 2026 são reduzidas

Ter Marcluce Caldas, procuradora do Ministério Público Estadual de Alagoas (MPE-AL), como provável nova ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ), passou sim por um grande acordo. A avaliação é a da cientista política e professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Luciana Santana.

“Essa indicação nunca é uma indicação neutra, ou só pelo mérito da da ministra. Acho que combina as duas coisas, tem o mérito da ministra, principalmente por ter uma questão simbólica também, que é a questão de ser mulher. É uma mulher, tem mérito, mas essa decisão final não seria tomada se não fosse por um alinhamento político que com certeza aconteceu. Mas seria, da minha parte, um erro chegar aqui falar com certeza aconteceu esse tipo de acordo. Com certeza algum acordo aconteceu, mas vai virar público daqui um tempo não é agora os momentos eleitorais vão dar as respostas que a gente gostaria de ter sobre essa situação e aí vai ficar claro sobre os acordos se houve o cumprimento dos acordos e se todos os atores políticos envolvidos estão contemplados ali com o que vai vir a acontecer”, analisa Luciana Santana em contato com a reportagem da Tribuna Independente.

A cientista política observa, no entanto, que há sinais. “Você tem em fotos, políticos alagoanos juntos nessa assinatura da indicação. Então você ter Arthur Lira, o Renan Filho, e o JHC juntos no mesmo espaço, nesse mesmo evento, não é algo ocasional. Então algo está por vir, a gente só precisa entender o que e como isso vai ser apresentado na eleição de 2026. Então com certeza tem um impacto, o impacto a gente vai ver durante ali as indicações dos nomes da própria campanha eleitoral de 2026”.

O suposto acordo reunindo todos esses atores poderia reduzir o acirramento das eleições. Luciana avalia com cautela.

“Se esse cenário Calheiros/Lira/Caldas se confirmar, é a chance de ter uma eleição mais apaziguada no sentido de acomodação das forças políticas locais. Então é possível que isso efetivamente seja. Se é positivo ou negativo, acho difícil a gente mensurar isso porque são as mesmas pessoas e os mesmos atores políticos que estão hoje com o poder”.

Segundo a cientista política, mesmo nesse cenário provavelmente haveria oposição. “A gente também não pode desconsiderar que tem outras formas de oposição, a gente não está colocando nesse cálculo aí outros atores mais ligados aí ou alinhados ao ex-presidente que hoje estão no campo mais à direita da direita, que podem surgir como candidatos na oposição. Então a gente tem outras situações que podem vir a acontecer. A gente precisa entender um pouco o jogo mais para frente, se vai ter mudanças partidárias se vai ter realinhamento político em Alagoas para dizer se vai ter ou não uma oposição acirrada para eleição de 2026”.

Santana afirma que, do ponto de vista teórico, haver oposição traz ganhos ao processo. “A gente poderia dizer que, não em Alagoas, mas no contexto geral, na ciência política, o quea gente defende é que oposições são saudáveis para as competições políticas, porque funcionam como controles sobre aqueles políticos que estão disputando o processo, o processo eleitoral. Então a ausência de oposições deixa o contexto, o cenário eleitoral mais empobrecido de discursos, realmente desse controle. Então não eu estou falando de Alagoas, estou falando que, de uma forma geral, em contextos em que você não tenha oposições, as discussões, o debate, enfim, ele se torna mais empobrecido”.