Política
PSDB vai do protagonismo ao quase ostracismo no país
Legenda vive dias de fragilidade e discute possibilidades de sobreviver no cenário político

Dando sinais de fragilidade e discutindo as possibilidades de sobrevivência através da fusão nacional com outros partidos, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) vive hoje um capítulo difícil em sua história. Desde a redemocratização do país, em 1988, poucos partidos têm uma história tão relevante quanto o PSDB. Em apenas 36 anos de existência, passou oito na presidência da República, com Fernando Henrique Cardoso.
Em Alagoas, o PSDB também já elegeu Teotonio Viela Filho como governador do Estado por dois mandatos (de 2007 a 2014), e não faz tanto tempo assim, depois dele só tivemos dois outros governadores. Ainda mais recentemente, o partido esteve na Prefeitura de Maceió, quando venceu duas eleições seguidas com Rui Palmeira (atualmente no PSD), último prefeito antes do atual JHC (PL).
Em Brasília, Alagoas teve representante tucano até pouco tempo atrás, lembrando que Rodrigo Cunha foi eleito senador pelo PSDB em 2022, depois migrou para o Podemos. Atualmente, Cunha é o vice-prefeito de Maceió.
Em 2018, o partido elegeu Tereza Nelma (atualmente no PSD) como deputada federal, e Eduardo Canuto e Pedro Vilela na suplência, chegando esse último a assumir a cadeira de JHC, que se ausentou para assumir a prefeitura de Maceió em 2021. Em 2014 foram eleitos em Alagoas quatro deputados estaduais e um federal pela legenda.
Desse tempo pra cá, o gigante se apequenou. No Estado, não há mandatos de senadores, deputados estaduais, nem federais. Não se vê espaço ocupado pelo PSDB nem sequer nas Câmaras Municipais das maiores cidades do Estado. Aquele que já foi protagonista, se resume agora a uma única prefeitura conquistada em 2024, a pequena Quebrangulo, com Manoel Tenório.
Nacionalmente o cenário é parecido. Ainda há vida, mas considerando o histórico ocupa um lugar bem menos destacado. De acordo com o próprio site do partido, são apenas 3 governadores e 2 senadores. Na Câmara, 14 deputados federais (até 2014, eles eram a terceira maior bancada).
LEGENDA SE APEQUENOU
A cientista política Luciana Santana entende que há vários fatores que contribuíram para esse encolhimento. “Eu acho que tem questão de conjuntura, erros de condução e posicionamento. O posicionamento do PSDB na eleição de 2014 [em que Aécio Neves perdeu para Dilma Roussef no 2º turno] inicia um movimento de degradação muito forte do partido, com contestação de resultado e depois não sabendo se portar como oposição responsável. Então acho que isso tudo ali inicia. No caso de Alagoas tem a ver com mudanças do próprio cenário político e de novas forças políticas regionais, locais, ganhando espaço, como é o caso do PP”.
Observando o passado recente, Luciana entende que em Alagoas o que pesou mais, além do posicionamento nacional, foram fatores locais. “Em Alagoas, ele acabou sofrendo dessa situação no qual o partido emergiu em termos de cenário nacional, mas também pela própria conjuntura local, do sistema partidário local de acomodação de novas forças políticas. Quando o PP se torna efetivamente uma força política relevante e isso altera a situação do PSDB, um partido que praticamente acaba dentro do Estado com muito pouco protagonismo”.
Na leitura da cientista política, por um período de 20 anos o PSDB protagonizou a política nacional. “O PSDB vive esse dilema em todo o país, uma conjuntura nacional bastante complexa, principalmente por ter sido um partido que teve um grande protagonismo, tanto na construção do plano real quanto depois dos dois mandatos que realmente Fernando Henrique teve. E, claro, foi um ator protagonista do sistema político brasileiro de 1994 até 2014. Em 2018 é o momento onde ele perde efetivamente o seu espaço como protagonista nesse cenário de disputas políticas, de disputas eleitorais”.
Um fato curioso é que entre 1994 e 2014, a principal disputa da presidência da República era concentrada entre PSDB e PT. Isso mudou com a chegada de Jair Bolsonaro (PL), em 2018, que depois de quatro vitórias seguidas do PT, interrompeu o ciclo e ocupou a cadeira por um mandato.
Em fevereiro deste ano, houve uma reunião com presidentes estaduais do partido para debater esse cenário. O tom do encontro foi defender a ideia de o PSDB liderar uma frente nacional de oposição aos que eles chamaram de “extremos”. O presidente do diretório nacional acredita na possibilidade de recriar a história. “Não é só mudar, só juntar, a gente precisa de um programa muito consistente, que precisa convencer as pessoas que esse momento novo será um momento parecido com o que aconteceu em 1988, na criação do PSDB, com líderes excepcionais”, afirmou.
Na prática, com o tamanho reduzido e as regras eleitorais cada vez mais difíceis para partidos pequenos, vários deles tem adotado medidas como criar federações (algo temporário por no mínimo quatro anos), incorporação de outros partidos menores, ou até mesmo a fusão, criando novas legendas. Luciana Santana explica o fenômeno. “Os partidos têm se acomodado ao longo do tempo, então nessa resiliência partidária, o que tem acontecido com os partidos que têm sofrido algum tipo de problema, seja político, conjuntural, estrutural ou político, eles têm buscado outras formas de sobrevivência. A principal alternativa aí é justamente a fusão partidária, então isso é uma alternativa importante. Ainda não consigo vislumbrar hoje um partido renascido a cinzas para o caso do PSDB, acho que a situação dele é muito complexa, diante tanto das mudanças nas relações quanto das questões políticas que envolvem o sistema político brasileiro”.
O PSDB está em uma federação com o Cidadania, mas já foi declarado publicamente pelo presidente do Cidadania que não há interesse de continuar. Enquanto isso, a tese de uma incorporação ou fusão do PSDB com outros partidos está cada vez mais forte.
Já aconteceu a fusão entre DEM e PSL, criando o União Brasil, e do PTB com o Patriota, que hora são o PRD. Houve também a incorporação de alguns partidos por outros, mas quando isso acontece, o partido incorporado perde a identidade, é o verdadeiro desaparecimento da legenda. Desde o ano passado, surgiram possibilidades de uma negociação com o PSD, o MDB, Republicanos, Podemos e Solidariedade. Mas há idas e vindas, avanços e recuos. Em fevereiro o presidente da legenda, Marconi Perillo, declarou que não vai deixar o PSDB desaparecer, o que pode atrapalhar os planos de incorporações de alguns deles.
SEM ÊXITO
A reportagem da Tribuna Independente tentou, por diversas oportunidades, contato com o ex-governador Teotonio Vilela Filho, bem como com o deputado federal Pedro Vilela, que já foram expoentes do PSDB em Alagoas, mas até o fechamento desta edição, não houve qualquer sinalização de respostas.
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