Política
Setor químico contribui com 0,8% do PIB de Alagoas
Economista diz ainda que Braskem representa apenas 3% da arrecadação estadual
O economista Elias Fragoso diz que essa tese, defendida por políticos alagoanos durante os anos 70, de que a indústria química, que estava se instalando na restinga do Pontal da Barra, seria a redenção de Alagoas, do ponto de vista econômico, “é uma grande piada de mal gosto”. “Aliás, eu nem vou chamar isto de piada porque isso é tão criminoso que nem vou chamar isso de piada”, acrescentou.
“Para se ter uma ideia (isso todo que estou relatando encontra-se no livro), levou-se 50 anos, praticamente, até que a gente publicou, há dois anos atrás, na primeira edição dessa coletânea, uma série de artigos que contrariam essa tese, de que o setor químico do Estado seria a redenção econômica de Alagoas – que substituiria a cana de açúcar, que criar-se-ia mais de 350 indústrias derivadas do polo cloro-químico – quando tudo já se mostrava ao contrário isso, ao longe de décadas, e não apenas depois que aconteceu o desastre do afundamento do solo”, argumenta Fragoso.
“Isso tudo tem uma razão muito simples, quando se começou a falar no polo cloro-químico como a redenção do Estado, que a indústria química iria substituir a indústria da cana-de-açúcar, que criaria centenas de indústrias derivadas a partir da Salgema, quando a empresa estava se instalando na região do Pontal da Barra, não passa de uma grande lorota”, acrescenta o economista.
Segundo ele, o que aconteceu de fato, quando da chegada da Salgema na capital alagoana, as cabeças pensantes de Alagoas – pesquisadores, lideranças do movimento ecológico e políticos de esquerda –, já apontavam os riscos que a instalação da indústria química poderia provocar à cidade, aos moradores e ao meio ambiente.
“No primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), ainda na época do regime militar, havia uma definição de que o polo cloro-químico seria localizado em Salvador, já havia essa definição, pelo menos seis anos antes da implantação da Salgema em Maceió. No segundo PND essa definição é reafirmada. Indo-se mais longo, dizia que Alagoas e Sergipe (essa informação é interessante, até porque pouca gente conhece) iria desenvolver atividades complementares ao polo de Camaçari, na Bahia. Então, até aquele momento, colocava Alagoas apenas como um fornecedor de matéria prima para a indústria química baiana. Essa é que é a grande verdade, a grande realidade”, relatou Fragoso.
“A gente fica até se perguntando se isso aconteceu em Alagoas de forma maldosa, por essa turma que conduzia os destinos do Estado durante tanto tempo, ou se foi puro desconhecimento desse fato. Na realidade, a montanha que eles idealizaram, que eles sonharam, um sonho dourado que nunca existiu, pariu um rato”, enfatizou o economista. “O complexo cloro-químico de Alagoas todo (Braskem mais as demais indústrias químicas que aqui existem) representam apenas e tão somente 0,8% do PIB [Produto Interno Bruto] de Alagoas”, completou.
De acordo com dados oficiais, em 2023, o total de receitas brutas realizadas em Alagoas foi de R$ 20.927.817.222,51. Com isso, o PIB de Alagoas cresceu 7,70%, em relação ao ano anterior, o que colocou o Estado em destaque nas economias do Nordeste.
RIQUEZA
“Então, o setor químico em Alagoas representa apenas um traço na geração de riqueza, emprego e renda em Alagoas. O próprio ex-secretário da Fazenda do Estado, declarou em algum momento, na mídia local, que a Braskem recolhia apenas R$ 80 milhões. Se isto for verdade, e eu não tenho por que achar que não é, vinda a informação da boca de um secretário da Fazenda, esse montante não representa 3% da receita própria do Estado de Alagoas. Se juntar com as transferências constitucionais do governo federal para Alagoas, essa contribuição da Braskem vai virar quase um traço. Tudo isso foi escondido da população durante muito e muitos anos, até que a gente jogou na cara da sociedade e das autoridades do Estado essa verdade, com a primeira edição desse livro”, destacou Fragoso.
Ele também destacou outro fato marcante (esse “jocoso”): “Depois de muitos anos de enganação e lorotas, quando eles perceberam que não tinham mais como sustentar essa mentira, essa safadeza, de que o polo cloro-químico seria a redenção econômica de Alagoas, que nunca foi e nunca será, algum teve a ideia de transformar o polo químico em polo petroquímico. Com isso, levaram quatro anos discutindo, reunindo, pesquisando, viajando e especulando como seria esse polo petroquímico (que já existia na Bahia), até que um belo dia, numa reunião, alguém perguntou, mas cadê o petróleo? Seria um polo petroquímico sem petróleo. Parece jocoso, tão terrivelmente jocoso, que fica difícil da gente acreditar, mas isso está relatado, consta nos documentos. Quando alguém perguntou pelo petróleo foi que eles decidiram consultar a Petrobrás, e a empresa fez exatamente esse questionamento, como vocês querem fazer um polo petroquímico com que petróleo?”.
“E aí o polo petroquímico feneceu, como feneceu o polo cloro-químico. Essa é a história trágica, terrível, criminosa do nosso famoso polo cloro-químico que nunca existiu. É sobre isso que a gente relata na primeira edição. Na segunda edição a gente dá continuidade à tragédia do caso Braskem até o episódio da mina 18 [localizada no bairro do Mutange e que entrou em colapso no final do ano passado]”, concluiu.
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