Política

Decisão do Google complica eleições

Em Alagoas, advogado eleitoral e marqueteiros que atuam em agências avaliam ausência do impulsionamento com preocupação

Por Emanuelle Vanderlei - colaboradora / Tribuna Independente 27/04/2024 10h17 - Atualizado em 27/04/2024 10h22
Decisão do Google complica eleições
Google antecipou a sua definição sobre o impulsionamento devido à nova regra do TSE que entra em vigor em maio - Foto: Reprodução

Para não se adequar à atualização das regras estabelecidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Google anunciou na última semana, que vai proibir impulsionamento eleitoral para as eleições municipais deste ano. A medida também vale para o YouTube, plataforma que foi comprada pela big tech em 2006, e hoje funciona como uma das suas subsidiárias. Segundo a empresa, que se pronunciou através de nota divulgada na imprensa nacional, a regra começa a valer agora em maio, mas o diálogo com as autoridades continua aberto.

“As eleições são importantes para o Google e, ao longo dos últimos anos, temos trabalhado incansavelmente para lançar novos produtos e serviços para apoiar candidatos e eleitores. Para as eleições brasileiras deste ano, vamos atualizar nossa política de conteúdo político do Google Ads para não mais permitir a veiculação de anúncios políticos no país. Essa atualização acontecerá em maio tendo em vista a entrada em vigor das resoluções eleitorais para 2024. Temos o compromisso global de apoiar a integridade das eleições e continuaremos a dialogar com autoridades em relação a este assunto”.

Para o advogado eleitoral Gustavo Ferreira, a medida tomada pelo Google mostra que as exigências da Justiça Eleitoral são impossíveis de cumprir até o pleito municipal.

“A regulamentação por parte do TSE, do uso das plataformas digitais é necessária, evidentemente. O que preocupa é a exigência de manutenção em tempo real do conteúdo, valores, quem é responsável pelo pagamento do impulsionamento, e dos grupos populacionais que compõem a audiência da publicidade, ou seja, os perfis desses grupos populacionais. E aí permitir que haja uma ferramenta de consulta para poder pesquisar o resultado desse arquivo sobre os impulsionamentos. Isso foi fixado pelo TSE, uma série de discussões feitas em janeiro, aprovado em fevereiro. O que a Google alega é que às exigências do TSE são impossíveis de cumprir no tempo que se tem até as eleições. Na verdade, numa pesquisa que eu fiz, é que não é que seja tecnicamente possível. É que é excessivamente oneroso, pelo menos a informação é essa, para qualquer empresa pegar um programa de fácil esse tipo de controle. Então, diante do custo que é uma coisa que é considerada nas empresas, o Google achou por bem não fazer a divulgação desse material”, argumenta o advogado, em contato com a reportagem da Tribuna Independente.

A ponderação do jurista é sobre a dificuldade entre o mundo ideal pensado por que estabelece as regras, e o que é possível.

“Talvez seja necessária uma discussão mais aprofundada para termos as regras do TSE efetivamente cumpridas, mas sem que isso representasse uma inviabilidade, que eu acho que é o mais grave nesse tipo de propaganda. Porque entre o mundo real e o mundo ideal a gente tem muita tem uma distância grande, e aí o que o TSE pensa de um mundo ideal, dentro de regras, dentro de determinadas formações, pode não ser o que dê para fazer de fato no mundo real, considerando custo, levando consideração especificamente que essas regras da forma que foram aprovadas e divulgadas aconteceu tão somente em primeiro de março desse ano”, complementa.

RELEVÂNCIA

Para quem atua nas campanhas eleitorais, isso deve influenciar no processo desse ano. Caio Bruno, especialista em marketing político da Nova Agência, entende que o Google tem relevância.

“Evidente que uma decisão desse porte vinda de uma das maiores big techs do mundo causa certo impacto no marketing político-eleitoral e na alocação de recursos financeiros. A influência será mais nas grandes e médias cidades do que nas pequenas cujos candidatos não costumam investir em impulsionamento”. Ele entende que a mudança pesa mais para grandes cidades. “O veto do Google na prática não vai interferir na importância das redes sociais e da internet nas campanhas eleitorais já que quem impulsiona irá migrar para outras redes sociais como as da Meta [Facebook e Instagram], TikTok e outras”.

Proibição da big tech tem impacto direto nas pequenas campanhas

O impacto da decisão anunciada pelo Google atinge diretamente as pequenas campanhas eleitorais, que necessitam, durante o período, obter um alcance maior das propostas dos candidatos que concorrem tanto ao cargo de prefeito quanto de vereador. A avaliação é de Victor Avner, sócio da agência Labox.

“Vai prejudicar principalmente as pequenas campanhas, porque uma campanha pequena, você conseguia ter um alcance maior. Digamos, você pega um vereador de uma cidade do interior, que não tem acesso a uma [propaganda de] TV, por exemplo, porque a TV só é na capital, é importantíssimo ter YouTube. Então, isso vai prejudicar esse vereador da cidade interior, esse prefeito da cidade interior”, analisa Avner, em entrevista à reportagem da Tribuna Independente.

Para ele, as candidaturas maiores, sobretudo nas capitais, podem não sentir tanto a deliberação da big tech, pois existe a propaganda eleitoral gratuita.

“As candidaturas grandes, majoritárias, principalmente da capital, você não vê tanto. Porque na capital você tem TV, aqui em Alagoas, é um caso específico, na capital você tem TV. No interior do estado, inclusive Arapiraca que é a segunda maior cidade, você não tem TV. A TV que é transmitida em Arapiraca é a propaganda eleitoral de Maceió. Ter vídeos bem-produzidos, é preciso apoio do Google, então com certeza essas campanhas perdem. Tem um áudio visual de qualidade vai ficar restrito ao Instagram e Facebook”, reforça.

Para Victor Avner, grandes candidaturas, principalmente nas capitais, não sentirão a deliberação do Google (Foto: Arquivo pessoal)

De acordo com as pesquisas de Victor Avner, nem o uso liberado das principais mídias sociais é suficiente para suprir a ausência do YouTube, uma das plataformas oferecidas pelo Google.

“Com certeza o trabalho vai ser prejudicado. O Facebook é muito acessado ainda, mas YouTube é onde você praticamente pesquisa tudo hoje em dia. Então, assim, a pessoa quer saber como fazer qualquer coisa, ele vai no YouTube, porque às vezes a pessoa quer ver um vídeo daquilo. Isso é muito. A gente pesquisa hábitos de consumo, a gente pesquisa muito no YouTube. Então, se você não tem essa possibilidade de fazer um anúncio lá, com certeza você está sendo prejudicado”.

No entanto, ele considera acertadas as exigências do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

“Eu entendo que essas regras que são exigidas pelo TSE são válidas, porque é importante a gente saber de fato quem está pagando a publicidade, quem é o público atingido. Isso já é feito por outras empresas, como o grupo Meta que tem Facebook e Instagram. Ele já disponibiliza isso. Então, eu sei hoje quem está pagando uma publicidade, um anúncio eleitoral, feito no Facebook, feito no Instagram. Enfim, era importante que também fosse feito no Google, porque até para gente construir alguma estratégia, é necessário saber quem é que está financiando aquele material. Enfim, a gente tem esses dois lados da moeda aí. É ruim ter a ausência desse mecanismo, dessa forma, mas também ser pior ter e não saber quem está financiando”, finaliza o sócio da agência Labox.