Política

Abel Galindo contesta dados apresentados por Abelardo Nobre na CPI da Braskem

Estudioso e professor da Universidade Federal de Alagoas diz que o coordenador da Defesa Civil de Maceió agiu com desconhecimento durante seu depoimento em Brasília

Por Abel Galindo Marques / Engenheiro civil 23/03/2024 09h22
Abel Galindo contesta dados apresentados por Abelardo Nobre na CPI da Braskem
Professor Abel Galindo apresentou uma série de estudos sobre as áreas afetadas pela mineração da Braskem em Maceió - Foto: Sandro Lima / Arquivo

Um dos líderes da MUVB (Movimento Unificado das Vítimas da Braskem), Mauricio Sarmento, que estava presente na sessão da CPI, na quarta-feira dia 13/03/2024, afirma e detalha que o Sr. Abelardo Nobre, coordenador da Defesa Civil de Maceió mentiu para os senhores da CPI, mais precisamente para o relator Senador Rogério Carvalho. O senhor relator Rogério Carvalho disse que eu tinha dito que o raio de influência da área afetada de uma mina de sal era igual a profundidade da mina, que no caso de Maceió, é 1000 metros aproximadamente. Então o senhor Abelardo disse que não era bem assim e falou umas bobagens, demonstrando falta de conhecimentos técnicos.

A figura 1 mostra o mapa de feições elaborado pela CPRM em 2019 no qual se vê as minas e as rachaduras (tracinhos pretos) na superfície e edificações no bairro do Pinheiro. A linha tracejada, vermelha, delimita a área afetada. Da mina 10 (que se encontra praticamente no centro da área da mineração) até a linha vermelha que demarca a área afetada, a distância é 1.120 metros. Da mina 31, que está mais próximo das edificações do bairro do Pinheiro, a distância é de 900 metros. Se fizermos a média, teremos 1010 metros, ou 1000 metros. Essas minas estão na profundidade de 1000 metros, aproximadamente. Somente pessoas levianas aceitam o que está na literatura técnica e científica, mundial, sem antes verificar no campo essas informações.

Figura 1 – Mapa de feições da CPRM 2019

Quanto a área da cratera formada na superfície, devido ao dolinamento, de uma mina, o seu raio de segurança, pode ser obtido pela fórmula alemã: 𝑅 = 1,5 × √ . Onde: V é o Volume da mina.

Fazendo-se um cálculo aproximado para o caso da mina 18, obtêm-se um raio de segurança de 100 metros. Tem-se assim uma área com diâmetro de 200 metros.

Por falar em mina 18, nunca se viu tanta incompetência e falta de conhecimento sobre dolinas (sinkholes). Tem várias entrevistas minhas onde afirmei com antecedência que a cratera que iria se formar teria um raio de uns 80 metros e profundidade entre 8 a 15 metros. Como se viu a área que afundou tem um raio de no máximo 100 metros (diâmetro de uns 200 metros).

O grande absurdo foi a retirada de pessoas às pressas que estavam residindo nos bairros vizinhos, em áreas seguras, em relação a mina 18. Um exemplo estarrecedor, foi a retirada do Sr. Cássio Araújo que estava residindo na antiga rua Belo Horizonte, número 1.141. A distância dessa residência até a mina 18 são 1250 metros (veja a figura 2). A área que iria afundar só teria um raio máximo de apenas 100 metros e localizava-se as margens da Lagoa Mundaú. Isso foi um absurdo comandado pelo Sr. Abelardo Nobre. Nesse evento da mina 18, aconteceram muitos casos semelhantes de retirados de pessoas que moravam a mais de 500 metros da mina 18.

Figura 2 – Distância da mina 18 para a residência nº1141

E o “mico” que Maceió passou perante todo Brasil, onde o noticiário era que Maceió estava afundando por causa da mina 18? As pessoas ficaram apavoradas porque não sabiam que uma mina quando sobe até a superfície, ela vai subindo e vai se auto aterrando. É por isso a profundidade da área que afundou da mina 18, tem apenas 10 metros de profundidade, aproximadamente.

E as milhares de edificações que estão rachados por causa dessa mineração criminosa e que, de forma absurda e não justificável, não foram indenizadas? Como pequeno exemplo a figura 3 mostra edificações rachadas (pequenos triângulos) que não foram indenizadas. As casas do Flexal de cima e as do Flexal de Baixo, estão rachadas porque foram tracionadas pelo afundamento das minas. Essa história que elas foram mal construídas, não é verdade. E os senhores sabem que sei profundamente sobre essa questão. Por que o senhor e sua turma insistem em não fazer justiça com as pessoas estupidamente prejudicadas por essa mineração criminosa?

Figura 3 – Edificações rachadas que não foram indenizadas