Política

Rodrigo Cunha quer relatório de crime da Braskem

Documento feito pelo Confea acusa mineradora de negligência no monitoramento das minas: “é sério e preocupante”, diz senador

Por Ricardo Rodrigues - colaborador / Tribuna Independente 16/03/2024 09h02
Rodrigo Cunha quer relatório de crime da Braskem
Senador Rodrigo Cunha diz que próximas ações da CPI da Braskem serão dar prioridade aos depoimentos das vítimas da mineração em Maceió - Foto: Geraldo Magela / Agência Senado

O senador alagoano Rodrigo Cunha (Podemos) disse que já mandou pedir ao Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), que encaminhe à CPI da Braskem no Senado o relatório que incrimina a mineradora, por negligência no monitoramento e na manutenção das minas de sal-gema, em Maceió.

“Tomei conhecimento, por meio da imprensa, quando esse relatório veio à tona no começo do mês, mas até então não era do meu conhecimento”, afirmou Cunha, na última quinta-feira, quando participou de um encontro do presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, com lideranças do seu ex-partido, no Hotel Ponta Verde, em Maceió.

Eleito senador pelo PSDB em 2018 e candidato tucano derrotado nas eleições para o governo do Estado em 2022, Cunha pulou para o União Brasil e agora está filiado ao Podemos. Mas, continua muito próximo ao ninho tucano. Por isso, fez questão de se encontrar com Perillo, na passagem do tucano por Maceió.

Em entrevista à Tribuna Independente, ele disse que o relatório do Confea é muito importante, até porque acusa a Braskem de abandonar as minas desativadas e de desligar as bombas de pressurização para economizar energia, quando a companhia elétrica passava a comprar o consumo pela bandeira vermelha.

“É uma acusação muito séria”, afirmou Cunha, referindo-se ao conteúdo do relatório, mas sem saber por que o documento passou mais de quatro anos inédito, sem ser divulgado para o grande público. Questionado se iria convocar o presidente do Confea para depor na CPI, ele disse que vai depender dos demais integrantes da CPI.

VOZ ÀS VÍTIMAS

“A minha prioridade é dar voz às vítimas da Braskem. Por isso, apresentamos novos requerimentos, aprovados pela Comissão, para iniciarmos uma série de depoimentos das mais importantes personagens vítimas desse crime ambiental cometido pela mineradora em Maceió”, afirmou Cunha.

Segundo sua assessoria, serão convocadas lideranças dos moradores dos bairros que afundam e da região dos Flexais, em Bebedouro. “Atendendo à demanda de Rodrigo Cunha, os senadores membros da CPI aprovaram o convite a Geraldo Vasconcelos, coordenador do Movimento SOS Pinheiro, e a José Fernando Lima Silva, presidente da Associação dos Moradores do Bom Parto”, informou sua assessoria.

“Mais representantes de moradores devem ser também convidados a narrar o impacto negativo e danoso da atividade mineradora da Braskem em suas vidas”, acrescentou. De acordo com a assessoria do senador, ouvir e coletar os relatos das vítimas é vital para os desdobramentos da investigação.

“O que queremos é justiça e precisamos dar voz às vítimas. São milhares de famílias que não perderam somente suas casas. São pais, mães, filhos, avós e avôs, comerciantes, empreendedores, parentes e amigos que, de uma hora para a outra, foram obrigados a abandonar suas residências, suas memórias, suas relações com os lugares em que nasceram, cresceram e viviam. São seres humanos que sofreram abalo emocional imenso. São milhares de histórias de vidas prejudicadas”, afirmou o parlamentar.

“Mineradora causou dano psicológico e sofrimento financeiro sem precedentes”

Segundo o senador Rodrigo Cunha, o afundamento dos bairros causou um grave dano psicológico e, também, um sofrimento financeiro sem precedentes para estas pessoas.

“Um cenário de caos na habitação, no trabalho, na vida escolar e na sobrevivência dos moradores, que precisam ter voz e precisam ser ouvidos. Por este motivo, convidamos Geraldo Vasconcelos e José Fernando Lima Silva, e vamos ampliar o alcance desta escuta convidando ainda mais representantes de quem vivia na região”, acrescentou Rodrigo Cunha.

A assessoria do senador informou ainda que as presenças dos representantes dos moradores terão as datas agendadas pelo colegiado da Comissão. Os trabalhos da CPI acontecem nas terças e quartas-feiras no Senado Federal. Rodrigo Cunha é o único senador alagoano que atua como titular da Comissão, presidida pelo senador Omar Aziz (PSD) e com relatoria do senador Rogério Carvalho (PT/SE).

MOVIMENTO

Segundo a coordenadora do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem, Neirevane Nunes, pelo menos três integrantes do MUVB foram convocados para depor na CPI da Braskem, “mas ainda não há uma data definida”. Devem prestar depoimento o procurador do Trabalho Cássio Araújo, o sindicalista Maurício Sarmento e o empresário Alexandre Sampaio, representando também a Associação dos Empreendedores Vítimas da Mineração em Maceió.

“A professora-doutora Camila Prates também foi convocada pela CPI, mas ela será ouvida como representante da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e não pelo MUVB”, acrescentou Neirevane.

“Eles (os convocados) estão se organizando e preparando os documentos mais importantes para serem apresentados à CPI da Braskem, durante os depoimentos, no Senado”, concluiu.

Defensor Ricardo Melro vai à CPI em prol das vítimas dos Flexais

O defensor público estadual Ricardo Melro também deve depor na CPI da Braskem na próxima semana. O convite da CPI teria sido formalizado, pelo presidente da Comissão, Omar Aziz, na tarde da última quinta-feira (14). Melro confirmou que se fará presente na próxima quarta-feira (20), às 9 horas, no Senado. O depoimento dele é importante, porque é ele quem vem conduzindo uma briga quase que solitária, na Justiça Federal, em defesa dos moradores dos Flexais.

Em entrevista à imprensa, no final do ano passado, Melro criticou duramente o prefeito de Maceió, JHC (PL), de ter declarado apoio à realocação dos moradores dos Flexais, durante a campanha eleitoral de 2020, mas depois de eleito esqueceu esse compromisso e traiu a comunidade da região de Bebedouro.

“Falei ao vivo mais cedo para a TV Gazeta, pouco depois de receber a informação do gabinete do prefeito de Maceió que, em suma, não iria peticionar na Ação Civil Pública dos moradores dos Flexais, como se comprometeu na segunda-feira, porque a carta não estava assinada por todos que estavam à mesa. Ora, vejam vocês. Se o compromisso é da prefeitura de Maceió basta que ela assine. Ponto”.

“Aliás, sequer precisa de sua assinatura, pois o prefeito já havia dito de público no domingo que a partir daquele momento não seria mais omisso nem negligente (está gravado em vídeo) com essas vítimas e que iria concordar com realocação e indenizações. Então, bastava honrar suas palavras e determinar à sua procuradoria que peticionasse concordando com a defensoria pública”, acrescentou.

Para o defensor público estadual, “é muita crueldade” (que o prefeito) vem fazendo com os moradores dos Flexais e da Avenida Marquês de Abrantes. “Cria-se a expectativa e logo depois as golpeia”, afirmou Melro, em um vídeo postado nas mídias sociais.