Política

Senadores intensificam críticas visando desgaste público-eleitoral

Renan Calheiros e Rodrigo Cunha são atuais protagonistas em série de ataques de olho nas eleições 2024/26

Por Emanuelle Vanderlei – colaboradora / Tribuna Independente 04/11/2023 08h25 - Atualizado em 04/11/2023 09h10
Senadores intensificam críticas visando desgaste público-eleitoral
Renan Calheiros e Rodrigo Cunha são candidatos naturais à reeleição ao Senado e disputa tende a se intensificar cada vez mais na tentativa de desgaste mútuo - Foto: Edilson Omena

Os desgastes políticos-eleitorais são públicos e contínuos no cenário alagoano. Os protagonistas neste contexto, atualmente, são os senadores Renan Calheiros (MDB) e Rodrigo Cunha (Podemos), que estão empenhados na troca mútua de críticas e ataques, seja em discursos no Senado, em agendas públicas, entrevistas e, claro, nas redes sociais.

Tanto Calheiros quanto Cunha são candidatos naturais à reeleição no Senado no pleito de 2026, mas pelo comportamento atual, ambos já estão em plena campanha para gerar derrotas, inicialmente, na eleição do próximo ano e que serve como parâmetro para a disputa geral.

Em Brasília, a mais recente divergência foi sobre a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a Braskem e o crime que causou o afundamento dos bairros em Maceió. Proposta de Calheiros, a CPI foi instalada, segundo ele, contra a vontade de Cunha.

Em pronunciamento na sessão plenária do Senado, reproduzido no Instagram de Cunha, ele se defende contra-atacando. Além de garantir ser a favor de investigar a Braskem, ele acusa Renan de ser ex-presidente da empresa e questiona sua legitimidade para investigar. “Está aqui avaliando ou para apagar rastros?”. O adversário acusou Renan de ter sido indiciado pela polícia federal por conta de negociações com a Odebrecht (grupo do qual a Braskem pertence).

Não tinha nem um mês da última troca de farpas dos dois. No início de outubro, Renan usou seu perfil nas redes sociais para criticar o voto de Rodrigo em relação a um empréstimo solicitado pelo Governo do Estado. “Não é a primeira vez, mas infelizmente um senador de Alagoas vota contra o empréstimo de USS 40 milhões para o estado modernizar a gestão pública. Foi o voto solitário contrário a novos recursos para Alagoas. As vozes do atraso, mais uma vez, perderam”.

Cunha deu sua opinião na mesma rede dias antes, chamando o pedido de “tapa-buraco” nas contas da gestão. “Hoje o Governo de Alagoas pediu mais um empréstimo milionário. Desta vez, são mais de R$ 200 milhões. Fiz questão de registrar meu voto contrário a um empréstimo que não traz absolutamente nenhuma melhoria ao povo alagoano”.

Em entrevista à rádio CBN Maceió há duas semanas, Renan estava afiado. Reforçou que ele era contra a CPI da Braskem e insinuou que Cunha não se reelege e pode ser senador de um mandato só.

SEM PERDER ESPAÇOS E PODER

O cientista político Ranulfo Paranhos acredita que toda essa movimentação começa agora prevendo 2026, e isso faz parte da busca dos atores para não perder poder.

“Vale uma leitura de cada um dos dois, e a leitura dos dois é, ‘eu tenho que atuar agora pra poder estar apto pra 2026’. É como se o político nunca descansasse, se quiser se manter no status. Então, veja, a gente tem uma rodada em 2024 e depois para chegar à rodada do jogo em 2026, mas é preciso fomentar as bases de 2024, ou seja, ajudar os aliados, lançar novos candidatos, esperar que esses candidatos sejam eleitos para em 2026 eu buscar o apoio desses candidatos, então é, eu cedo o apoio agora, ou eu faço com que políticos aliados consigam poder para depois, em 2026, eles me cederem apoio. Então é assim que funciona. Então o objetivo não é necessariamente antecipar a disputa, mas o objetivo maior é construção de grupo político e manutenção disso daí, visando sempre rodadas eleitorais seguintes”.

Essa nacionalização de pautas que foram alçadas a nacionais, como questão da Braskem, Paranhos vê como uma estratégia de ambos para se manter em evidência.

“Ele precisa aparecer para o público eleitoral, ele precisa ganhar espaço na televisão, ele precisa ganhar espaço nos debates. Então colocar em evidência questões como a Braskem, colocar em evidência questões como segurança pública, à medida em que o político traz isso para o debate, que ele coloca isso de forma nacional, para o país inteiro perceber, ele está colocando a própria imagem em evidência, ou seja, ele está aparecendo junto, o lado que ele está talvez não importe muito, o que importa é entrar em evidência”.

A sociedade, acaba tendo ganhos com a disputa, mas o objetivo dos proponentes não necessariamente era esse. “Se a gente tem uma CPI da Braskem, que o senador Renan Calheiros colocou em evidência e conseguiu aprovar, consequentemente a gente vai ter como a figura de destaque. E o senador Rodrigo Cunha pode aparecer, pode entrar nesse debate e consequentemente a sociedade pode ganhar com ele. Dessa disputa você vai ter uma penalização maior da Braskem, um acompanhamento das tomadas de decisões, como o prefeito de Maceió vai gerenciar esses recursos de indenização, saber se a indenização é ou não justa, saber o que está acontecendo com as pessoas que foram retiradas dos bairros e por aí vai. Então a sociedade pode ganhar com isso. Mas o político vai dizer ‘eu estou trazendo benefícios para a sociedade’, mas em contrapartida ele está trazendo benefícios para si”, completa o cientista político em contato com a reportagem da Tribuna Independente.

Outro detalhe interessante nesta trama política e eleitoral é a inserção do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), que tem consolidada uma aliança com Rodrigo Cunha, o grupo inclui também o prefeito de Maceió, JHC. Circula na mídia nacional que Lira também pretende disputar o senado em 2026, o que pode representar um risco ao aliado Cunha em sua reeleição. Ranulfo observa o cenário como algo em aberto.

“Até esse momento, essa é mais uma informação de bastidor do que a leitura que a gente possa fazer. Eu não tenho informação se o Arthur Lira pretende fazer essa troca de cargo com o Rodrigo Cunha, com algum tipo de promessa de aliança política, ou seja, Arthur Lira ir para Senado, Rodrigo Cunha candidato ao governo, Rodrigo Cunha candidato a deputado federal. Na última disputa, o Rodrigo Cunha foi bem votado, se você observar os resultados eleitorais, ele ultrapassou os 30 pontos na disputa para o governador do segundo turno.

Então, eu não sei como eles estão organizando isso do ponto de vista de bastidor. Eu acho que é muito verde, o momento ainda é muito cedo para a gente discutir isso e as informações ainda não são públicas, eu não tenho informação de bastidor sobre isso.”.

Mas o cientista sugere que caso siga esse caminho, Lira pode estar se arriscando. “Senado é uma disputa mais difícil do que deputado federal. Arthur Lira iria tentar alçar essa condição de Senado e correr um risco muito grande de perder a eleição”.

Lira e Calheiros vem se enfrentando há décadas nas eleições em Alagoas, e como são personagens de destaque nacional tem sempre proporções maiores do que a tradicional disputa local. Renan não perdoou a aliança dos seus rivais e fez críticas.