Política
Morte de Eduardo Bomfim causa comoção no meio político
Ex-deputado federal teve participação histórica na constituinte e papel fundamental na redemocratização do país

Causou bastante comoção no cenário político alagoano o falecimento de Eduardo Bomfim na manhã de segunda-feira (23). Ele faria 74 anos em 18 de novembro deste ano e teve sua morte confirmada pela esposa Selma, que encontrou o corpo ao acordar às 4h30 da manhã. Pessoas próximas acreditam que causa da morte foi um infarto pela madrugada, enquanto dormia. O corpo está sendo velado no Parque das Flores desde as 15h30 de ontem e o sepultamento acontece no mesmo campo santo, às 16h de hoje (24).
Pai de Thiago e Manuela e casado com Selma Villela, Bomfim recebe homenagens não apenas de familiares e amigos, mas de muitas autoridades políticas, principalmente de partidos de esquerda. Alguns se pronunciaram publicamente enaltecendo o papel que Bomfim cumpriu em Alagoas.
Pelas redes sociais, o senador Renan Calheiros (MDB) deixou sua homenagem. “Morrem cedo aqueles a quem os deuses querem bem. A imagem de Fernando Pessoa é perfeita para expressar a perda de Eduardo Bomfim. Botafoguense, amigo de resistência, da redemocratização, da constituinte e outras batalhas. Que descanse em paz e Deus console a família. Luto!”.
O deputado federal Paulão (PT) também falou sobre a perda. “Recebi com pesar a notícia do falecimento do companheiro Eduardo Bomfim, que foi uma das maiores referências de luta contra a ditadura e que segurou a bandeira dos direitos humanos e cidadania com bravura e altivez. Essa perda deixa Alagoas de luto; um dia triste para todos nós”.
O vice-governador Ronaldo Lessa (PDT) relembrou os momentos em que esteve ligado politicamente a Bomfim. “Damos adeus a Eduardo Bomfim, grande defensor dos direitos humanos. Companheiro na luta contra a ditadura, que ajudou na construção da nossa constituição como deputado federal constituinte. Eduardo também foi secretário de cultura em meu governo, deputado estadual e vereador por Maceió. Descanse em paz, meu amigo”.
O Comitê Estadual de Alagoas do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), onde Bomfim exerceu sua militância desde 1972, emitiu nota oficial detalhando parte da história do companheiro, que foi o principal dirigente da agremiação em Alagoas ao longo de décadas.
“Eduardo Bomfim iniciou a sua trajetória política na resistência à ditadura militar, militou no movimento estudantil, foi fundador e primeiro presidente da Sociedade Alagoana de Defesa dos Direitos Humanos, foi eleito deputado estadual [1983-1986], deputado federal constituinte [1987-1991], vereador por Maceió [1993-1996 e em 1999], além de ter atuado como secretário de Estado da Cultura de Alagoas, secretário-adjunto da Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais da Presidência da República e presidido a Fundação Cultural Cidade de Maceió”, diz a nota.
Ressaltando a luta progressista do Bomfim, o partido não deixou de falar sobre o patriotismo em sua atuação. “Incansável defensor de uma sociedade sem injustiças e desigualdade, Bomfim era um patriota que dedicou sua vida à defesa da democracia, da construção de um Brasil desenvolvido e da transformação da sociedade. Eduardo Bomfim foi um combatente pelo Socialismo. Suas ideias e história permanecerão vivas na luta do povo brasileiro!”.
Eduardo Bomfim ingressou na Ação Popular (AP) em 1970, em seguida no Partido Comunista do Brasil – PCdoB em 1972, onde foi o principal dirigente em Alagoas de 1974 a 2003 (secretário-geral do Comitê Regional entre 1974 até a legalidade, quando a denominação foi mudada para presidente estadual). Presidiu o PCdoB/AL novamente no período 2009-2013.
HISTÓRIA
O jornalista Ênio Lins, amigo pessoal e de luta de Bomfim desde o final dos anos 70, destaca que ainda não há total compreensão do tamanho do companheiro para a história. “Ele teve um papel dos mais destacados na história política de Alagoas.
Ele é uma figura histórica do nosso Estado e que não está, porque ele encerrou a sua atividade hoje [ontem], ainda suficientemente avaliado pela sua contribuição, nós teremos isso a partir de agora, a partir desse momento, uma avaliação do meu modo de ver mais apurada do grande papel, do papel histórico que Eduardo Bomfim desempenhou para a democracia em Alagoas e no particular para a esquerda aqui em Alagoas e no Brasil”.
Lins destacou dois aspectos na atuação do companheiro na história. A luta pela redemocratização e o papel como intelectual de esquerda.
“O grande trabalho que o Bomfim teve no processo de reconstrução da democracia. Como nós sabemos, os partidos clandestinos foram colocados nessa situação pela ditadura num processo de afastamento dos setores mais conscientes. O regime militar tratou de afastá-los, através exatamente do processo ditatorial de cassação de funcionamento de toda agremiação política que fosse considerada mais dura contra o regime militar. E nisso foram colocados na clandestinidade, assassinados, torturadas as pessoas que faziam parte desse partido chamados clandestinos que envolviam as diversas siglas de esquerda que foram barbaramente perseguidas durante esse processo que vai de 64 até 85”.
Mesmo na clandestinidade, Bomfim teria conseguido eleger vários nomes do PCdoB usando a sigla MDB. “Ele era originalmente militante da ação popular e a partir de 1972 a ação popular, a maior parte dela, ingressou no PCdoB. Bomfim ingressou junto e encontrou aqui em Alagoas uma situação de destroçamento a partir de 1973 com a grande onda de prisões que vitimou principalmente o Partido Comunista Revolucionário, o PCR. A partir de 1974 se dedica a reorganizar o PcdoB, o que consegue com muita discrição e com muita força a ponto de que em 1982 o PCdoB consegue a marca de eleger em Alagoas um deputado estadual que foi ele, pelo MDB lógico, porque o partido era clandestino, então Eduardo Bomfim é eleito deputado estadual. E são eleitos para a vereança em Maceió, Jarede Viana e Edberto Ticianeli, respectivamente o segundo e terceiro vereadores mais votados na capital”.
Do ponto de vista da contribuição como estudioso, Ênio fala sobre nomes que respeitaram o pensamento de Bomfim. “A outra questão que precisa ser salientada é o papel individual do Bomfim como intelectual, como formulador e como pensador político. Ele sempre foi uma referência não só para o PCdoB, mas para todas as forças democráticas aqui em Alagoas, então ele foi uma pessoa que teve a interlocução com pessoas como Teotônio Vilela, José Moura Rocha, Selma Bandeira, todo esse conjunto de líderes que formavam a esquerda e a esquerda democrática”.
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