Política
Braskem estoca sal-gema em unidade no Mutange
Imagens mostram grande quantidade de sal no pátio da petroquímica
O Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB) recebeu imagens feitas por moradores da região dos Flexais, na segunda-feira (18), mostrando que há um estoque muito grande de sal-gema ensacado no pátio da petroquímica, na unidade do Mutange.
“Gostaríamos de saber o realmente significa essa quantidade toda de sal-gema nessa unidade de mineradora, a quilômetros de distância da fábrica, que fica no Pontal da Barra?”, questionou Neirevane Nunes, após a divulgação das imagens feitas por manifestantes que protestam na frente do portão da mineradora, entre os bairros do Mutange e Bebedouro, em Maceió.
“Queria saber o que significa essa estocagem aí de sal. Pelo acordo feito com os Ministérios Públicos, a Braskem se comprometeu em não extrair mais. A Braskem, por isso, divulgou na mídia que estava trazendo o sal do Chile para dar conta da produção na unidade do Pontal. A unidade do Mutange antes só era usada para extração de sal e o produto era levado para a unidade do Pontal. E o que significa todo esse sal na unidade do Mutange?”, questionou a bióloga, que coordena no MUVB.
Nas imagens, o manifestante que filma a grande quantidade de sal-gema ensacado, não se identifica, mas inicia o relato a partir do lado de fora da unidade, onde os moradores dos bairros atingidos pelo afundamento do solo protestam contra a Braskem e pedem a realocação das famílias dos Flexais e da Rua Marquês de Abrantes, em Bebedouro, com indenizações justas. A Braskem ofereceu apenas R$ 25 mil para cada família que desocupar o imóvel na região. Segundo os moradores, 80% das famílias não aceitaram a proposta, porque consideram a oferta uma espécie de “cala-boca”.
Na filmagem, o denunciante entra na unidade da Braskem no Mutange e mostra o portão bloqueado pelos manifestantes. Em seguida, diz que a mineradora deveria estar usando a área, que fica entre os bairros de Bebedouro e Mutange, para tamponar as minas de sal desativadas. No entanto, segundo ele, a mineradora continua extraindo sal-gema nas minas da região, contrariando a determinação dos órgãos ambientais e o acordo feito com o aval do Ministério Público Federal e a Defensoria Pública da União.
“Isso aqui é sal, vou mostrar a vocês”, diz o denunciante, colocando a mão em um dos sacos e tirando de dentro dele um punhado de sal-gema parecido com sal de cozinha, em um dos vídeos que a reportagem da Tribuna Independente teve acesso. No outro vídeo, ele dá sequência à denúncia, dizendo que a mineradora está retirando o sal-gema das minas que deveria estar desativadas. Abrindo mais as imagens, o denunciante mostra o pátio da mineradora, com uma grande quantidade de sal-gema, ensacados.
“A posição do MUVB é no sentido de pedir esclarecimentos. Diante do acordo firmado entre Braskem e MPF, MP/AL e DPU onde ficou determinado o encerramento da extração de sal-gema; o que explica a presença desse montante de sal na unidade da Braskem, no Mutange”, afirmou Neirevane.
Mineradora nega que continua extraindo o produto em Maceió
A Braskem negou, por meio de nota distribuída à imprensa, que o sal-gema estocado no pátio da unidade do Mutange, em Maceió, tenha sido extraído recentemente das minas que deveriam estar desativadas. No entanto, na nota produzida por sua assessoria de comunicação, a Braskem não deixa claro da onde vem aquela grande quantidade de sal-gema e por que o produto, que é usado pela fábrica da petroquímica do Pontal da Barra, encontra-se estocado ali, na sua unidade do Mutange.
Publicamos, a seguir. a nota divulgada pela Braskem, na íntegra:
“A extração de sal-gema em Maceió foi encerrada em 2019, e o fato foi amplamente noticiado na imprensa, inclusive por esta Tribuna, na página 5 da edição nº 3521, de 15,16 e 17 de novembro de 2019.
Seguindo a transparência que marca a comunicação de suas ações, de 2019 até agora, a Braskem divulgou diversas vezes não apenas o encerramento da extração de sal em Maceió, como também os procedimentos para fechamento dos poços de sal e o retorno da operação da fábrica, no início de 2021, com sal importado do Chile exclusivamente para esse fim. Tal divulgação se deu na forma de informativos e respostas a demandas da imprensa e também na plataforma Braskem Explica, presente em todas as mídias, por onde a companhia presta contas à sociedade de suas atividades em Alagoas”.
ESCLARECIMENTO
A reportagem da Tribuna Independente esclarece que divulgou as ações da Braskem, dizendo que a mineradora tinha desativado as minas de sal-gema de Maceió, como divulgaram os demais veículos de comunicação de Alagoas e de outros Estados. De acordo com as informações oficiais da mineradora, encaminhadas à mídia em geral. Confiando, é claro, na veracidade dos fatos até então divulgados e acompanhados pelos órgãos de fiscalização e controle, a exemplo do Ministério Público Federal de Alagoas (MPF/AL) e da Defensoria Pública da União (DPU).
Apesar de decisão judicial, protesto continua na porta da empresa
Apesar da decisão do juiz Afrânio dos Santos Oliviera, do Tribunal de Justiça de Alagoas, que mandou os manifestantes desocuparem a frente do portão de entrada da unidade da Braskem no bairro do Mutange, em Maceió, o protesto continua. “Não vamos sair daqui até que as nossas reivindicações sejam atendidas”, afirmou Valdemir Alves.
Segundo ele, a Defensoria Pública do Estado teria agendodo uma reunião com com os manifestantes para avaliar a situação e decidir se recorre ou não da decisão do juiz, que atendeu o pedido de desocupação da área, feito pela Braskem.
Em solidariedade aos moradores dos Flexais e região, o Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB) divulgou nota de repúdio “ao racismo ambiental e toda violência da Braskem a essas comunidades”.
“O MUVB e demais movimentos da sociedade civil expressam sua solidariedade aos manifestantes que lutam por seus direitos à realocação e por indenizações justas para refazerem suas vidas, que foram destruídas pelo maior desastre causado pela Braskem. Ao mesmo tempo, manifestamos nosso repúdio às ações violentas promovidas pela Braskem contra os moradores da região dos Flexais, que foram surpreendidos por uma ação de interdito proibitório devido às ocupações nos portões da Braskem, no Mutange”.
OUTRO LADO
“A Braskem respeita o direito à manifestação pacífica. Entretanto, após 4 dias de bloqueio dos acessos à área onde se desenvolvem as atividades do Plano de Fechamento de Mina, aprovado pela Agência Nacional de Mineração e acompanhado pelas autoridades, recorreu à Justiça, que concedeu a medida liminar pleiteada, necessária para restabelecer o pleno acesso ao canteiro de operações, garantindo o prosseguimento do trabalho de fechamento dos poços, e preservando a segurança dos trabalhadores. O bloqueio impede o cumprimento do cronograma pactuado com as autoridades fiscalizadoras do Plano de Fechamento de Mina, cuja execução deve ser contínua”.
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