Política

Em livro, jornalista defendeu retirada da indústria da Braskem da restinga do Pontal

'Salgema - do erro à tragédia' foi escrito durante a pandemia e lançado em 2020

Por Tribuna Independente 06/09/2023 17h28 - Atualizado em 07/09/2023 10h13
Em livro, jornalista defendeu retirada da indústria da Braskem da restinga do Pontal
Jornalista Joaldo Cavalcante é autor do livro 'Salgema – do erro à tragédia' - Foto: Divulgação

A defesa feita pelo senador Renan Calheiros sobre o encerramento das atividades industriais da Braskem no Pontal da Barra e sua saída de Maceió, publicada na edição desta terça-feira (5), na Tribuna Independente, reativa uma discussão antiga; tão antiga quanto a história da implantação da indústria na restinga do Pontal da Barra, uma área bastante habitada, entre a lagoa o mar e a poucos metros do centro de Maceió, onde se instalou desde 1976, em meio a grande polêmica.

Em seu livro “Salgema – do erro à tragédia”, escrito durante a pandemia e lançado em 2020, o jornalista Joaldo Cavalcante – atual secretário de Estado de Comunicação de Alagoas - traz um retrato da polêmica que se gerou, já no nascedouro, na década de 70, a instalação da planta da antiga fábrica Salgema – hoje Braskem, no local onde até hoje está instalada, num relato mesclado com as histórias de perdas e dores de milhares de famílias que tiveram que deixar a vida para trás, expulsas do seu habitat, em decorrência de um processo de afundamento do solo que destruiu residências, sonhos e vidas.

Em seu relato, o jornalista lembra que a tragédia já se anunciava desde os primeiros ensaios da da escolha da localização, nos discursos inflamados e manifestações de resistência de ambientalistas, entre eles vários jornalistas, que fundaram o Movimento pela Vida, acolhido e sediado no Sindicato dos Jornalistas, mas abrangente a ativistas de vários outros segmentos sociais, vencidos pela injunção de poderes e pela força do capital que levaram à implantação da indústria, ali mesmo. “O mesmo poder que licenciou, praticamente abdicou, em todos os níveis, da efetiva fiscalização”, avaliou Joaldo, em sua obra.

Capa do livro (Imagem: Divulgação)

E isso, destaca ele, sem levar em consideração a expansã

o urbana da capital, o correto zoneamento industrial, o potencial turístico da região, o ecossistema lagunar, e sem observância ao conceito de desenvolvimento sustentável.

A tragédia se consolidou em forma tremores de terra, trincas, rachaduras e afundamento, instituindo a calamidade e o esvaziamento de bairros populosos da cidade de Maceió, depois que os estudos do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) confirmaram que as minas de extração de sal, operadas pela Braskem produziram cavernas tenebrosas e desestabilizaram o subsolo desses bairros

Ao enfocar, em seu livro, a trajetória da empresa, desde sua implantação, o jornalista defende, em sua obra, a relocalização e vai mais além: em sua opinião, a área do tabuleiro de Marechal Deodoro, onde está instalado o polo multifabril de Alagoas, ofereceria as condições necessárias para receber a Braskem.

“Ao refletirmos acerca do trágico cenário da crise acumulada no curso do tempo, por que não pensar na relocalização da planta industrial da Braskem como solução? É hora de pacificar a presença da indústria de geração de matéria prima para o setor químico-plástico em local adequado. Parece-me que o polo multifabril situado no tabuleiro de Marechal Deodoro possui a melhor infraestrutura para recepcioná-la, pois já conta até com a presença de etenoduto procedente de Camaçari”, defende Joaldo.

E se a questão passa por custo operacional, ele defende que o poder público discuta seu grau de responsabilidade, sobretudo o governo federal, já que a Petrobrás detém quase 50% das ações da Braskem, inclusive com a abertura de linha de crédito para uma reorganização do setor plástico-químico do estado.

“É uma dívida histórica que os investidores privados e o poder público possuem com Alagoas. E Maceió, cuja região sul, com a eventual relocalização da planta da Braskem, poderá passar por uma história de requalificação urbanística, viabilizando, assim o desenvolvimento sobre bases sustentáveis. Eis o convite ao debate, à cidadania, que necessita envolver os segmentos pensantes, as universidades, as entidades de classe e as lideranças políticas”, defende Joaldo Cavalcante.