Política
Hospital Veredas tem débito que chega a R$ 7 milhões com folhas atrasadas
Trabalhadores do Veredas cobram pagamento de salários, décimo terceiro e férias
Abril, maio e junho. Estes são exatamente os meses em que os trabalhadores do Hospital Veredas, em Maceió, estão sem receber seus salários, férias e 13º. Por conta do atraso, a categoria cruzou os braços há cerca de três semanas e aguarda a direção do estabelecimento de saúde com um sinal positivo.
A técnica de enfermagem Graziela Alcantara relata o desespero dela e de seus colegas de trabalho frisando que muitos estão adoecendo diante do atual cenário. “Todos os colaboradores desta instituição estão adoecendo porque nós trabalhamos e precisamos receber, a diretora financeira Pauline Pereira está em silêncio, simplesmente não nos diz nada, não tem consideração nenhuma por nenhum trabalhador, nós não temos previsão de data de receber”, disse em tom de revolta.
“Só mais trabalho e exigências, não temos perspectiva de nada, a maioria dos trabalhadores só tem esse emprego do Veredas e mesmo se tivesse outro não daria conta, porque não supre totalmente a demanda”, contou Graziela.
“Depois que essa nova diretora entrou a situação dos trabalhadores ficou pior, nós nunca passamos um ano sem receber o décimo terceiro. Outra coisa é o pagamento por faixa, isso não existe, a gente trabalha o mês inteiro, recebemos agora o mês de março. Peço que a sociedade olhe por nós, estamos adoecendo física e mentalmente, não é brincadeira trabalhar e não receber”, completou a técnica de enfermagem.
De acordo com Chico Lima, presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Alagoas (Seess/AL), a unidade hospitalar tem um débito que chega a R$7 milhões com folhas atrasadas.
Para ele, tudo que os trabalhadores querem é que o Governo do Estado faça os repasses que o hospital tem a receber para quitar essa dívida com os profissionais.
“O Veredas emitiu quatro notas fiscais e a Sesau (Secretaria Estadual de Saúde) não fez o pagamento, consequentemente o hospital não teve como pagar os funcionários. O que queremos é direito de igualdade, quando o estado fizer o pagamento de outras unidades hospitalares, utilize o mesmo critério, porque não é fácil três meses de salários atrasados, férias e 13º de 2022”, salientou Chico Lima.
De acordo com o sindicalista, foi feito um pedido de mediação por parte do Ministério Público do Trabalho (MPT) e que inclusive já foi para o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) e o desembargador João Leite segue atento e acompanhando todo o trâmite.
“Os recursos financeiros do Veredas são de atividades desenvolvidas, principalmente em atendimento prestado ao SUS (Sistema Único de Saúde). Estamos acompanhando de perto a chegada de recursos para o pagamento dos trabalhadores que não aguentam mais esperar, muitos já foram até despejados dos imóveis por falta de pagamento”, destacou.
“A categoria cumpre o determinado pela justiça que é manter 60% dos trabalhadores na ativa, mas existem muitas faltas porque quando falta alimentação na mesa, contas atrasadas há uma consequência e muitos funcionários estão adoecidos com a situação psicológica, é um desconforto total”, acrescentou.
ATRASOS
Chico Lima também denuncia que os atrasos não acontecem somente no Veredas, segundo ele, hospital de Arapiraca e Palmeira dos Índios enfrentam a mesma dificuldade. “Porém cada empresa tem uma forma administrativa de gerenciar os seus problemas, a Santa Casa por exemplo, é uma empresa com quase 3.500 funcionários, mas dispõe de recursos diferentes, agora quem tem um atendimento grande para o SUS como o Veredas precisa receber o repasse para deixar os funcionários com os pagamentos em dia”, defendeu.
INVESTIGAÇÃO
Conforme informações baseadas em uma investigação conjunta da Agência Pública e da revista Piauí, O Hospital Veredas tem recebido significativos investimentos públicos desde 2016, após a saída de Dilma Rousseff (PT) da presidência. Com mais de R$ 1 bilhão em financiamento, a instituição filantrópica recebeu mais verbas do que a Santa Casa de Maceió, embora atenda a menos pacientes.
Sob o controle político do PP, partido do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, o Veredas tem sido destinatário de repasses financeiros do governo federal, estadual e municipal. Essa situação despertou preocupações sobre a falta de transparência e levou o presidente do Conselho Estadual de Saúde de Alagoas, José Wilton da Silva, a propor uma análise detalhada dos repasses e, se necessário, uma auditoria nas contas do hospital.
Apesar de possuir menos atendimentos ambulatoriais e internações em comparação com a Santa Casa, o Veredas recebeu uma quantia considerável de recursos. Especialistas destacam a influência política exercida pelo PP, que ocupou posições estratégicas no Ministério da Saúde durante os últimos sete anos.
Além disso, foram levantadas questões sobre os laços familiares e políticos no controle financeiro do hospital. Parentes de Arthur Lira ocuparam cargos-chave na administração e no conselho deliberativo do Veredas. Esses vínculos são destacados em meio às investigações sobre o orçamento secreto de Brasília.
Apesar dos altos investimentos públicos, o Hospital Veredas enfrenta dificuldades financeiras, resultando em atrasos nos salários dos funcionários e não pagamento do 13º. A situação do hospital levanta preocupações sobre a gestão dos recursos e a necessidade de transparência na distribuição dos investimentos públicos na saúde.
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