Política

Maceió paga cachê de R$ 100 mil pelo mesmo show que custou R$ 30 mil

Diferença de valores foi em relação ao pagamento a Raquel dos Teclados por evento em Coité do Nóia

Por Ricardo Rodrigues - especial para Tribuna Independente 19/05/2023 08h35 - Atualizado em 19/05/2023 15h52
Maceió paga cachê de R$ 100 mil  pelo mesmo show que custou R$ 30 mil
Vereador Joãozinho vai solicitar a cópia integral do contrato suspeito para saber se procede denúncia de superfaturamento do cachê pago - Foto: Divulgação

Como se não bastasse a polêmica envolvendo a liberação de R$ 8 milhões da Secretaria Municipal de Turismo para a Escola Beija-Flor de Nilópolis (RJ), o prefeito JHC (PL) está sendo questionado sobre gastos supostamente superfaturados com artistas locais e de fora, para os festejos juninos deste ano em Maceió.

Um dos contratos sob suspeita, no valor de R$ 100 mil, foi assinado pela Fundação Municipal de Ação Cultural (FMAC) com a cantora alagoana Raquel dos Teclados, para a apresentação da artista no São João de Maceió, no próximo dia 24 de junho. Pelo mesmo serviço, no entanto, a cantora estaria recebendo R$ 30 mil da Prefeitura de Coité do Nóia, para se apresentar na festa de São João naquele município.

“Sobre o valor de R$ 100 mil reais que a Prefeitura de Maceió utilizará para a contratação da artista Raquel dos Teclados para a realização de um show no São João da capital, vou solicitar que a FMAC, via Lei de Acesso à Informação (LAI), disponibilize a cópia integral desse contrato para que eu possa fazer as análises necessárias e verificar se há algum tipo de irregularidade nesse valor”, afirmou o vereador Joãozinho.

“Quero saber o motivo desse cachê tão alto, tendo em vista que no interior do Estado, no município de Coité do Nóia, a mesma artista foi contratada no valor de R$ 30 mil reais para realizar um show também no período junino”, acrescentou o parlamentar, que teve acesso apenas aos valores empenhados, publicados no Diário Oficial.

Para o presidente do partido da Cidadania em Alagoas, jornalista Régis Cavalcante, essa discrepância nos valores do cachê da Raquel dos Teclados é um absurdo. “Como pode, pelo mesmo show, uma prefeitura do interior pagar R$ 30 mil e a prefeitura da capital pagar R$ 100 mil?”, questionou Cavalcante.

“O pior de tudo que, essas coisas acontecem, os vereadores, em sua ampla maioria, continuam calados”, acrescentou o ex-deputado federal e professor do curso de Comunicação Social da Ufal. Segundo ele, o certo seria a Câmara Municipal convocar o presidente da FMAC para que ele prestasse esclarecimento sobre esse e outros contratos sob suspeita.

“Sofrência de um povo: situações preocupantes na gestão municipal da capital”

licado no seu blog, na quinta-feira (18/5), com o título “Sofrência de um povo”, o jornalista, advogado e líder comunitário Fernando CPI denuncia “situações preocupantes na gestão municipal de Maceió”, a partir de contratos exorbitantes e com suspeita de superfaturamento, firmados pela Fundação Municipal de Ação Cultural de Maceió (FMAC), com artistas locais e de fora de Alagoas.

“Enquanto o povo humilde e trabalhador sofre com os problemas decorrentes dessas situações, a prefeitura está envolvida em contratos exorbitantes para shows. É absurdo ver que R$ 8 milhões foram destinados à escola de samba Beija-Flor, mesmo diante de supostas irregularidades que contaram com o aval da maioria da Câmara de Maceió”, observa o líder comunitário da Jatiúca.

“Além disso, há um novo contrato em que a artista Raquel dos Teclados, que realizou um show no município de Coité do Nóia por R$ 30 mil, agora assina um contrato com a gestão municipal de Maceió no valor de R$ 100 mil. Por que essa disparidade? O que está acontecendo com a gestão pública?”, questiona Fernando CPI.

Para ele, “os representantes do povo, que deveriam dar exemplo ao fiscalizar os atos, despachos e contratos da gestão, estão longe de cumprir seu papel. Infelizmente, a maioria dos 25 vereadores parece adotar a postura egoísta de ‘farinha pouca, meu pirão primeiro’, colocando seus interesses pessoais acima dos interesses do povo. Essa atitude é inaceitável, pois é a população quem acabará pagando a conta dessas ações irresponsáveis”.

Diante desse cenário, o líder comunitário sugere que o Ministério Público Estadual intervenha e investigue esses contratos. “Os cidadãos de Maceió merecem uma gestão transparente, comprometida e responsável, que atenda às suas necessidades e priorize a utilização justa e eficiente dos recursos públicos”, defende CPI.

“É fundamental que os responsáveis por essas supostas irregularidades sejam responsabilizados e que sejam tomadas medidas concretas para promover uma mudança positiva e significativa na administração municipal. É hora de o Ministério Público Estadual se envolver nessa questão e agir em defesa dos interesses do povo”, apela.

Secretário de Cultura diz que FMAC deve se explicar, pois fechou contratos

Independente procurou ouvir o diretor-presidente da Fundação Municipal de Ação Cultural (FMAC), João Hugo Vergetti Lyra, sobre a denúncia de superfaturamento no contrato com a cantora Raquel dos Teclados, mas ele não deu retorno.

Segundo o secretário municipal de Cultura de Maceió, Cleber Costa, as explicações a respeito do assunto devem ser dadas por Hugo Lyra, porque foi a FMAC quem fechou os contratados com os artistas locais e de fora que vão se apresentar no São João de Maceió.

“A Secretaria Municipal de Cultura foi criada agora, recentemente, por uma Lei Delegada Municipal, não temos nem CNPJ. Portanto não contratamos, não temos ainda como contratar e muito menos pagar cachê a nenhum artista”, garantiu Cleber Costa, que deixou a vaga de vereador de Maceió para assumir a secretaria de Cultura da capital, na gestão JHC.

“Não quero entrar em detalhes sobre essa questão, se houve ou não superfaturamento. Isso é com a FMAC. Por enquanto, a bem da verdade, não contratamos e nem estamos pagando ninguém”, garantiu o médico Cleber Costa.