Política

Bolsonaro vive "clima de velório" e promove guerra interna na campanha

Para ala política da campanha, as falas golpistas e as ações estapafúrdias - como o discurso de 23 segundos encoberto pelo coro "ei Bolsonaro vai tomar no c" no São João de Caruaru -, só aumentam risco de derrota

Por Plínio Teodoro com Revista Fórum 28/06/2022 06h33
Bolsonaro vive 'clima de velório' e promove guerra interna na campanha
Jair Bolsonaro no São João de Caruaru - Foto: Isac Nóbrega/PR

A estupidez de Jair Bolsonaro (PL), destilando discursos golpistas e despautérios por onde passa, criou um "clima de velório" na ala política da campanha, que tem como coordenador o próprio filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), trabalhando em conjunto com os presidentes do PL e do PP, Valdemar da Costa Neto e o ministro da Casa Civil Ciro Nogueira, além do recém anunciado candidato a vice, o general Walter Braga Netto.

Segundo informações de Malu Gaspar, no jornal O Globo desta terça-feira (28), a confirmação precoce do militar como vice foi um dos motivos que irritou a ala política, que tentava implicar a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, para tentar barrar a rejeição de Bolsonaro no eleitorado feminino.

Marqueteiro da campanha, Duda Lima teria apresentado ao presidente na última quarta-feira (22) um plano de ação para os 100 dias de campanha.

O início do plano de ação começaria justamente no Nordeste, para onde Bolsonaro viajou e colecionou gafes - como no discurso de 23 segundos no São João de Caruaru, em Pernambuco, encoberto pelo coro "ei, Bolsonaro vai tomar no cu" da plateia.

Bolsonaro ainda teria cancelado de última hora uma reunião lideranças políticas da Paraíba, afastando-se ainda mais da estratégia no Nordeste, onde tem apenas 19% das intenções de votos contra cerca de 60% de Lula, segundo dados do Datafolha.

Ao contrário do que recomendou o marqueteiro e a ala política, Bolsonaro se ocupou em rebater as acusações de corrupção no MEC, sendo tragado para dentro da investigação, além de voltar a pregar o golpe na sua guerra pessoal contra o Supremo Tribunal Federal (STF).

“O risco de derrota só aumenta”, disse à jornalista da Globo um interlocutor da campanha, que afirmou que a frase que mais se ouve é que "o presidente está fazendo de tudo para perder". Mesmo tendo concordado com o plano de ação, Bolsonaro teria aberto fogo contra o marqueteiro, instalando uma guerra interna na campanha.

Um outro estrategista diz que o clima de velório se dá justamente pelo prazo, cada vez mais curto, até às eleições. “No nosso planejamento, junho seria o mês da virada, mas até agora só colecionamos problemas”.

Mesmo na ala militar, o clima é de fim de festa. Um general teria dito à repórter que o anúncio de Braga Netto como vice ficou com cara de "pão com êpa". “É como chamamos na linguagem militar, quando você abre o pão, cheio de expectativas, e não tem nada dentro”.