A gigante financeira XP Investimentos, que patrocina pesquisas eleitorais sobre a corrida à Presidência, em conjunto com o Ipespe, suspendeu a divulgação dos próximos resultados de seus levantamentos semanais por pressão de bolsonaristas, que estão indignados com o cenário cada vez mais consolidado do ex-presidente Lula (PT) à frente da disputa. A informação é da colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo.

A última sondagem mostrou Lula (PT) com 45% das intenções de voto, contra 34% de Jair Bolsonaro (PL), o que aproxima o petista de uma vitória já em primeiro turno, como mostrado por outros institutos, por exemplo o Datafolha. A gota d’água para o séquito palaciano bolsonarista, assim como para seus fanáticos seguidores radicais, foi um levantamento que revelou que para 35% dos brasileiros a honestidade é uma característica que pode ser atribuída a Lula, enquanto 30% disseram o mesmo sobre Bolsonaro.

Desde essas duas últimas pesquisas, de intenção de voto e sobre ser honesto, a agressividade das franjas extremistas que sustentam Jair Bolsonaro aumentou, as críticas ferozes contra a XP e o Ipespe se acentuaram e clima de desespero tomou conta da extrema-direita. Na cabeça dos admiradores do ocupante do Palácio do Planalto é impossível aceitar que Jair Bolsonaro e seus filhos, assim como o grosso de seus ministros, são vistos como corruptos pela população, mesmo com os sucessivos e intermináveis escândalos de desvios de verbas, enriquecimento ilícito, tráfico de influência, rachadinhas e aquisições de mansões milionárias envolvendo familiares e apoiadores.

Figurões do entorno presidencial, como seus filhos Flávio e Eduardo, respectivamente senador e deputado federal, assim como outros parlamentares da base de sustentação, passaram então a distribuir mensagens em grupos do Telegram e em redes sociais demonizando as empresas que realizam as sondagens e o próprio Lula. O deputado federal Bibo Nunes (PL-RS), num rompante de descontrole, chegou a traçar uma analogia em que o ex-presidente seria o diabo e o atual, seu ídolo, Jesus Cristo.

Até ministros do governo Bolsonaro, que deveriam se ater a seus papéis institucionais, vêm entrando em contato com a XP Investimentos e o Ipespe para reclamar dos resultados negativos do chefe. Algumas dessas personagens do séquito presidencial já tomaram a iniciativa de até propor boicote aos bolsonaristas que têm dinheiro depositado na empresa.

De acordo com Mônica Bergamo, o contrato para realização de pesquisas firmado pela XP teria sido passado para uma outra empresa ligada ao grupo empresarial, a Infomoney, por ser uma marca menos visada no mercado e sujeita a menos problemas por conta da sanha autoritária dos bolsonaristas.