Política

Gasolina aumenta e manifestos no país “sumiram”

Preço dos combustíveis tem batido recorde no Brasil e governo de Bolsonaro não consegue cumprir promessas de campanha

Por Thayanne Magalhães com Tribuna Independente 30/04/2022 09h47
Gasolina aumenta e manifestos no país “sumiram”
Preço pago pelo consumidor ultrapassa R$ 7,00, mas parece que os brasileiros estão “pouco incomodados” em desembolsar o valor - Foto: Adailson Calheiros

O preço da gasolina bateu novo recorde em todo país na última semana, segundo levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Os preços cada vez mais altos do combustível vêm afetando a capacidade de locomoção dos brasileiros. Segundo a ANP, o valor ficou em R$ 7,270 o litro na semana de 17 a 23 de abril, superando o recorde anterior de R$ 7,267, registrado na semana de 13 a 19 de março.

Em paralelo aos constantes aumentos dos preços dos combustíveis no governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), outra situação vem chamando a atenção, que é o “silêncio” do consumidor, que há poucos anos estava tomando as ruas em protesto, quando o preço do litro da gasolina estava abaixo de R$ 3,00.

“Durante as grandes manifestações de 2013, acreditava-se que o Brasil iria mudar, ser de esquerda, com um Congresso progressista, mas lá naquela época eu já dizia que aconteceria o contrário e infelizmente eu acertei. Hoje temos um Congresso conservador, uma sociedade conservadora, comandada por bancadas ruralistas, armamentista e religiosa, que usa a bíblia, a palavra de Deus para se eleger”, opinou o cientista político Jorge Vieira, em contato com a reportagem da Tribuna.

Para ele, a ausência de manifestações contra o aumento recorrente dos combustíveis é reflexo do “constrangimento” da classe média, maior responsável pelo cenário atual do país.

“O que acontece é que essa turma que foi para a mobilização, é a turma que hoje está envergonhada do que fez. A classe média é hipócrita e antiética. Diz que defende os valores da família e elegeram Bolsonaro e Bolsonaro é tudo, menos família. Ele que tem quatro, cinco ou seis ex-mulheres, com filhos de mulheres diferentes e que debocha dessa situação. Pura hipocrisia”, continuou.

Jorge Vieira destaca a escritora e filósofa Marilena Chaui sobre o papel da classe média na sociedade. “A classe média prega o que ela não faz. Então, essa questão dos combustíveis é só mais um detalhe, um item nesse contexto de que ela foi para a rua protestar contra um litro de gasolina abaixo de três reais, quando Dilma Rousseff [PT] era presidente, e agora está custando oito reais e o que vemos? Nenhuma manifestação”, critica o cientista político.

MERCADO INTERNACIONAL

O economista Renan Laurentino explicou para a Tribuna Independente que o sucessivo aumento do combustível no Brasil se dá pela política de preços atual, onde os preços cobrados nas refinarias se orientam pelas flutuações do preço do barril de petróleo no mercado internacional e do câmbio.

“Embora o dólar possa estar baixo, o barril do petróleo está em alta, principalmente em detrimento da guerra descompensada da Rússia contra a Ucrânia. Isso afeta cada vez mais o processo inflacionário. E sobre a sociedade não estar indo à rua para protestar contra o aumento, é algo realmente do comportamento do brasileiro. Não temos esse hábito de ir às ruas e lutar pelos nossos direitos como os argentinos e os franceses, por exemplo. É um hábito que deveríamos aderir, mas, nos resumimos a ir protestar nas redes sociais”, opinou.

Renan afirma que não tem como o cenário mudar. “A partir do momento que uma empresa como a Petrobras põe ações no mercado, nas bolsas de valores de Londres, dos Estados Unidos e na Bovespa, fica difícil acontecer uma mudança do dia para a noite. A gente ainda vai sofrer muito com essa forma de reajuste que está acontecendo”.

Economista: “governo poderia absorver o aumento”


O economista Renan Laurentino diz, ainda, que existe uma corrente de economistas que defende que o governo federal poderia criar um “colchão” para absorver uma parte do aumento.

“Por exemplo, se a gasolina está a R$ 7,00 na maioria dos postos, o governo poderia deixar que chegasse a R$ 5,20 para o consumidor final, segurando em média dois reais para não pesar tanto no bolso da população. Mas isso depende da legislação, de análise, medida provisória, de ir para o Senado”, explica.

Renan Laurentino lembra que o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços que é um imposto estadual) está congelado. “Existe uma cota única no país e o aumento é pelo mercado internacional, então esse imposto tem um efeito muito pequeno. O ideal seria que o governo segurasse esse impacto, ou seja, a partir do momento que o barril do petróleo aumentasse e o preço final da gasolina ficasse mais caro, ele absorveria uma parte disso”, reforçou.

ALTA DA INFLAÇÃO

Renan explica que o brasileiro ainda deve sentir por um bom tempo o reflexo da alta na inflação. “O combustível influencia na alta da cesta básica, nos serviços básicos, como por exemplo, a energia elétrica, que vai aumentar a partir do dia três de maio em 20%, muito mais do que nos anos de 2020 e 2021, que foi respectivamente de 8,96% e 9,62%”, explica.

“Está complicado para a classe média e baixa do Brasil, que está com a renda estrangulada com a alta nos preços e a gasolina é um grande fator porque é rodoviária. Quis o governo no passado, na década de 40, trabalhar única e exclusivamente no modal logístico rodoviário quando poderia estar trabalhando com o ferroviário”, concluiu o economista.