Política

Erundina defende que PSOL apoie Lula mesmo com Alckmin de vice

Aos 87 anos, Luiza Erundina confronta ala do PSOL que almeja lançar candidatura própria para presidente e defende "frente democrática, de união nacional" para derrotar Bolsonaro

Por Plinio Teodoro com Revista Fórum 29/12/2021 07h07
Erundina defende que PSOL apoie Lula mesmo com Alckmin de vice
Reprodução - Foto: Assessoria
Ex-prefeita que fez história em São Paulo – e ajudou, como vice, Guilherme Boulos (PSOL) a chegar ao segundo turno das eleições municipais de 2020 -, a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP) confirmou que está com Lula (PT) em 2022 para derrotar o bolsonarismo, mesmo que o vice seja Geraldo Alckmin, ex-tucano alvo de críticas de dirigentes do PSOL. “Antes da possibilidade de ter aliança com Alckmin na vice, havia quase consenso no partido de uma frente ampla com unidade das forças que queiram tirar o país deste abismo em que se encontra, derrotando o bolsonarismo, não só o Bolsonaro. E não seria apoiar qualquer um, porque Lula não é qualquer um, já foi testado como presidente duas vezes. Não é que ele tenha sido perfeito. Tenho restrições, fiz críticas a seus governos. Mas não dá para titubear, ele provavelmente seja um dos poucos capazes de derrotar Bolsonaro”, afirmou a parlamentar. Em entrevista à Folha de S.Paulo nesta terça-feira (28), Erundina disse que “não acha” que o PSOL deve ter candidato à Presidência e que o “primeiríssimo objetivo” do partido deve ser derrotar Bolsonaro. A deputada ressalta, no entanto, que a frente ampla em torno de Lula “não pode ser a qualquer preço” e lembrou o fisiologismo do PSDB, ex-partido de Alckmin, com um exemplo recente. “Lembremos que o [governador João] Doria apoiou o Bolsonaro. O modelo histórico do PSDB é de governos privatistas, neoliberais, de Estado mínimo e que subordinam o Legislativo”, afirmou. Erundina, no entanto, ressalta que “tem que haver uma frente democrática, de união nacional, defende um “programa da sociedade” para eleger Lula e cobra que a discussão seja feita logo. “Primeiro, tem que haver uma frente democrática, de união nacional. Não necessariamente tem que ser uma frente de esquerda, ortodoxa. E o programa tem que sair não do candidato ou dessa frente, mas da sociedade. Não vi até agora nenhuma discussão de programa. O que se pretende fazer com a economia, com os prejuízos que este governo deixou, com a austeridade fiscal imposta pelo teto de gastos?”, indaga. Aos 87 anos, a paraibana que presidiu a maior cidade do país, diz que muita gente já “se converteu” após perceber a “bobagem que fez” ao eleger Bolsonaro. A deputada ressalta, no entanto, que Bolsonaro não é pior que outros “políticos de direita”. “Não, a direita é sempre a direita. Não tem isso de melhor ou pior. É como a história de “capitalismo selvagem”: todo capitalismo é selvagem. Agora, essa direita que vive à custa da desigualdade e da discriminação racial e de gênero está atrasada demais”. Prestes a encerrar mais um mandato na Câmara Federal, Erundina sinaliza que deve entrar em nova disputa para reeleição ao parlamento e que entra em 2022 “cultivando a esperança”. “Eu cultivo a esperança. A desesperança é conservadora, porque é paralisante. Quando você reduz as expectativas, deixa de agir para mudar aquilo que precisa mudar. Sempre vou acreditar nisso. É por isso que eu vou morrer jovem, apesar da minha idade. Eu não preciso mais de mandato, poderia estar descansando. Mas não posso. Nasci para fazer as coisas que imagino serem obrigação minha, em nome dos pobres, dos excluídos, dos marginalizados. Eu sou dessa origem. E estou arrastando outras pessoas. É isso o que eu acho que é a política”.