Política

MP é cobrado sobre caso que envolve Maia em 'rachadinhas'

Parlamentar é acusado de manter servidores em seu gabinete e se apropriar de parte dos salários mensais

Por Tribuna Independente 14/10/2021 08h26
MP é cobrado sobre caso que envolve Maia em 'rachadinhas'
Reprodução - Foto: Assessoria
Circula em grupos de WhatsApp, desde o último final de semana, um vídeo de 43 segundos, com uma mensagem inicial direcionada ao Ministério Público Estadual de Alagoas (MP/AL), cobrando uma posição do órgão sobre a denúncia da “suposta rachadinha” no gabinete do deputado estadual Davi Maia (DEM). “Já se passaram 1 ano e até agora nada”, consta outra mensagem no vídeo. A denúncia foi revelada pela Tribuna Independente na edição de 26 de novembro de 2020 e repercutida também pelo portal Tribuna Hoje. Até o fechamento desta edição, o Ministério Público Estadual, que foi procurado pela Tribuna, não deu resposta se a denúncia avançou ou não no órgão. O CASO Com a ajuda de uma secretária parlamentar e de um irmão, o deputado estadual Davi Maia comanda um esquema de “rachadinha” com o salário dos servidores de seu gabinete na Assembleia Legislativa. O irmão do parlamentar, responsável pela operação do negócio é Marcelo Maia. A Tribuna teve acesso a um conjunto de diálogos mantidos por WhatsApp que confirmam a prática do suposto crime. Nas conversas pelo aplicativo, Cláudia Marques Freire, secretária parlamentar de Davi Maia, aparece combinando com servidores a devolução de parte do salário. Em alguns casos, ela lembra o número da conta da Caixa Econômica na qual o servidor deve depositar o dinheiro. E chega a enviar uma imagem do cartão do banco para o funcionário conferir os dados. Cláudia Marques também mostra preocupação com a segurança da operação. E manda um alerta para o servidor sobre o local de depósito. “Boa tarde. Oiã, faz o depósito na loteria visse. Pq não identifica” [a reportagem reproduz a grafia original das mensagens]. TRAMA FINANCEIRA A mesma preocupação com o sigilo da trama financeira aparece em outras conversas da secretária no WhatsApp. “Bom dia. se vc puder fazer via lotérica eu agradeço”, fala a operadora de confiança de Davi Maia. Do outro lado um servidor responde: “Vou tentar. Se conseguir, aviso, tá?”. A secretária arremata o acerto: “Ok, obrigada. Era isso viu que queria acertar contigo”. O depósito nas lotéricas não deixaria rastros das movimentações bancárias. Em outra conversa, Cláudia Marques orienta uma servidora a, depois de sacar o dinheiro, deixar o valor, em espécie, no escritório de Davi Maia. “Deixa dentro da gaveta que segunda eu estarei no terra”, diz a secretária numa referência ao Edifício Terra Brasilis, na praia da Avenida, onde está localizado o escritório do deputado. No papel de recolher parte do salário dos servidores – o dinheiro da “rachadinha” –, a secretária Cláudia Marques atua em parceria direta com Marcelo Maia, o irmão de Davi Maia. Depois de receber o repasse da secretária, Marcelo entrega tudo para o irmão Davi, fechando o círculo do esquema. Outro diálogo mostra que Maia é rigoroso na cobrança pelo salário do servidor. A data de repasse tem que ser imediatamente depois do pagamento do salário feito pela Assembleia. “Meu lindo, o salário já tá na conta desde ontem, as meninas já trouxeram e só falta você”, reclama a secretária Cláudia Marques para um funcionário que atrasou a devolução da parte de seu rendimento. “Quero isso logo que Marcelinho vem já aqui no gabinete p pegar”, diz ela numa referência ao gabinete de Davi Maia na ALE. O servidor responde: “Oi Cau, assim que eu estiver indo p a ALE eu vou logo na caixa da praça sacar e levo”. “Caixa”, nesse caso, é a agência da Caixa Econômica da Praça D. Pedro II, ao lado da sede da Assembleia. “Vc tirou o negócio???”. Começa assim outro diálogo sempre entre a secretária Cláudia Marques e algum servidor do gabinete de Davi Maia. “Negócio” aqui significa dinheiro. “Tirei ainda não. Quer que eu vá agora? Posso tirar 1,5”, responde o interlocutor numa referência ao valor de R$ 1,5 mil a ser devolvido. “Pego tudo amanhã, visse”, reforça a secretária. As conversas que aparecem nas gravações ocorreram entre dezembro de 2019 e julho de 2020. À época, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) informou que entraria com representação na Polícia Federal em Alagoas para que o caso fosse apurado. A Tribuna não conseguiu contato com o MCCE e também não obteve êxito em conseguir respostas sobre a trama financeira na Assembleia Legislativa junto ao deputado Davi Maia. O espaço segue aberto para respostas.