Política

Só dois deputados de Alagoas foram contra privatização da Eletrobras

Para presidente do Sindicato dos Urbanitários, Congresso criou um Frankenstein

Por Carlos Amaral 23/06/2021 07h50
Só dois deputados de Alagoas foram contra privatização da Eletrobras
Reprodução - Foto: Assessoria
A Câmara dos Deputados aprovou nesta segunda-feira (21) a Medida Provisória (MP) 1.301/2021 que autoriza a União da privatizar a Eletrobras. Após uma série de votações, ao chegar na redação final, apenas dois parlamentares da bancada alagoana na Casa foram contrários ao tema: Paulão (PT) e Tereza Nelma (PSDB). No início das votações da MP, Paulão votou pela obstrução da matéria, numa tentativa de adiar a votação. A sessão desta segunda foi convocada extraordinariamente pelo presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP), já que o texto perderia validade nesta quarta (23). “Isso foi uma orientação do nosso líder, Bohn Gass. Obstrução é quando se percebe haver parlamentares que podem estar com dificuldade de votar, no caso, pelo sistema remoto. A obstrução é um mecanismo que resguarda dos parlamentares”, explica. “Então, o PT num primeiro momento votou não e depois o líder solicitou a obstrução. É por isso que teve alguns que votaram, não, outros obstrução. Eu segui a orientação do líder”, completa o parlamentar. A reportagem contatou o deputado Pedro Vilela (PSDB), por meio de sua assessoria, para saber as razões de seu voto favorável à privatização da Eletrobras, mas até o fechamento desta edição não houve resposta. MP Segundo o texto aprovado pelo Congresso Nacional, a privatização da Eletrobras se dará por meio de capitalização. Ações serão emitidas para diminuir a participação da União na empresa, de 605 para 45%. Cada acionista ou grupo de acionistas não terá poder de voto superior a 10%. Ainda segundo a MP, a União manterá poder de veto nas deliberações sobre o estatuto social da empresa e uma nova estatal será criada para administrar a Eletronuclear, responsável pelas usinas de Angra e a Itaipu Binacional, que não serão privatizadas. O texto ainda estabelece reserva de mercado para a contratação de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), em leilões realizados até 2026. Para muitos especialistas, isso pode encarecer a conta de luz. Também ficou aprovado a prorrogação, por 20 anos, dos contratos das usinas construídas pelo Programa de Incentivos às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) por 20 anos. O preço para pela energia gerada pelo programa é superior ao de mercado, cuja diferença cai no bolso dos consumidores. A MP também aprovou medidas para a adoção de termoelétricas, geração de energia na Amazônia, logística populacional em regiões próximas às estruturas de geração de energia e de construção de novas linhas de transmissão. Congresso criou um Frankenstein, afirma dirigente sindical   Com a aprovação da MP da privatização da Eletrobras, a empresa mudará de formato que, na avaliação de Dafne Orion, presidente do Sindicato dos Urbanitários de Alagoas, a transformará numa anomalia, num Frankenstein. “Essa empresa que está para surgir com esse projeto que passou no Congresso – isso é consenso, independente se são liberais ou não – é que será uma anomalia. Está se gerando um Frankenstein que ninguém saberá como operar”, crava. “O que a gente sabe que o prejuízo vai ser muito grande para o Brasil, não só pelo aumento da tarifa e não só para o pequeno comprar, mas também para o grande consumidor pelo risco de crise hídrica”, completa. Ela ressalta a lucratividade bilionária da Eletrboras e sua posição destacada internacionalmente. “Uma empresa bilionária que empresa que vinha dando lucros bilionários todos os anos. Uma empresa que tem uma alta tecnologia de geração de energia, sendo referência, inclusive, no mundo”, comenta Dafne Orion. “Essa privatização é um retrocesso muito grande. O país voltará a gerar energia das termoelétricas, enquanto estávamos trabalhando com a energia eólica. É um passo enorme para trás”, completa. Em relação ao risco de crise hídrica, ela destaca a situação das cidades ribeirinhas do Nordeste. “Imagine, principalmente, aqui numa cidade do Nordeste, à beira do rio. Já sofrem com a seca e com esse uso da água destinado para gerar energia e visando só o lucro, porque é isso que acontece no setor privado, você tem aí um risco de crise hídrica muito grande, que afeta, sem dúvida, as famílias dos agricultores. Então, é imensurável o prejuízo dessa desfaçatez que foi a entrega duma empresa como a Eletrobras, da forma como foi feita”, afirma Dafne Orion.