Política

Bolsonaro reconhece vitória de Biden e cumprimenta presidente eleito dos EUA

Governo brasileiro tenta abrir pontes com o novo governo norte-americano, e há rumores no Itamaraty de mudanças tanto do chanceler, Ernesto Araújo, quanto do embaixador em Washington, Nelson Foster

Por Reuters 15/12/2020 21h40
Bolsonaro reconhece vitória de Biden e cumprimenta presidente eleito dos EUA
Reprodução - Foto: Assessoria
O presidente Jair Bolsonaro reconheceu nesta terça-feira o democrata Joe Biden como presidente eleito dos Estados Unidos e o cumprimentou pela eleição, 35 dias depois da vitória do democrata sobre o presidente Donald Trump e somente depois da confirmação na véspera pelo Colégio Eleitoral dos EUA. Em telegrama diplomático enviado pelo Itamaraty, e depois repetido em suas redes sociais, Bolsonaro foi um dos últimos líderes mundiais a reconhecer a eleição de Biden. “Saudações ao presidente Joe Biden, com meus melhores votos e a esperança de que os EUA sigam sendo ‘a terra dos livres e o lar dos corajosos’”, disse Bolsonaro. “Estarei pronto a trabalhar com V. Exa. e dar continuidade à construção de uma aliança Brasil-EUA, na defesa da soberania, da democracia e da liberdade em todo o mundo, assim como na integração econômico-comercial em benefício dos nossos povos”, acrescentou. Além de Bolsonaro, apenas os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e do México, Andrés Manuel López Obrador, ainda não haviam cumprimentado Biden até a reunião do Colégio Eleitoral, entre os principais países do mundo. Com a definição pelo Colégio Eleitoral, na segunda-feira, ambos informaram esta manhã que haviam enviado seus cumprimentos a Biden. Antes da divulgação oficial pelo governo, questionado pelo jornalista José Luiz Datena, da TV Band, em entrevista por telefone, Bolsonaro informou que tinha acabado de autorizar o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, a enviar a mensagem a Biden. Admitiu, ainda, que depois do resultado no Colégio Eleitoral, não poderia questionar mais o resultado. “Já que agora os delegados reconheceram que ele realmente foi eleito, eu não vou discutir mais a questão se houve ou não uma eleição tranquila lá. Não cabe mais eu falar absolutamente mais nada. Esperei o reconhecimento e nós aqui já fizemos o comunicado agora há pouco”, disse. O presidente resistiu a reconhecer a eleição do democrata ainda esperando uma reviravolta no resultado por uma das várias ações judiciais impetradas por Trump, sem sucesso. Mesmo sem evidências de fraudes, Bolsonaro comprou o discurso do republicano --de quem sempre se declarou um admirador-- e chegou a dizer que tinha ouvido de “fontes” nos Estados Unidos que teria havido “muita fraude por lá”. Sem querer admitir a derrota, Bolsonaro informou a auxiliares que cumprimentaria Biden apenas com o resultado oficial do Colégio Eleitoral. Agora, o governo brasileiro tenta abrir pontes com o novo governo norte-americano, e há rumores no Itamaraty de mudanças tanto do chanceler, Ernesto Araújo, quanto do embaixador em Washington, Nelson Foster, de acordo com uma fonte ouvida pela Reuters. Na entrevista a Datena, Bolsonaro demonstrou o interessem em tentar manter uma boa relação com os EUA, mesmo tendo criticado Biden por diversas vezes durante a campanha e ter torcido abertamente por Trump. “Da minha parte, e da parte dele com toda certeza, o americano é pragmático, nós vamos fazer um trabalho de cada vez mais aproximação”, disse. Bolsonaro lembrou que tinha uma “ótima relação” com Trump e afirmou que o Brasil avançou e conseguiu “algumas coisas” do governo norte-americano -- apesar de, na prática, o país ter feito mais concessões comerciais aos EUA e ter recebido pouco em troca. “O que o americano tinha do Brasil era sempre uma política um tanto quanto agressiva. Alguns presidentes, quase todos anteriores, né, chamando de imperialista, colocando neles a culpa de tudo de ruim que acontecia no mundo, e não é assim”, disse Bolsonaro a Datena. “Avançamos, conseguimos alguma coisa com governo Trump, e eu espero que com o Biden agora, se tudo der certo.” No entanto, Biden provavelmente assumirá uma posição mais dura em relação ao Brasil em áreas como meio ambiente, direitos humanos e comércio, possivelmente deixando Bolsonaro isolado no cenário global.