Política

Ex-porta-voz chama Bolsonaro de 'imperador imortal': 'Poder inebria, corrompe e destrói”

Rêgo Barros ainda ironiza o bordão "religioso" de Bolsonaro; "a autoridade muito rapidamente incorpora a crença de ter sido alçada ao olimpo por decisão divina, razão pela qual não precisa e não quer escutar as vaias. Não aceita ser contradita"

Por Plinio Teodoro com Revista Fórum 28/10/2020 09h10
Ex-porta-voz chama Bolsonaro de 'imperador imortal': 'Poder inebria, corrompe e destrói”
Reprodução - Foto: Assessoria
Exonerado do governo no dia 7 de outubro após uma série de humilhações no cargo, o ex-porta-voz da presidência, general Otávio Rêgo Barros, publicou artigo no Correio Braziliense nesta terça-feira (27) em que, sem citar diretamente o presidente, se refere a Jair Bolsonaro de forma irônica como “imperador imortal”. “Infelizmente, o poder inebria, corrompe e destrói! E se não há mais escravos discordantes leais a cochichar: “Lembra-te que és mortal”, a estabilidade política do império está sob risco. As demais instituições dessa república — parte da tríade do poder — precisarão, então, blindar-se contra os atos indecorosos, desalinhados dos interesses da sociedade, que advirão como decisões do “imperador imortal”, escreveu Rêgo Barros. O general, que foi alvo de Carlos Bolsonaro em sua passagem pelo governo e acabou escanteado pelo presidente, afirma que “a ovação de autoridades, de gente crédula e de muitos aduladores” pode encobrir “o senso de realidade” e ressalta que os projetos de campanha – “com vistas a convencer-nos a depositar nosso voto nas urnas eletrônicas” – “valem tanto quanto uma nota de sete reais”. “Os líderes atuais, após alcançarem suas vitórias nos coliseus eleitorais, são tragados pelos comentários babosos dos que o cercam ou pelas demonstrações alucinadas de seguidores de ocasião”, escreve. Rêgo Barros ainda ironiza o bordão “religioso” de Bolsonaro, do “Deus acima de todos”. “A autoridade muito rapidamente incorpora a crença de ter sido alçada ao olimpo por decisão divina, razão pela qual não precisa e não quer escutar as vaias. Não aceita ser contradita. Basta-se a si mesmo. Sua audição seletiva acolhe apenas as palmas. A soberba lhe cai como veste”. Por fim, o general conclama “as demais instituições dessa república” a não recuar diante de pressões e se refere à imprensa em um chamamento para “fortalecer-se na ética para o cumprimento de seu papel de informar, esclarecendo à população os pontos de fragilidade e os de potencialidade nos atos do César”.