Política

“Auxílio menor vai aumentar a recessão”

Economista Rômulo Sales ressalta que Alagoas recebeu, em recursos do benefício, quase a renda média de sua população

Por Carlos Amaral com Tribuna Independente 02/09/2020 08h54
“Auxílio menor vai aumentar a recessão”
Reprodução - Foto: Assessoria

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou ontem que o Auxílio Emergencial será prorrogado até o mês de dezembro, mas com o valor-base reduzido à metade, passando de R$ 600 para R$ 300. Contudo, o cálculo da perda de recursos em Alagoas – que já recebeu R$ 2,3 bilhões oriundos deste benefício – é mais complexo que uma simples divisão por dois, uma vez que há famílias recebendo R$ 1.200. Na avaliação do economista Rômulo Sales, os mais atingidos serão os mais pobres e vai gerar aumento de recessão.

“O anúncio da redução do valor do auxílio emergencial vai representar perda de renda paras as classes que mais se beneficiaram, C, D e E e claro, dificultar a retomada da economia pelo consumo das famílias, aprofundando a recessão que já estamos presenciando”, analisa. “De abril a julho, segundo dados do portal da transparência do governo federal, Alagoas recebeu R$ 2,3 bilhões apenas de auxílio emergencial. Desse total, 25,7% ficou na capital alagoana, R$ 591.595.800,00. Dividindo esses valores pela população, temos que em média, cada pessoa recebeu R$ 698,00 aproximadamente, valor muito próximo da renda média do alagoano. Essa conta básica reflete sumariamente a importância da manutenção desse auxílio no valor já estipulado.”, completa o economista.

Mesmo os cálculos de perda de recursos não sendo apenas uma divisão por dois, grosso modo e tendo por base o valor de R$ 600, Alagoas deixaria de receber R$ 1,15 bilhão.

“A conta não é tão direta assim, mas veja a dimensão  da importância, Recebemos o equivalente à renda média de Alagoas e uma redução para 300 é um impacto muito grande na renda dos alagoanos”, comenta.

Rômulo Sales ainda ressalta que, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), Alagoas está entre os estados que mais foram beneficiados com o Auxílio Emergencial.

“Essa redução, segundo pesquisa da FGV, indica que representará uma perda na renda total dos segurados de 17%. Ainda, os estados do Norte e Nordeste dado as suas limitações sociais e econômicas, foram os mais impactados positivamente com esses auxílios. Alagoas, Sergipe e Maranhão tiveram um acréscimo de mais de 120% na renda”, pontua.

Benefício não foi suficiente para manter consumo durante a pandemia

Mesmo com sua importância no atual momento de combate à pandemia de covid-19, o Auxílio Emergencial não foi suficiente para manter a demanda de consumo no país.

Cabe ressaltar que o valor de R$ 600 foi iniciativa do Congresso Nacional, uma vez que a proposta do governo Jair Bolsonaro era de R$ 200.

À Tribuna Independente, Rômulo Sales aponta alguns fatores da insuficiência em manter o consumo das famílias durante a crise gerada pela pandemia de covid-19.

“Esse Auxílio teve um papel importante nessa época de pandemia. Foi uma medida assertiva adotada pelo Governo Federal, muito embora tenha demorado a ser implementada. Porém, dados referentes ao PIB divulgados hoje [terça, 1º] pelo IBGE revelaram que o esforço de estimular o consumo através desses programas não foi suficiente para sustentar a demanda do país”, relata. “O consumo das famílias no 2º trimestre deste ano caiu 12,5% em comparação com o 1º trimestre de 2020, e 13,5% em comparação com igual período de 2019. Vale lembrar que o consumo das famílias representa em torno de 65% do PIB do país”, completa Rômulo Sales.

Ao defender a redução, à metade, do valor-base do Auxílio Emergencial, o presidente Jair Bolsonaro voltou a repetir que “o valor de R$ 600, como vínhamos dizendo, é muito para quem paga. Podemos dizer que não é um valor suficiente para todas as necessidades, mas basicamente, atende”.

Na mesma coletiva em que o presidente anunciou a redução do Auxílio, o líder do governo no Congresso, deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), disse que a decisão consiste em “responsabilidade fiscal, rigor nas contas públicas e no cumprimento do compromisso de manter o teto dos gastos”.

HISTÓRICO

O Auxílio Emergencial foi criado para mitigar os efeitos da crise econômica causada pela pandemia da covid-19.

Com o isolamento social, milhões de brasileiros ficaram sem trabalhar e até o fim de agosto, foram liberados R$ 184,6 bilhões a 67,2 milhões de beneficiários.

De cara, ele foi avo de um embate entre o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto por causa do valor a ser pago. A equipe econômica do governo propôs R$ 200, mas os parlamentares aprovaram R$ 600.

A primeira parcela do benefício começou a ser paga em abril, mas muitos ainda não tinham feito o cadastro.

A ideia inicial era fazer somente três pagamentos de R$ 600 mensais.

Porém, com a continuidade da pandemia no país, o governo prorrogou o benefício por mais dois meses em 30 de junho.

O pedido para o recebimento das cinco parcelas pôde ser feito até 2 de julho.

Atualmente, há um escalonamento de pagamentos de acordo com a data em que o beneficiário conseguiu fazer o cadastro e seu mês de seu aniversário.

Haverá pessoas recebendo o Auxílio Emergencial até 15 de dezembro.