Política

Sindicatos atacam congelamento salarial de servidores públicos

Dirigentes sindicais se dizem revoltados com decisão da Câmara Federal e Bolsonaro, que, acusam, liberou dinheiro a bancos

Por Texto: Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 22/08/2020 08h58
Sindicatos atacam congelamento salarial de servidores públicos
Reprodução - Foto: Assessoria
Representantes de entidades sindicais de Alagoas criticam a aprovação pela Câmara dos Deputados do veto do presidente Bolsonaro a qualquer reajuste salarial para o funcionalismo público - federal, estadual e municipal - até o fim de 2021. Além do impacto no bolso dos servidores, o congelamento deve causar um efeito negativo na economia do Estado, é que apontam especialistas ouvidos pela Tribuna. A presidente do Sindicato dos Urbanitários em Alagoas, Dafne Ceres, considera que a medida comprova que o discurso do Governo Federal é “contraditório”. LINHA DE FRENTE Ela salienta que nem mesmo os servidores da linha de frente da pandemia foram poupados. “O impacto negativo é a primeira coisa, estamos falando de um conjunto de profissionais que estavam na linha de frente do combate ao Covid-19, que não tiveram o privilégio da quarentena, que ficaram expostos o tempo todo, expondo suas famílias, e não tiveram reconhecimento do trabalho. Pior que isso é o discurso,  Se é para fazer economia, porque esse mesmo Executivo não deixou de propor o R$ 1 trilhão que foi emprestado aos bancos, que nem passou pelo Congresso? Esse mesmo executivo teve dinheiro para a Equatorial e mesmo assim a empresa aumentou a conta da energia elétrica e quem vai pagar é o povo. Não pode pagar salário aos servidores, mas empresta dinheiro a banco, a empresa privada... Isso chama a atenção e mostra que o discurso é totalmente contraditório, que não faz sentido”, aponta Ceres. Dafne Ceres afirma que em todo o país as centrais sindicais estão articuladas para resistir e questionar judicialmente a medida que impede aumento salarial dos servidores públicos. Para a presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Educação em Alagoas (Sinteal), Consuelo Correia, o sentimento é de indignação. DEMONIZADOS “Nós, servidores públicos, recebemos com muita indignação. Não foi surpresa que o Congresso votasse desta forma, porque eles beneficiam os banqueiros, que receberam trilhões, e nós servidores públicos somos demonizados como se ganhássemos muito dinheiro. Somos o bode expiatório da vez, somos os marajás, e tem que retirar até o que nós conquistamos, eles entram e reduzem nosso salários. Nós vemos com muita indignação esse desmonte, essa agressão aos trabalhadores, aos servidores públicos, que são quem efetivamente garante a execução das políticas públicas”, afirma. Analistas apontam efeitos negativos para a economia alagoana Os impactos da pandemia na atividade econômica podem ser ainda mais agravados de forma local. É que segundo dois economistas ouvidos pela reportagem, o funcionalismo público representa uma grande parcela da sociedade com poder de compra. O economista Cid Olival pontua que a situação é bastante preocupante. “O veto do Congresso ao reajuste de salários de servidores públicos é bastante preocupante para a economia alagoana porque a rubrica de administração, defesa, saúde pública e seguridade social representam mais de 25% do PIB de Alagoas em 2017, esse é o dado mais recente, significa dizer que mais de ¼ da geração de riqueza do estado de Alagoas está concentrada na administração pública. É importante ressaltar que há uma diferença muito grande entre os salários recebidos pelos diversos setores que compõem a administração pública. Parte da administração pública é representada por profissionais da educação, da saúde, da segurança e uma parte com os maiores salários diz respeito ao judiciário e ao legislativo, então o não reajuste desta categoria pensando na situação de pandemia e pós pandemia vivenciado pelo país e especificamente por Alagoas, traz uma paralisia na atividade consumo o que pode resultar em uma menor recuperação da atividade econômica do Estado”, avalia. Cid Olival acrescenta que a medida “elimina” a possibilidade de recuperação da economia no cenário de pós-pandemia. “Como nós temos acompanhado, a pandemia tem causado impacto em vários setores produtivos, muita gente desempregada ou desalentada ou na informalidade, com salários muito baixos e manter pelo menos a recomposição do poder de compra do poder público seria uma forma de estimulação da atividade econômica via consumo. Quando o governo elimina essa possibilidade, isso quer dizer que uma parte significativa dos servidores não terão sue poder de compra reestabelecido e será menor ao longo dos anos porque ainda que tenhamos inflação baixa ela se apresenta a cada ano, não temos situação de deflação, eu vejo com bastante preocupação de não ter esses reajustes e ser mais um elemento de desestímulo ao consumo”. Para o também economista Lucas Emanuel de Barros, os prejuízos vão além de 2021, devem repercutir por muito tempo. Porque segundo ele, não há indicativo que em 2022 haverá reposição das perdas salariais ou irá abrir os concursos que não foram abertos. “A questão é que o atual (des)Governo federal escolheu mais uma vez atacar os servidores públicos. Os mesmos que estão na linha de frente do combate ao covid19 - profissionais da saúde, serviço social, segurança pública, professores, limpeza urbana, etc. Pois não passa de uma mentira descarada que irá aumentar os gastos públicos ao ponto de comprometer o orçamento. Esse ano no mês de março o Governo Federal disponibilizou R$1,3 trilhões para o mercado financeiro, e agora querem que os trabalhadores pagam a conta da crise”. Em Alagoas - continuou ele - sentiremos isso em um duplo movimento: 1- o funcionalismo público tem movimentado a economia pelo consumo, congelar seus salários por mais de um ano é diminuir o poder de compra dessa categoria; 2- o veto proíbe a abertura de novos concursos públicos, dificultando a contratação por este mecanismo, com seleção justa, de várias áreas que são carentes de profissionais, especialmente saúde e educação.