Política

Arcebispo sobre coronavírus: 'Não temos o direito de apavorar a sociedade'

Dom Antônio Muniz explica as ações da Arquidiocese de Maceió no combate à proliferação do coronavírus e alfineta Bolsonaro

18/03/2020 08h35
Arcebispo sobre coronavírus: 'Não temos o direito de apavorar a sociedade'
Reprodução - Foto: Assessoria
O arcebispo de Maceió dom Antônio Muniz anunciou ontem (17) com mais detalhes as ações da Arquidiocese no combate à proliferação do coronavírus (Covid-19). A principal justificativa para as mudanças de práticas dos ritos católicos, ou de suspensão de eventos da Igreja, foi o de promover a solidariedade. Contudo, o líder religioso ressalta a importância de evitar o pânico e ainda alfinetou – sem citá-lo diretamente – o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). “Não temos o direito de apavorar a sociedade. A primeira coisa é seguir a mesma disciplina do papa Francisco: a solidariedade no momento oportuno. Depois, não entrar nessa onda do pânico, do pavor e do medo. O medo baixa a imunidade das pessoas. As pessoas com medo são mais vulneráveis, a gente sabe disso. E uma sociedade com medo será mais vulnerável ainda e não vai poder enfrentar o problema de cabeça erguida”, afirma dom Antônio Muniz. “Todos nós já sabemos da natureza desse vírus – ou da não natureza, pois parece que é um ‘ET’ –, a ciência está procurando [respostas] junto com a OMS [Organização Mundial de Saúde], os ministérios, os presidentes – os presidentes responsáveis, eu digo, aqueles que têm uma preocupação, realmente, sobre essa questão”, completa o líder da Arquidiocese de Maceió da Igreja Católica. O presidente Jair Bolsonaro, no último dia 15, contrariou orientações do Ministério da Saúde de ter contato com o mínimo de pessoas possível e foi ao encontro de manifestantes em frente ao Palácio do Planalto durante ato pelo fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF) e pela reedição do Ato Institucional nº 5 (AI-5). Ele manteve contato recente com pessoas infectadas pelo coronavírus. Até fechamento desta edição, um total de 13 pessoas. “A Igreja tem olhado para o lado macro e também para o lado micro, que seria o disciplinamento daquilo que, na Igreja e sua prática, pudesse ser um vetor para a disseminação do vírus. Pensamos que assim podemos colaborar um pouco com todas as forças-tarefas. Essa crise é muito grande, a maior do Ocidente depois da Segunda Guerra Mundial”, diz dom Antônio Muniz. Segundo relato do arcebispo, ficam suspensas as procissões e as práticas penitenciais e encontros a partir de 100 pessoas. “As missas seguem normais, mas faremos o apelo para que haja uma assembleia mais reduzida. Quando não se conseguir isto, vai se dividir em vários horários, onde havia duas missas, vai se abrir mais duas ou três e, assim, ter mais diversificação do público e as pessoas não se exponham. O Abraço da Paz ou dar a mão para o Pai Nosso, a comunhão na boca, estão suspensos”, explica dom Antônio Muniz. “Os colégios de confissão católica, também, já vamos pedir para tenham cuidado, mas não é preciso que as coisas sejam feitas de supetão, com esse nervosismo todo, esse medo e esse pavor”, completa.