Política

Alfredo Gaspar: “Sem receio para recomeçar a carreira”

Bem avaliado em parte do eleitorado de Maceió para disputar a prefeitura, procurador-geral do MPE reflete sobre a possibilidade

Por Texto: Carlos Amaral com Tribuna Independente 11/01/2020 12h33
Alfredo Gaspar: “Sem receio para recomeçar a carreira”
Reprodução - Foto: Assessoria
Ventilado como candidato à Prefeitura de Maceió, e com boa viabilidade eleitoral, segundo pesquisas recentes, o procurador-geral de Justiça Alfredo Gaspar de Mendonça Neto aproveita seu período de férias do Ministério Público Estadual (MPE) para refletir se aceitará o desafio de concorrer nas eleições deste ano. Sem confirmar, nem negar a possível candidatura, à Tribuna, ele ressalta ser adepto de encarar desafios e assumir novas tarefas. O chefe do MPE também falou do acordo recém-assinado entre órgãos de controle e a Braskem, ao qual classificou como “melhor possível”.   Tribuna Independente – Muito tem se ventilado seu nome como candidato na eleição à Prefeitura de Maceió este ano. O senhor já decidiu se será candidato? Alfredo Gaspar – Eu tenho pleno conhecimento que isso se dá em reconhecimento de um trabalho que fiz ao longo de minha vida profissional. Então, fico muito lisonjeado em ter meu nome, sendo filho de Maceió, lembrado. Eu não sou político, não vivo na política. Ou seja, se as pessoas lembram do meu nome é porque alguma coisa de boa foi realizada da minha parte profissionalmente. Sem nenhuma petulância, é apenas um sentimento que tenho. Estou na instituição Ministério Público e enquanto estiver nela, eu não irei dar nenhuma declaração a respeito deste fato, mas tirei férias agora e elas servem justamente para que eu possa, com mais tranquilidade, aos 49 anos de idade, pensar se é hora de recomeçar. Tribuna Independente – É assim que o senhor encara a possibilidade de candidatura, como um recomeço? Alfredo Gaspar – Eu tenho uma vida que poderia ter sido tranquila, mas sempre fui atrás dos desafios. Eu nunca me acomodei na função pública. Fui ser promotor criminal, depois promotor do júri, depois ser coordenador do Gaeco [Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, do MPE], depois fui ser secretário de Segurança quando Alagoas e Maceió tinham os índices mais altos em violência, depois fui ser procurador-geral de Justiça, depois fui ser presidente do GNCOC [Grupo Nacional de Combate às Organizações Criminosa], e atuei muito tempo como professor universitário. Ou seja, eu sempre procurei desafios em minha vida e não foram fáceis, sempre tive de me superar para dar o melhor de mim. Mas veja, como lhe digo, acho que o homem público nem pode ter medo de desafios nem apego excessivo a cargos e estabilidade. Eu nunca estive – nem pensei em estar – no Ministério Público porque eu tenho salário tão somente no fim do mês. Eu sempre quis estar no Ministério Público para mudar a vida das pessoas e suas realidades. Digo isso com minha história de vida e não da boca para fora. Então, tirei férias e confesso que estou num momento de bastante reflexão, mas ninguém pense que tenho receio de recomeçar. Apenas estou analisando se posso continuar mudando a vida das pessoas no Ministério Público ou se posso fazer parte de uma ferramenta em que tenha mais prazer ainda em conseguir essa mudança. Tribuna Independente – Entre os critérios que passem por suas reflexões, os prós e contras para aceitar esse desafio, está a escolha do partido, o senhor dá essa importância para a legenda que possa vir a se filiar? Alfredo Gaspar – Estando onde estiver, meus princípios são inegociáveis. E o princípio é um conjunto de fatores. Se essa decisão realmente se solidificar, todas as questões passarão pela minha cabeça. Tribuna Independente – Tivemos este recente acordo entre órgãos de controle e a Braskem para indenizar as famílias dos bairros atingidos por afundamento, mas muitos moradores têm dúvidas ainda acerca do trato. Este foi, de fato, o melhor acordo possível? Alfredo Gaspar – Preciso voltar um pouquinho no tempo. Em 2018, ocorreu o episódio do tremor e se começou um inquérito sobre o fato dentro do Ministério Público Estadual. Depois formei uma comissão – na qual eu presidi – e em 2019, antes mesmo das pessoas apontarem a mineração de sal-gema como causa principal – ou do resultado das perícias da CPRM e da ANM –, nós impetramos uma ação porque reunimos todas as provas que indicavam a Braskem como a responsável. Com base nisso, o Ministério Público Estadual e a Defensoria Pública do Estado entraram com uma ação pedindo R$ 6 bilhões e 719 milhões [de bloqueio de bens da Braskem]. A partir daí, a nossa maior preocupação era a agilidade do pagamento às pessoas da área de risco para que elas se deslocassem dali porque sempre houve indicativo de risco iminente de morte. Fomos à Justiça estadual, que reconheceu a competência da Justiça Federal. Depois, isso foi confirmado em liminar pelo TRF [Tribunal Regional Federal da 5ª Região]. O juiz de primeiro grau da Justiça estadual enviou o caso para a Justiça Federal e decidimos não contestar isso para não atrasar mais o andamento do processo. Lá na Justiça Federal, o juiz disse que ficaria na ação não somente o Ministério Público Estadual – e a Defensoria Pública Estadual – como também o Ministério Público Federal e a Defensoria da União. E assim foi feito. Depois de muitas reuniões, inclusive muito tensas, onde houve por parte das instituições atuação muito incisiva, resolvemos fazer o acordo, quando a corda já estava bastante esticada. Não tinha mais o que fazer. Cada instituição, todas elas, queria mais um benefício em prol da população atingida. Se você perguntar se foi um acordo tranquilo, eu digo que não. Foi um acordo em que teve muita tensão, muita discussão, e que as instituições se empenharam muito para poder ter duas condições: agilidade e benefícios à população atingida. Mas se você perguntar se o acordo foi o melhor dos mundos, digo que sim dentro daquilo que foi possível.