Política

Rui Palmeira descarta apoio a JHC para prefeito

Prefeito de Maceió se coloca como “candidato natural” para disputar o Governo de Alagoas

Por Texto: Carlos Amaral com Tribuna Independente 21/12/2019 08h08
Rui Palmeira descarta apoio a JHC para prefeito
Reprodução - Foto: Assessoria
Às vésperas de iniciar seu último ano de mandato à frente da Prefeitura de Maceió, Rui Palmeira (PSDB) aponta a educação como ponto mais forte de sua passagem no cargo. Em entrevista exclusiva à Tribuna, o prefeito falou de frustrações no comando do Poder Executivo da capital alagoana, da relação com os servidores e com o governador Renan Filho (MDB), de como tem lidado com a situação dos bairros em afundamento e de seu futuro político. Para 2020, Rui Palmeira quer nome tucano para sua sucessão, volta a vetar JHC (PSB), aliado do senador Rodrigo Cunha (PSDB), e se vê candidato ao Palácio República dos Palmares em 2022.   Tribuna Independente – O senhor está entrando agora em 2020 em seu último ano à frente da Prefeitura de Maceió, até aqui o que avalia como ponto mais positivo e qual a frustração, aquilo que não conseguiu fazer? Rui Palmeira – O que acredito que a educação será a nossa marca. Quando assumimos em 2013, Maceió tinha um problema sério na área. Primeiro, a descontinuidade do trabalho. A gestão do meu antecessor foram 13 secretários em oito anos, assim é impossível dar sequência a qualquer tipo de trabalho. Em 2013, a rede estava desestruturada e as pessoas desmotivadas. A gente conseguiu fazer um bom trabalho, buscando parcerias com o Instituto Ayrton Senna, Pnud [Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento] e outros. O resultado na educação nunca vem no curto prazo. A gente começa a colher agora, com o último Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] mostrando Maceió, do primeiro ao quinto ano, na quarta colocação entre as capitais do Nordeste. Antes a gente era o penúltimo colocado antes de 2013. Então, a gente começa a colher os frutos agora. As pessoas não enxergam isso com muita facilidade, mas eu diria que isso me orgulha bastante, ter deixado esse legado. Mas tem muita coisa por fazer ainda nesse último ano e melhorar a avaliação no Ideb e disputar com capitais como Fortaleza ou Teresina as primeiras colocações. Tribuna Independente – E aquilo que não conseguiu fazer... Rui Palmeira – Minha grande frustração é o ‘De Frente Pra Lagoa’. Vamos nos reunir com o presidente da Caixa Econômica Federal [Pedro Duarte Guimarães] e um das principais pautas – falei até para o superintendente de Alagoas – é exatamente esse projeto. Assinamos contrato há um ano, o mais difícil foi a questão do terreno. A gente fez uma coisa quase inédita no país. A gente fez um levantamento da área, que pertence à União que, por sua vez, fez a cessão de uso ao Município que usou aquela área como contrapartida. Se fosse área privada a União pagaria por ela através da Caixa. Avaliou-se o terreno e a obra que faremos quando tirar a favela será bancada por uma empresa que, ao invés de pagar à Prefeitura, ela fará a parte de área com esse recurso. Foi uma construção complexa, mas conseguimos fazer. Só que agora falta o repasse, nesses 12 meses que temos contrato nunca chegou um centavo sequer. Vamos apelar mais uma vez ao presidente da Caixa e mostrar a importância social daquilo para Maceió e Alagoas. Aquilo é uma chaga. Para mim será uma frustração porque não serei eu quem vai entregar a obra, mas se conseguir no próximo ano deixar a obra em bom ritmo já ficarei muito feliz. A frustração é não entregar e não ver aquela situação resolvida, que é o problema que mais marca Maceió do ponto de vista social, ambiental, violência. Tudo isso está ali naquela região. Se a gente consegue tirar as favelas, colocar as pessoas em apartamentos, passar a nova via onde hoje é a favela, acho que iria elevar a qualidade de vida daquelas pessoas. Tribuna Independente – Com relação aos servidores, como o senhor avalia sua relação com eles e os sindicatos? Recentemente houve atritos por causa do estatuto deles e eles também reclamam pouco acesso ao senhor. Rui Palmeira – A gente tenta ter a melhor relação possível. Claro que quando a gente tem embate com os servidores é sempre ruim. Para os dois lados. A gente teve alguns recentemente. Eu falei para eles que a questão do estatuto – que eu não consegui – que se o próximo prefeito não mudá-lo, não vai pagar a folha. Temos coisas no estatuto que precisam ser revistas. Por exemplo, o chamado mérito, em que se concede 5% a cada dois anos para todos os servidores. Num período em que a inflação é 3% ao ano, obrigatoriamente a cada dois conceder 5%, mais o anuênio de 1%, mas a necessidade de reajuste anual quando possível. Ou seja, essa folha é incontrolável. Esse ano a gente não deu reajuste, mas a folha vai crescer quase 4%. No meu entendimento, alguns desses direitos são privilégios, que não cabem mais diante da situação econômica do país e da cidade, vão levar o Município para ter cada vez mais dificuldade. O Município não tem capacidade de investimento com recurso próprio – isso é quase zero – porque todo o recurso arrecadado vai para a folha. Todo IPTU arrecadado ano passado não chegou a R$ 120 milhões no ano. A folha dá pelo de R$ 90 milhões por mês. Essa conta não fecha e uma hora vai estourar. Acredito que o próximo prefeito terá de tomar medidas e mudar alguns pontos no estatuto dos servidores, sob pena de não pagar a folha no primeiro ano de 2021. Tribuna Independente – Qual a sua avaliação da relação com o Governo do Estado, uma vez que o senhor e o governador Renan Filho – que já deu declarações dando a entender que ele fez mais por Maceió que a Prefeitura – tem encabeçado polos políticos adversários nas últimas eleições? Rui Palmeira – É bom que o governador pense dessa forma. Acho que quanto mais ele fizer, melhor para a população. A Prefeitura quer que se faça, independentemente se o recurso é federal, estadual ou municipal, a gente quer é melhoria para o povo de Maceió. Então, que o governador faça ainda mais por Maceió. A gente não tem uma relação política de parceria, mas institucionalmente, quando for necessário, a gente vai conversar. Acho que a Prefeitura tem feito seu trabalho independentemente das questões estaduais. Hoje estamos com o ‘Nova Maceió’, que é o maior programa de investimento da história da cidade, inclusive em esgotamento sanitário, que nunca foi foco de investimento do Município. Vamos levar esgotamento sanitário para regiões como o Litoral Norte que não tem sequer polo coletor e sistema de tratamento. Vamos iniciar, em janeiro, o esgotamento sanitário no Clima Bom, parte do Tabuleiro, Santa Lúcia e Aero Clube e boa parte da Cidade Universitária. Tudo isso é investimento que a Prefeitura está fazendo. A gente espera entregar, até o final de 2020, muita coisa bacana à cidade. Mas o que eu gosto no governador Renan Filho é a humildade dele, me comove. Tribuna Independente – Em relação à situação do bairro Pinheiro [depois Bebedouro e Mutange], como foi receber a informação desse problema, de afundamento, para além das falas públicas, que precisam ser protocolares? Rui Palmeira – Foi muito duro. A gente já vem trabalhando no Pinheiro há muito tempo. Tanto é que, no primeiro mandato, a Prefeitura fez uma obra em um dos prédios do conjunto Jardim Acácia, por ele ter começado a ceder, e naquele momento as equipes de engenharia e se achou que como uma galeria de água pluvial da Prefeitura cedeu, nós tínhamos responsabilidade. Fomos lá e investimos, salvo engano, R$ 400 mil. Isso foi em 2015. Quando a gente clamou pela vinda das equipes, primeiro da UFRN [Universidade Federal do Rio Grande do Norte] e depois da CPRM [Serviço Geológico do Brasil], a gente acompanhou os estudos e no momento em que a Defesa Civil Nacional, ainda no governo Michel Temer [MDB], eu estive em Brasília com o secretário nacional da Defesa Civil. Quando ele disse que a situação de Maceió necessidade de decreto de emergência, na outra semana a gente o publicou. Óbvio que a gente ficou muito reticente porque achamos que isso ia causar mais pânico, mas quando ouvimos o chefe da Defesa Civil do país dizer para publicar o decreto, nós tivemos de fazer. Depois saímos da emergência e passamos para a calamidade pública. A Prefeitura tem atuado com toda a sua força, com toda sua mão de obra. Levamos a Defesa Civil municipal para dentro do Pinheiro. A gente tem, realmente, buscado fazer o que for possível para a Prefeitura que, sozinha, não tem condições de enfrentar isso, até porque nunca houve um fato como esse em área urbana no Brasil. Lamentavelmente, nos últimos meses, precisamos solicitar que diversas famílias deixassem suas casas. Hoje nós temos essa grande preocupação que o Mutange, que precisamos desocupar. Infelizmente, a gente vê muito oportunismo político e fake news, que têm atrapalhado muito. Por exemplo, a gente foi fazer o cadastramento do Mutange – exigido pelo Governo Federal – mas boa parte das famílias se recusa a fazê-lo porque acha que se ela receber uma casa poderá perder o direito a uma futura, possível, indenização da Braskem. Isso não é verdade. Estamos há meses coletando documentos e enviando a Brasília que precisar publicar uma portaria para flexibilizar alguns pontos do Minha Casa Minha Vida, senão a gente não consegue levar essas pessoas para essas casas. Hoje temos 740 casas 100% prontas para entregar, mas só conseguimos cadastrar de menos de 700 famílias. Tribuna Independente – O senhor era tido como candidato ao Governo do Estado em 2018, apesar de nunca ter dito que seria, mas anunciou perto das convenções que não disputaria a eleição. Está no seu horizonte concorrer ao Palácio República dos Palmares em 2022? Rui Palmeira – Eu acho que é natural. Desde que me elegi em 2006 a deputado estadual, depois fui federal e prefeito da capital do estado por duas vezes. Então, acho que natural. Claro que em política nem sempre o desejo se torna realidade, até porque a composição para disputar o Governo do Estado não é uma coisa simples. Não se pode ser candidato de si mesmo, é preciso agregar outras forças, outros partidos. O trabalho que fiz aqui em 2012 e 2016, eu vou precisar fazer em nível estadual quando deixar a Prefeitura. Claro que vontade, desejo, existe. E acho que é o caminho natural, mas vai depender de muitos fatores ainda. Preciso terminar bem minha gestão e vou trabalhar com muito afinco para ajudar a eleger um sucessor. Acho que essa é minha meta para 2020. Tribuna Independente – Esse “caminho natural” em 2022 é pelo PSDB ou há a possibilidade de trocar de partido? Rui Palmeira – Exato. Estou no PSDB desde 2007, 2008. Minha ideia é permanecer no partido. Inclusive, nacionalmente, o país precisa encontrar um caminho para quebrar essa polarização e acho que o PSDB é uma das possibilidades. Espero continuar no partido, só se não quiserem nele. Tribuna Independente – O senhor já tem um nome para a sucessão, mesmo que ainda guardado consigo? Rui Palmeira – Eu tenho um nome já. Espero que no início próximo ano a gente possa ter essa definição. Tribuna Independente – É do PSDB? Rui Palmeira – O nome sempre foi do PSDB. O que eu quero é um candidato do PSDB, que possa dar continuidade ao nosso trabalho. Claro que não depende só de mim, preciso conversar com outras forças do partido. Sobretudo, com o senador Rodrigo Cunha, mas minha vontade é, espero e acredito, ter um nome do PSDB. Tribuna Independente – O senhor chegou a vetar o JHC (PSB), cujo apoio do PSDB foi ventilado por causa da aproximação dele com o senador Rodrigo Cunha. Essa relação deles o preocupa, sob o ponto de vista de composição eleitoral para 2020? Rui Palmeira – Eu já disse mais de uma vez, e repito, que não vou sob hipótese alguma apoiar o deputado João Caldas [JHC]. Não há possibilidade de isso acontecer porque ele é oposição a mim. Estou há sete anos – indo par ao oitavo – na Prefeitura e quero apoiar alguém do meu campo político. Não tem a menor lógica apoiar alguém, seja o JHC ou outro, da oposição. Isso não entra na cabeça de ninguém. Então meu trabalho vai ser apoiar alguém do nosso campo e entendo que o senador Rodrigo Cunha, como presidente do PSDB no estado, vai apoiar alguém do partido, apesar da ligação pessoal dele com o JHC. Eu também tenho ligação pessoal e amizade com pré-candidatos de outros partidos, mas quero apoiar alguém do PSDB. Nossa luta será exatamente essa. Tribuna Independente – Tem interesse em voltar a dirigir o partido nesse hiato entre o fim do mandato em Maceió e a eleição em 2022? Rui Palmeira – O ex-governador Téo Vilela foi muito generoso quando passou o comando da legenda para mim após deixar o Governo do Estado. ‘Agora a maior liderança do PSDB é você que é prefeito da capital’. Agora, apenas retribui. Acho que a maior liderança política do PSDB é, sem sombra de dúvida, o senador Rodrigo Cunha. Pela votação e pelo primeiro ano de mandato que vem exercendo. Então, passei para ele a bola. Acho que no futuro a gente tem de ver outra pessoa para comandar o partido, apesar de achar que ele está em boas mãos. Minha meta é finalizar bem o mandato em 2020 e em 2021 eu vou ver o que vou fazer e depois pensar na eleição estadual.