Política
Gervásio Raimundo: ex-deputado que se notabilizou como maior construtor de igrejas em AL
Primeiro personagem do Linha do Tempo é o agropecuarista, ex-vereador e ex-deputado estadual de 90 anos, que conta passagens marcantes de sua trajetória de vida
Gervásio sentado em um dos bancos do velho grupo escolar já abandonado
Como grande destaque nesta primeira edição do Linha do Tempo, Gervásio Raimundo dos Santos, 90 anos, revela como se tornou um dos maiores construtores de igrejas de Alagoas e, quiçá, do Nordeste. Não à toa, a principal manchete e a foto de capa deste caderno fazem alusão ao famoso filme “O Pagador de Promessas”, que atravessou fronteiras e cuja produção cinematográfica recebeu o prêmio da Palma de Ouro no festival de Cannes, em 1962. Neste número ainda, Gervásio, que tem como base eleitoral o município de Palmeira dos Índios e parte do Agreste alagoano, conta como venceu na vida de agropecuarista para depois ingressar na carreira política bem-sucedida, capaz de deixar como herdeiros nada menos que o atual presidente da Assembleia Legislativa de Alagoas, o jovem Marcelo Victor, além de ajudar a eleger também o neto Ronaldo Raimundo, que exerce o mandato de vereador em sua Palmeira dos Índios. DOCUMENTÁRIO Nesta edição também, o ex-deputado conta passagens do que viu em seus mandatos e relembra casos engraçados da sua vida. Outra grande novidade que este projeto vai propiciar, além do material impresso, é um videodocumentário do personagem que estará disponível na plataforma multimídia da Jorgraf (site tribunahoje.com e TV Tribuna Web). https://www.youtube.com/watch?v=IVLw7wWaWQU Boa leitura a todos! 1950 - O jovem Gervásio enfrenta o mundo, vence e brilha O menino Gervásio, o caçula de dez irmãos, saiu da sua Quebrangulo para enfrentar a vida e ganhar seu primeiros trocados vendendo feijão na feira do município vizinho de Palmeira dos Índios, onde mora até os dias de hoje. Mas foi no início dos anos 1950 que o rapazinho Gervásio arrendou uma padaria em Palmeira dos Índios e onde deu os primeiros passos como comerciante. Depois, o proprietário pediu de volta o imóvel, o que surpreendeu a Gervásio. “Ele viu dar lucro e pediu de volta”, conta.A escola onde Gervásio aprendeu as primeiras letras na infância
Mas isso não esmoreceu o novo comerciante em potencial que surgia naquela Palmeira dos Índios dos anos 50. Correu atrás, alugou um bar, reformou, depois adquiriu o imóvel e o transformou em outro ponto de padaria e continuou a crescer. “Foi a primeira padaria elétrica da região, onde eu vendia produtos como farinha de trigo, manteiga e por aí afora. Comecei a ganhar dinheiro”, relembra. “Depois comecei a negociar com açúcar e foi aí que ganhei muito dinheiro e o ramo que me botou pra frente de verdade”, completa, ao dizer que exportava esse produto para estados como Pernambuco, Sergipe e Bahia. Com as economias do negócio, foi nesta época que Gervásio comprou as primeiras fazendas e propriedades cuja maioria conserva até hoje. 1960 - O início da carreira política O começo da carreira política de Gervásio Raimundo foi nos anos de 1950. Saído da pequena Quebrangulo, terra do também ilustre escritor e jornalista Graciliano Ramos. Mas foi no município vizinho, Palmeira dos Índios, que Gervásio fez carreira política. Foi eleito três vezes vereador e daí para ser eleito duas vezes presidente da Câmara do município.Gervásio, ao tocar no retrato exposto na Câmara Municipal de Palmeira dos Índios, onde foi presidente e vereador por três legislaturas
Quem lhe deu o incentivo para entrar na política foi um irmão que já havia sido vereador por cinco vezes em Quebrangulo, e outro que morava no Paraná, que também era vereador numa cidade paranaense. Mas o desejo definitivo de entrar na política veio com inspiração de um amigo. “Um dia vi um amigo meu, o Waldir Pitu fazer aqueles discursos bonitos e me entusiasmei com aquilo. Até que ingressei no Partido Libertador (PL) e comecei a frequentar comícios. Daí recebi um convite do prefeito de Palmeira dos Índios na época, o Juca Sampaio”, conta o ex-deputado. “Depois de exercer por três vezes o cargo de vereador, eu quis alçar voos mais altos e me candidatei como deputado estadual e ganhei”, completa Gervásio. Nos anos 1960 entrou pela primeira vez na Assembleia Legislativa como suplente do deputado estadual palmeirense Jota Duarte.Gervásio na cadeira de presidente da Casa
Mas foi por volta de 1978 que exerceu seu primeiro mandato como deputado estadual, eleito com pouco mais de 6 mil votos.Material de campanha do então candidato a deputado Gervásio Raimundo em 1978
Daí não perdeu mais nenhuma eleição até finalizar carreira no início dos anos 2000. Aquele menino que saiu da pequena Quebrangulo para brilhar em Palmeira dos Índios completou 90 anos no dia 30 de outubro. Na passagem pelos povoados, na produção desta reportagem, sempre alguém o cumprimenta e grita daqui e acolá entre os sítios e fazendas do lugar com o “prefixo” que identifica sua personalidade: “Opa, Deputado!”. "É assim que sou conhecido no meu lugar. 'Deputado!' O povo só me conhece assim por aqui”. 2000 - O construtor de igrejas Mas antes mesmo de se tornar deputado estadual por vários mandatos, o sentimento religioso sempre dominou o íntimo de Gervásio Raimundo.“Se era para eu fazer boates para o povo tomar cachaça, eu sempre pensava em construir igrejas para as pessoas rezarem e lembrarem de Deus”, justifica.Ex-deputado posa em frente a outro templo que mandou erguer em um dos povoados
E o pensamento se concretizou. Ao todo ergueu 10 templos, um marco na história por essas bandas. Questionado com que recursos construiu as igrejas, Gervásio responde. “Olhe, se eu ganhava 10 mil com o mandato de deputado, eu gastava 15 mil para construir essas igrejas”, explica, ao acrescentar que sempre despendeu recursos de suas atividades agropecuárias e particulares para construir as igrejas.Gervásio sentado em frente à primeira igreja que mandou construir em homenagem à mãe
A primeira a ser construída foi em intenção da mãe, dona Adélia Ferreira dos Santos, que era devota de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. O pároco da comunidade de Quebrangulo deu um “empurrãozinho” ao apelar para ele construir, pelo menos, uma capelinha no pequeno povoado em Quebrangulo. Aquele pedido ficou na cabeça de Gervásio e a primeira das igrejas a ser construída foi a de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, perto de um Sítio, em 2000. Estava ali cumprido o desejo do padre e, de quebra, uma homenagem à mãe. A inauguração foi em 2000 e doada à Paróquia de Quebrangulo.Uma de suas obras religiosas é o mausoléu idêntico à Catedral de Brasília, dentro do cemitério de Palmeira dos Índios, onde pretende ser sepultado
Daí em diante, Gérvásio não parou mais de construir templos religiosos nos povoados de Palmeira dos Índios, Igaci, Belém e Quebrangulo. Hoje, além da Igreja do Perpétuo Socorro, as igrejas estão espalhadas assim: No Povoado Cabeça Dantas, no município de Belém; Povoado Lagoa da Coroa, em Estrela de Alagoas; Povoado Uruçu; Povoado Mata Amarela, em Igaci, Sítio do Meio, Povoado Santo Antônio e também no Povoado Vila Nova, em Palmeira dos Índios, onde foi construída a única igreja evangélica da lista. Destaque ainda para a construção de um mausoléu da família, no cemitério de Palmeira, onde está sepultada sua mãe. A obra foi inspirada na Catedral de Brasília. A menina dos olhos de Gervásio A igreja que é a “menina dos olhos” de Gervásio Raimundo está no município de Estrela de Alagoas dedicada a São Sebastião, no povoado Ipueiras. Nesta obra, tem material egresso até da Inglaterra. “A maior obra aqui não é estrada, não é escola, não é nada. Aqui neste município até hoje foi a maior obra, tido nela é perfeito. A iluminação é toda especial. Não se faz esta obra com menos de dois milhões”, cravou Gervásio, admirado com a construção que mandou erguer. 2002 - Um açude que mata a sede do povo Todo carinho demonstrado pelo povo simples do lugar ao eterno “Deputado” em um dos povoados de Quebrangulo, Gervásio Raimundo, com certeza é por causa de uma obra que propiciou banho limpo e água de qualidade para o povo beber.Gervásio ao lado da placa de inauguração da Barragem do Rio Piauí, que construiu
No grande lago de água límpida e onde há uma plantação de 150 paus ipês, a barragem abastece o equivalente a 350 famílias que recebem uma água apropriada para consumo. “Antes esse povo tinha que se deslocar muito longe daqui para ter água de qualidade. Fiz questão de plantar todo tipo de ipês de toda cor neste açude, além de várias espécies de peixes aí”, conta. A barragem da nascente do Rio Piauí foi inaugurada em 2002. 2019 - Os herdeiros e um certo presidente da Assembleia Ao voltar a convite da reportagem nas casas legislativas por onde exerceu seus mandatos e fez história, tanto como vereador como deputado estadual, Gervásio fala com orgulho de seus herdeiros.Uma trinca política de sucesso: Gervásio, o neto Ronaldo Raimundo (no meio) e o presidente da Assembleia, Marcelo Victor
“Meu maior orgulho é ter eleito o meu filho, Marcelo Victor Correia dos Santos, como deputado estadual e hoje presidente da Assembleia Legislativa”, diz Gervásio. Marcelo Victor é natural de Palmeira dos Índios e em 2014 obteve a marca de 41.829 votos, já em 2018 obteve 39.422 votos. Nas eleições para a presidência da Casa em 2019, demonstrou habilidade nas articulações na queda de braço com Olavo Calheiros, tio de ninguém menos que o governador do Estado, Renan Filho, colocando por terra o projeto de Olavo Calheiros presidir o parlamento estadual. Já o outro herdeiro político é o neto Ronaldo Raimundo, vereador em Palmeira. Os 'causos' hilários contados por ele mesmo O engenheiro e ex-deputado estadual por várias legislaturas Temóteo Correia, colega de Gervásio Raimundo na Assembleia Legislativa, chegou a escrever um livro intitulado “O Pitoresco da Política no País das Alagoas”. Na obra, Temóteo cita algumas frases hilárias atribuídas a vários personagens da política alagoana, entre eles, claro, está Gervásio Raimundo. Mas nos textos abaixo, a Tribuna Independente colheu algumas marcantes e alguns ‘causos’ contados pelo próprio Gervásio neste 1º número do Linha do Tempo. Confira: “O MELHOR NEGÓCIO DO MUNDO É GADO” Agropecuarista Gervásio Raimundo fala com autoridade de um assunto que o elevou à condição de um bem-sucedido negócio: a venda de gado. “Olhe, meu filho, quem negocia com imóvel aluga e não recebe o aluguel. Quando o cabra mora um ano, quer ser o dono da casa e é só confusão. Mas com gado não! Com uma propriedade, você coloca o gado dentro, você vende ou troca e é só lucro, não tem como dar errado”, ensina o ex-deputado. No auge do ramo com gado, Gervásio diz que teve cerca de 4 mil cabeças de gado. “Mas hoje estou mais tranquilo com isso, com apenas 110 cabeças, mas o meu prazer é criar boi”, completa. DE ESTAÇÃO EM ESTAÇÃO, O GALANTEADOR Em cada estação de trem, lá pelos idos dos anos 50 e 60, o então rapazinho namorador que só ele, Gervásio Raimundo diz que teve uma namorada em cada estação de trem em Alagoas, embora não fosse exatamente um funcionário da Rede Ferroviária Federal. “Eu era meio danado. Tinha uma namorada em cada estação. Eu saía de Palmeira (dos Índios) tipo de 3h da manhã e ia para as estações de Atalaia, Capela, Rio Largo e por aí afora. Tinha sempre uma namorada me esperando”. “VALENTIM, O DEPUTADO FROUXO” Na época do pedido de impeachment do ex-governador Divaldo Suruagy, episódio ocorrido em 17 de julho de 1997, com funcionários com vários meses de salários em atraso, policiais militares, civis, revoltados e armados ameaçaram invadir o recinto da Assembleia Legislativa e exigir que os deputados votassem pela saída de Suruagy, Gervásio Raimundo foi uma das testemunhas dos fatos que ocorreram naquele dia dentro da Assembleia, ilhada pela revolta do povo. Curiosamente, o nome do deputado que mais tremia nas bases com medo da invasão do povo, segundo Gervásio, tinha “Valentim” no nome. “O mais frouxo era o deputado Cícero Valentim. Ele desceu da escada numa corda vestido de mulher para não ser identificado pelo povo e não morrer, caso houvesse uma invasão. Eu não! Estive lá firme, junto com meus outros colegas, pronto pra qualquer coisa”, conta. “Mas toda aquela confusão lá dentro foi causada pela deputada Heloísa Helena, que fazia muita zoada”, completou. COCA FAMÍLIA E A “COCA COMUM” Certa vez, de passagem por Arapiraca lá nos anos 1980, Gervásio, ainda muito galanteador, parou para o almoço em um restaurante com algumas “amigas”, depois de uma caminhada da campanha política puxada e parou em um restaurante da cidade. Na época, estava na moda um produto da Coca-Cola chamado “Coca-Família”, que dava para matar a sede de várias pessoas ao mesmo tempo. Para refrescar e relaxar da caminhada, Gervásio pediu uns comes e bebes para ele e as tais “amigas” acompanhantes, no que foi interpelado pelo garçom. — O senhor vai querer uma Coca-Família pra elas? — Não, não, traga Coca-Cola comum mesmo, essas aqui são tudo p. mesmo! - respondeu Gervásio.Mais lidas
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