Política

'Impeachment não deve prosperar no Congresso', avalia cientista política

Para Luciana Santana, falta clima político para pedido de David Miranda seguir adiante

Por Carlos Amaral com Tribuna Independente 05/11/2019 08h37
'Impeachment não deve prosperar no Congresso', avalia cientista política
Reprodução - Foto: Assessoria
Após Jair Bolsonaro (PSL) declarar à Rede Record ter pegado áudios da portaria de seu condomínio que são elementos de investigação sobre o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, o deputado federal David Miranda (PSOL) declarou que irá formalizar pedido de impeachment contra o presidente da República. Contudo, na avaliação da cientista política Luciana Santana, apesar de a iniciativa ser legítima, ela não deve prosperar no Congresso Nacional. “É legítimo que o deputado David Miranda apresente o pedido porque, realmente, a forma como tem sido conduzia a investigação sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco é algo bastante sério e, no momento em que há citações ao nome do presidente, isso precisaria ser motivo de ser apreciado de forma mais ativa pelos poderes responsáveis”, comenta. “Mas será que há abertura pelo Rodrigo Maia [DEM, presidente da Câmara dos Deputados] para acatar o pedido. A meu ver, ele não está disposto a isso. Se queira ou não, pedidos de impeachment não são situações tranquilas, são bastante traumáticos e recentemente passamos por um. Não acho que haja clima político no âmbito do Congresso para acatar esse pedido, diferente do que ocorreu com o Eduardo Cunha [MDB], que tinha um ambiente propício no interior da Câmara para aceitar o pedido”, completa a cientista política. No último sábado (2), Jair Bolsonaro declarou ter pegado os áudios da portaria de seu condomínio no Rio de Janeiro “antes que fosse adulterada, ou tentasse adulterar, pegamos toda a memória da secretária eletrônica”. Isso é obstrução da Justiça e crime de responsabilidade. Contudo, no domingo (3), à Rede Record, ele desdisse a afirmação do dia anterior. “O que eu fiz foi filmar a secretária eletrônica com a respectiva voz de quem atendeu o telefone. Só isso, mais nada. Não peguei, não fiz backup, não fiz nada”. Para deputado, o pedido “precisa de rua”   O deputado federal Paulão (PT) adota um tom cauteloso em relação à iniciativa de seu colega do PSOL. Para o petista, impeachments precisam de elementos políticos e não só legais para seguirem adiante. “Tem enraizamento popular para ter o impeachment? Essa é a grande pergunta”, crava. “Mesmo o PT fazendo oposição ao Jair Bolsonaro e tendo muitas críticas à forma errática, tacanha, com muito ódio e intolerância de ele governar – fazendo um corte ideológico de extrema-direita –, ele foi eleito pela maioria do povo brasileiro. A gente tem de ter muitos argumentos, do ponto de vista da legislação, para fundamentar o impedimento. Mais que isso, é necessário também ter um sentimento popular e ainda não percebo a maioria da população ir à rua solicitando o impedimento. Esse elemento político é um fator muito forte, não basta somente a parte legal”, afirma o petista. Já o deputado federal JHC (PSB), por meio de sua assessoria, prefere não comentar o caso. A reportagem também contatou outros parlamentares da bancada alagoana na Câmara dos Deputados, mas até o fechamento desta edição não houve resposta. STF Mesmo ao avaliar que o pedido de David Miranda não prospere na Câmara dos Deputados, a cientista política Luciana Santana entende ser necessário o envolvimento do Supremo Tribunal Federal (STF) no caso. E se, numa possibilidade remota, Rodrigo Maia estivesse disposto a acatar o pedido, os parlamentares não estariam. “Acredito que, caso venha a ser acatado pelo Rodrigo Maia, talvez agora, apesar de toda a fragmentação, de falta de coesão na base do presidente, os deputados ainda não estariam dispostos a enfrentar um processo desses. De qualquer forma, o tema é bastante relevante. Se não o Congresso, o STF deveria se posicionar em relação ao caso”, diz a cientista política.