Política

Maioria da bancada alagoana fica em silêncio sobre Bolsonaro

Parlamentares de Alagoas no Congresso Nacional evitam falar sobre envolvimento do presidente com assassinato de Marielle Franco

Por Carlos Amaral com Tribuna Independente 31/10/2019 08h34
Maioria da bancada alagoana fica em silêncio sobre Bolsonaro
Reprodução - Foto: Assessoria
Jair Bolsonaro (PSL) foi envolvido diretamente na investigação do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL). Em reportagem do Jornal Nacional, da Rede Globo, exibida na terça-feira (29), foi revelado depoimento do porteiro do condomínio onde reside o presidente no qual ele diz que um dos suspeitos de matar a parlamentar foi até a casa do ex-capitão no dia do crime, em 14 de março de 2018. Diante de tal fato, a bancada alagoana, via de regra, parece não querer se posicionar publicamente. Ao menos por enquanto. Dos procurados pela Tribuna Independente, apenas os deputados federais Paulão (PT), Marx Beltrão (PSD) e João Henrique Caldas (JHC), do PSB, responderam à reportagem. Mesmo assim, a assessoria de JHC disse que ele não comentaria o tema. Os demais, seja por via direta ou por assessoria, não responderam até o fechamento desta edição. Para Marx Beltrão, líder da bancada alagoana no Congresso Nacional, o fato requer “serenidade e cautela”. “Acredito que o momento requer bom senso, serenidade e cautela nas manifestações. Além do mais, devemos sempre seguir o que determina a Lei. O Brasil requer equilíbrio. Se o presidente foi citado, cabe o devido trâmite legal, sem pré-julgamentos, sem açodamento, com rigor e com justiça acima de tudo. Todos têm o direito de defesa preservado, inclusive o presidente. Mas este clima de ânimos acirrados não é bom para o Brasil. Temos uma tarefa imensa de retomar o desenvolvimento social e econômico nacional e qualquer cenário de desestabilização pode prejudicar o alcance desta meta”, afirma Marx Beltrão através de sua assessoria. PORTEIRO Segundo a reportagem da Globo, um porteiro do condomínio onde Jair Bolsonaro tem casa no Rio de Janeiro, em depoimento, disse à polícia civil fluminense que o ex-policial Élcio Queiroz, suspeito de envolvimento no assassinato de Marielle Franco, disse na portaria do condomínio que iria à casa do presidente, na época deputado federal. De acordo com o depoimento do porteiro, o suspeito pediu para ir na casa de Bolsonaro e um homem com a mesma voz do presidente teria atendido o interfone e autorizado a entrada, mas o acusado teria ido a outra casa dentro do condomínio. O porteiro ainda disse ter acompanhado a movimentação do carro pelas câmeras de segurança e viu que, ao entrar no condomínio, Élcio foi à casa 66. Lá morava Ronnie Lessa, outro suspeito do assassinato. CARLOS BOLSONARO Na quarta-feira (30), Carlos Bolsonaro, filho do presidente, publicou vídeo nas redes sociais, segundo ele gravado na administração do condomínio, no qual rebate a reportagem da Globo. No vídeo, ele reproduz a ligação registrada às 17h13. O porteiro anuncia a chegada do “senhor Élcio” e uma voz diferente do presidente Jair Bolsonaro responde que pode liberar a entrada. Para Paulão, Bolsonaro e Moro transformam PF em polícia política   Logo após a veiculação da reportagem do Jornal Nacional, o presidente Jair Bolsonaro entrou ao vivo nas redes sociais para atacar a Rede Globo. Durante a transmissão, ele ainda destacou que pediria a Sergio Moro, ministro da Justiça, para que a Polícia Federal (PF) investigue o porteiro e o depoimento que ele deu à polícia civil do Rio de Janeiro. Para Paulão, isso deixa claro que ambos transformaram a PF numa polícia política. [caption id="attachment_336828" align="alignleft" width="260"] Deputado Paulão diz que não restam dúvidas sobre o rebaixamento da Polícia Federal no atual governo (Foto: Sandro Lima/arquivo)[/caption] “Está demonstrado o rebaixamento da PF, que hoje é uma polícia política. O Moro está totalmente submisso, cabisbaixo e bajulando o chefe. Isso é complicado para a democracia e faz lembrar o período áureo do processo da policia política do nazismo. É muito grave”, afirma o petista. “Espero que o Ministério Público tenha serenidade, coragem, já que é o dono da ação, para abrir esse procedimento dessa denúncia”, completa. De fato, Sergio Moro solicitou oficialmente que o desejo do presidente fosse realizado e comunicou a solicitação à Procuradoria Geral de República (PGR) e à PF. Augusto Aras, procurador-geral da República, arquivou a denúncia na tarde desta quarta. “Já há posição de alguns juristas de que se isso ocorrer, usurpando a competência da polícia civil do Rio e colocar a PF a serviço de uma ação privada do presidente, isso dá margem a um pedido de impedimento”, comenta o parlamentar. Paulão também questiona que se não foi Jair Bolsonaro quem atendeu ao interfone se teria sido algum de seus filhos. Na verdade, o nome do filho mais novo do presidente é Jair Renan Bolsonaro e ele namorou a filha de Ronie Lessa, um dos suspeitos de matar Marielle Franco e que teria recebido a visita de Élcio Queiroz no dia 14 de março de 2018. SILÊNCIO Até o fechamento desta edição, os demais parlamentares da bancada alagoana no Congresso não tinham se manifestado sobre o caso, nem em suas redes sociais, palco tão utilizado para emitir opinião e expor fotos com agendas políticas. MP/RJ No final da tarde desta quarta, a procuradora do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), Simone Sibilio, chefe do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), afirmou que o porteiro do condomínio onde Jair Bolsonaro tem residência mentiu em depoimento. “Pode ter sido um equívoco, pode ter sido por vários motivos que o porteiro mencionou a casa 58 (de Jair Bolsonaro). E eles serão apurados”, declara a procuradora. Entretanto, a Globo afirmou ter tido acesso ao livro de visitas da portaria do condomínio.