Política

Assessor de Fernando Collor foi laranja em leilões

Ao pedir autorização ao STF para a Operação Arremate, PGR aponta Tarso Sarmento como “testa de ferro” do parlamentar

Por Tribuna Independente 15/10/2019 08h46
Assessor de Fernando Collor foi laranja em leilões
Reprodução - Foto: Assessoria
Um assessor parlamentar do senador Fernando Collor (PROS), de nome Tarso de Lima Sarmento, é apontado como “laranja” do parlamentar no suposto esquema de lavagem de capitais a partir de aquisição de imóveis em leilões. Entre os prédios arrematados pelo assessor do senador, inclui o local onde funcionava o antigo jornal Tribuna de Alagoas, no bairro da Serraria, em Maceió. O salário recebido pelo assessor é de R$ 4,6 mil líquidos, mas as movimentações financeiras e as compras de imóveis superam – e muito – esses valores. As informações constam na representação da Procuradoria Geral da República (PGR) quando pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a autorização para a operação “Arremate”, realizada na última sexta-feira (11). Os 16 mandados de busca e apreensão da Arremate foram autorizados pelo ministro Edson Fachin e a representação da PGR foi assinada por Raquel Dodge, antecessora de Augusto Aras no cargo. De acordo com a então PGR, as investigações para apurar se Fernando Collor está lavando dinheiro através de aquisições de imóveis em leilões por meio de laranjas surgiram através de um denúncia anônima por medo de represálias. O denunciante já apontou Tarso Sarmento como pessoa de confiança do senador. Durante as investigações, o Ministério Público Federal (MPF) identificou que parte dos valores dos imóveis arrematados por Tarso Sarmento têm origem na empreiteira CCB Engenharia e que a empresa possui contratos “vultuosos” com o Estado de Alagoas. Além de atuar como laranja do senador nos leilões, Tarso Sarmento também fez – segundo o MPF – transações financeiras com um dos filhos de Fernando Collor, que teria emprestado ao assessor R$ 830 mil. Fora isso, uma Range Rover V8, declarada pelo parlamentar à Justiça Eleitoral nas eleições de 2018 estaria em nome do assessor. Na representação, Raquel Dodge narrou como teria ocorrido a aquisição de um imóvel com valor em R$ 1,7 milhão. “Essa dinâmica de pagamentos evidencia que o pagamento do bem arrematado por Tarso de Lima Sarmento no valor de R$ 1.700.000,00 foi realizado, integralmente, com recurso oriundos da pessoa jurídica CCB Engenharia, futura compradora do bem pela quantia de R$ 2.065.000,00 e pessoa jurídica que teria emprestado, anteriormente, R$ 1.600.000,00”, relatou a então PGR. Outro detalhe apontado pela PGR é que em 2010, Tarso Sarmento declarou à Receita Federal rendimentos de R$ 39 mil, mas seus imóveis somavam R$ 358 mil. “Observou-se também a existência de diversos depósitos feitos na conta pessoal de Tarso Sarmento que, somados, ultrapassam R$ 500 mil entre setembro e outubro de 2010”, disse a PGR. Ela lembra também que o período entre 2010 e 2014 é o das denúncias contra Fernando Collor por supostas propinas na BR Distribuidora. Nas alegações finais, Raquel Dodge pediu 22 anos, 8 meses e 20 dias de cadeia para senador. Os esquemas, segundo ela, chegam a R$ 50 milhões em propinas. OUTROS "LARANJAS" Além de Tarso, sua esposa, de nome Rachel Melo de Oliveira Sarmento, outras oito pessoas são apontadas pela Polícia Federal e MPF como participantes ativos do “laranjal de Collor”. São eles: Osvaldo Antonio Pinto Sarmento (pai de Tarso), Ana Suely Melo de Oliveira (sogra de Tarso), Arciron Mendonça de Oliveira (sogro de Tarso), Rafael Melo de Oliveira (cunhado de Tarso), Felipe Rodrigues de Lima Conde, Daniella Rodrigues de Lima Conde e Bruno Rodrigues de Lima Conde - estes três últimos também integrantes da empresa Conexão, igualmente denunciada. Além dela a PF e MPF apontam ainda as empresas CCB Engenharia, Indústria e Comércio Ltda., América Locações e Serviços e Vila dos Pescadores Empreendimento Imobiliário SPE Ltda. Em nota, senador chama operação Arremate de “historieta” No último sábado (12), o senador Fernando Collor divulgou nota na qual critica a operação Arremate, a chama de “historieta” e fruto de “malicioso engenho mental”. [caption id="attachment_272942" align="alignright" width="300"] Fernando Collor (Foto: Sandro Lima / Arquivo)[/caption] “Com relação à violência sofrida no dia de ontem [sexta, 11], quando vitimado por busca e apreensão em minha residência, após inteirar-me dos fatos pela imprensa, já que não fornecido, até então, o inteiro teor da acusação pelos Órgãos Oficiais, venho, indignado e perplexo, apresentar o meu mais veemente repúdio ao ato em questão”, inicia a nota. “Envolto na historieta criada pelo malicioso engenho mental de integrantes da Polícia Federal e setores do Ministério Público, sustentados por supostos e inverossímeis relatos de fontes humanas não identificadas, fui figura central de uma busca e apreensão residencial baseada, não em indícios veementes – aptos a afastar o direito a inviolabilidade do lar –, mas em mera e irreal suposição de inquisidores destituídos de bom senso, prudência e responsabilidade funcional, porém, movidos por manifesta má-fé e espírito emulativo”, afirma. Segundo o senador, seu envolvimento na Arremate – que classifica como “abusiva, absurda e sórdida trama” – se deu “por pretendido e ilustrativo glamour a ser dado em publicidade autopromocional, por aqueles que, desprovidos de competência para auferir aplausos curriculares por méritos intelectuais, buscam o brilho fácil e fugaz dos holofotes midiáticos, a qualquer custo e por qualquer meio”. Fernando Collor cita como prova de sua inocência o fato de o MPF em Alagoas chegar a ter pedido o arquivamento das investigações. “Até as pedras em Alagoas testemunham a inexistência de qualquer envolvimento de minha parte em tudo o quanto ali narrado. Aliás, de tão manifesta a ausência de ilícitos a mim vinculados, a Procuradoria da República em Alagoas, mais próxima da realidade local, responsavelmente, já havia requerido o arquivamento dos autos por ausência de conduta criminal típica”, segue a nota do senador.