Política

'Impacto de cota do etanol é devastador para o Nordeste'

Presidente do Sindaçúcar diz que empresas não irão comprar dos produtores locais

Por Jairo Silva, com Diário do Poder e El País Brasil com Tribuna Independente 06/09/2019 08h35
'Impacto de cota do etanol é devastador para o Nordeste'
Reprodução - Foto: Assessoria
Preocupados com a possibilidade de perda de receita e superprodução devido à ampliação da cota de importação de etanol dos Estados Unidos livre de alíquota, representantes dos produtores de açúcar e álcool de Alagoas estiveram nesta quinta-feira (5) em Brasília com os ministros da Economia, Paulo Guedes e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina para dialogar sobre a situação atual do setor frente a esta medida. Atualmente, o imposto de importação para o etanol é de 20%, mas a tarifa só é cobrada se o país ultrapassar o novo volume isento. Dentro do limite, a tarifa é zero para qualquer país. De acordo com dados de 2018, 99,7% das importações brasileiras de etanol vêm dos Estados Unidos. A nova cota, que passou para 750 milhões de litros por ano já está em vigor, com validade de 12 meses. A medida beneficia os produtores americanos que poderão comercializar uma maior quantidade de Etanol e faz parte de um pacote de medidas bilaterais dialogadas entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente norte americano Donald Trump. Em 2018 o volume de etanol americano importado chegou a 1,7 bilhões de litros. De acordo com informações divulgadas pelo Sindicato dos produtores de Açúcar e Álcool de Alagoas – Sindaçúcar/AL –, se esta medida for implementada sem uma contrapartida, seja na exportação do açúcar brasileiro, seja no subsídio ao Etanol distribuído no Brasil, à ampliação da exportação pode atingir diretamente mais de 20 mil fornecedores de cana e quase 300 mil empregos em todo o Nordeste, já que a ampliação do volume autorizado pelo Governo Federal, de 600 para 750 milhões de litros, representa 34% da produção da região. Para o presidente do Sindaçúcar/AL, Pedro Robério, “significa dizer que toda produção do Nordeste vai vir dos EUA, isso em plena safra. O impacto dessa importação no Nordeste é devastador. Significa dizer que essas empresas distribuidoras que estão importando não vão comprar o álcool produzido localmente”, ponderou o presidente. Prejudicados por dois anos, enquanto durou a medida de cotas de importação de etanol, publicada em agosto de 2017, onde os principiais beneficiados foram os produtores dos Estados Unidos, este era o momento em que os produtores de Etanol de todo o país esperavam a suspensão da medida e não a sua ampliação, como foi feita pelo governo federal no último dia 5. “O Brasil produz etanol necessário para abastecer. Se não pode revogar a concessão, que eu acho muito provável, pelo menos, esse volume de etanol isento seja descarregado em portos do Sul, e não no Nordeste, onde o impacto é bem menor. 750 milhões de litros para a região do Centro-Sul tem impacto pequeno. Isso para a produção do Nordeste é muito grande. Nos dois anos, quando foram 600 milhões de litros, foi todo o etanol descarregado no Nordeste”, afirma o presidente do Sindaçúcar/AL. FIM DE BARREIRAS A decisão do Governo Jair Bolsonaro de aumentar de 600 milhões para 750 milhões de litros o volume de etanol que pode entrar no Brasil sem taxação extra de 20% animou parte do setor sucroalcooleiro brasileiro. Dois especialistas e um representante de produtores rurais entendem que essa elevação representa uma sinalização de que o Brasil está disposto a ampliar o seu mercado e que espera uma reciprocidade do Governo Donald Trump com relação à taxação do açúcar. Brasil e Estados Unidos são os principais produtores de etanol do mundo. “Essa mudança não vai criar grandes distorções no mercado, mas condicionar novas conversas a uma efetiva abertura do mercado americano de açúcar. Foi uma solução salomônica. Uma decisão extremamente firme e equilibrada”, afirmou o presidente da União das Indústrias de Cana de Açúcar (Unica), Evandro Gussi. Na segunda, Trump comemorou a ampliação do mercado brasileiro num tuíte que surpreendeu pela informalidade de um assunto que sempre desperta dúvidas sobre ganhos e perdas para o Brasil. Há quem veja nesta movimentação que o Governo brasileiro está cedendo demasiadamente à gestão Trump sem, por enquanto, ter nada em troca.