Política

“Retórica do governo estimula degradação”

Geógrafo Jeilson Vieira, especialista em Ciências Ambientais, diz que administração de Bolsonaro incentiva práticas danosas

Por Carlos Amaral com Tribuna Independente 24/08/2019 12h16
“Retórica do governo estimula degradação”
Reprodução - Foto: Assessoria
  Matéria atualizada às 18h54 de 25/8 para correção de  informação O Brasil ganhou destaque internacional na última semana, mas nada que enalteça o país. Os incêndios na Amazônia provocaram uma série de situações constrangedoras, a exemplo de a França convocar o G7 para discutir a situação sem a presença brasileira. Para o geógrafo Jeilson Vieira, especialista em Ciências Ambientais, o atual governo federal tem incentivado práticas degradadoras do meio ambiente com seu discurso, mesmo sem ainda ter alterado um item sequer na legislação ambiental brasileira.   Tribuna Independente – Nesta semana, a situação da Amazônia ganhou destaque internacional por conta das queimadas na região e chamou a atenção uma nuvem de fumaça que escureceu a cidade de São Paulo, na segunda-feira (19). Que avaliação o senhor faz da política ambiental do atual Governo Federal? Jeilson Vieira – Primeiro, me deixe esclarecer essa questão da nuvem de fumaça. É bom salientar que ali, a priori, aquela escuridão foi ocasionada pelas massas de ar. Foi algo natural. A dinâmica atmosférica naquela região fez nuvens muito carregadas baixassem e diminuíssem a luminosidade. Por isso, aquela escuridão. Mas teve uma potencialização das fuligens das queimadas na Amazônia, porém não só na brasileira. Houve queimada no Paraguai e na Bolívia. Naquela área existe um corredor de nebulosidade, o qual deram um nome ‘bonito’ de Zona de Convergência Intertropical, que leva tudo para as regiões Sudeste e Sul do país. Agora, no tocante à política ambiental atual, na verdade, não existe uma ainda. Não há projetos, não há uma política voltada para a questão ambiental. Um exemplo clássico. Houve alguma mudança na legislação ambiental nesses sete meses? Não. Não houve absolutamente nada. A legislação ambiental é a mesma dos últimos anos. Consequentemente, se não houve mudança na estrutura das políticas ambientais, o governo não apresentou mudança alguma. Entretanto, ocorre que há uma retórica de quem deveria promover políticas ambientais, que é um pouco assustadora, ao menos do ponto de vista dos ambientalistas, puxada pelo próprio presidente da República e pelo ministro do Meio Ambiente [Ricardo Salles]. Essa retórica, esse discurso, é que faz com que as pessoas se sintam alarmadas com as questões ambientais. Até o momento não houve nenhuma política efetiva de meio ambiente. Quando se fala em política ambiental, é bom deixar claro, é para promover ações que visem a preservação, a proteção e o desenvolvimento sustentável de determinada localidade ou do país. Tribuna Independente – Este ano houve aumento de 80% das queimadas na Amazônia. Acredita que isso seja influência dessa retórica do presidente da República e do ministro do Meio Ambiente que o senhor acabou citar? Jeilson Vieira – É justamente isso que está acontecendo. Quando se vê órgãos oficiais como o Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais] dizer que vai acender a luz amarela por causa do aumento, no comparativo com os primeiros sete meses de 2018, de 80% de focos de incêndio – desmatamento, salvo engano, foi de 200% – não foi por causa de políticas efetivas do governo, pois não existe política ambiental para destruir o meio ambiente, mas para preservar. Aí é o ‘Q’ da questão. Se não há política, projeto, somada à retórica do chefe da Nação, e do ministro do Meio Ambiente, causa esse furor. Junte isso a medidas pontuais do Ministério. Por exemplo, o Ibama tem um órgão de fiscalização numa cidade do interior do Pará chamada Novo Progresso. É uma área proteção ambiental, mas para o Ibama atuar ali se necessita de proteção policial por causa dos conflitos. Essa proteção policial vinha da Força Nacional, mas o Governo Federal a tirou de lá. Agora, os fiscais não têm como trabalhar. Essas medidas pontuais – que não são políticas – inflamam quem lidam com o agronegócio, que se sentiram como se o governo tivesse dado permissão para fazer o que quiserem. Tem discurso do governador do Acre [Gladson Cameli, PP] dizendo que não se precisa mais pagar as multas ambientais do Governo do Estado. Tribuna Independente – Este ano houve aumento de 80% das queimadas na Amazônia. Acredita que isso seja influência dessa retórica do presidente da República e do ministro do Meio Ambiente que o senhor acabou citar? Jeilson Vieira – É justamente isso que está acontecendo. Quando se vê órgãos oficiais como o Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais] dizer que vai acender a luz amarela por causa do aumento, no comparativo com os primeiros sete meses de 2018, de 80% de focos de incêndio – desmatamento, salvo engano, foi de 200% – não foi por causa de políticas efetivas do governo, pois não existe política ambiental para destruir o meio ambiente, mas para preservar. Aí é o ‘Q’ da questão. Se não há política, projeto, somada à retórica do chefe da Nação, e do ministro do Meio Ambiente, causa esse furor. Junte isso a medidas pontuais do Ministério. Por exemplo, o Ibama tem um órgão de fiscalização numa cidade do interior do Pará chamada Novo Progresso. É uma área proteção ambiental, mas para o Ibama atuar ali se necessita de proteção policial por causa dos conflitos. Essa proteção policial vinha da Força Nacional, mas o Governo Federal a tirou de lá. Agora, os fiscais não têm como trabalhar. Essas medidas pontuais – que não são políticas – inflamam quem lidam com o agronegócio, que se sentiram como se o governo tivesse dado permissão para fazer o que quiserem. Tem discurso do governador do Pará [Hélder Barbalho, MDB] dizendo que não se precisa mais pagar as multas ambientais do Governo do Estado.