Política

“Vamos fazer o possível para reivindicar direitos”

Presidente do Sindjornal, Izaías Barbosa argumenta que Ministério Público do Trabalho já foi acionado sobre revide das empresas

Por Carlos Amaral com Tribuna Independente 06/07/2019 08h47
“Vamos fazer o possível para reivindicar direitos”
Reprodução - Foto: Assessoria
Após nove dias de greve, os jornalistas da Organização Arnon de Mello (OAM), Pajuçara Sistema de Comunicação (PSCOM) e Grupo Opinião conseguiram no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Alagoas derrotar a proposta das empresas de reduzir o seu piso salarial em 40%. Além disso, a Corte deu 3% de aumento e estabilidade de 90 dias aos grevistas. Esta foi a terceira greve de jornalistas no estado, e para Izaías Barbosa, presidente do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas (Sindjornal), a mobilização foi resultado da clareza que os profissionais tiveram da situação, das perdas que poderiam ter. Contudo, retaliações já começaram. Tribuna Independente – A greve resultou em vitória judicial, mas qual a sua avaliação de todo o processo da paralisação, das negociações à mobilização? Izaías Barbosa – A greve foi um processo abraçado pela categoria. Ela tinha certeza daquilo que queria, lutar pela continuidade do piso salarial. As empresas queria um piso inicial menor e a gente sabia com qual propósito, que era a substituição do quadro em pouco tempo. Tanto que isso também foi dito pelo procurador do Ministério Público do Trabalho [MPT] no julgamento do dissídio, de que isso seria um processo natural. Essa substituição. Com essa certeza que todos tínhamos, os jornalistas quiseram fazer a greve. Isso se deu depois de várias tentativas de negociação. O Sindicato tentou de todas as formas negociar com as empresas, mas elas, em momento algum, mostraram alguma vontade em fazer isso. Estavam com ideia fixa de redução de piso salarial. Tribuna Independente – As empresas alegavam estar em crise financeira, mas em nenhum momento conseguiram provar isso, não é? Izaías Barbosa – Elas não conseguiram provar que estão mal financeiramente. A OAM, por exemplo, apresentou números, mas não contundentes. Ela mostrou das suas empresas sem a TV Gazeta e sua própria advogada disse que a tevê dá lucro, mas sustenta as demais empresas do grupo. Mas e eu, como funcionário da TV Gazeta, tenho que pagar pelo prejuízo que as outras empresas dão? Isso é um problema de gestão e o mesmo vale para os funcionários das demais empresas. Se são dez empresas dentro da OAM, eles coloquem alguém que possa administrar que possa dar seu lucro. Fora que a gente tem informações de que tem comercial 30 segundos de comercial na TV Gazeta que vale R$ 4 mil. Ou seja, um anúncio paga um mês de salário de um jornalista. Essa crise, o país vem enfrentando uma turbulência econômica sim. Isso é fato. Mas não somos nós, trabalhadores, que temos de pagar por ela. Se existe a crise, então que ela seja dividida. O empresário não quer baixar sua margem de lucro, quer sempre seguir ganhando dali para frente sem diminuir nenhum centavo. Tribuna Independente – E as retaliações das empresas, como o Sindjornal está se preparando para evitá-las? Izaías Barbosa – Ainda durante a greve já houve retaliação. Dois colegas que trabalham como jornalistas na tevê e como radialistas na rádio do mesmo grupo foram afastados da rádio durante a greve. Disseram a eles que enquanto a greve durasse, estavam dispensados de ir trabalhar, afastados, na rádio. Isso não tem nada a ver, pois são dois contratos distintos, um como jornalista – na tevê – e outro como radialista. A gente encara isso como retaliação porque não poderia ser por medo de eles entrassem na empresa. Não se está lidando com vândalo e sim com profissionais. Quero crer que não era esse o pensamento. Também houve colega que perdeu cargo de chefia e voltou para a reportagem. Claro que sabemos que chefia é cargo de confiança, mas, a partir do momento em que a troca ocorrer após uma greve, fica claro que o motivo foi a greve, por reivindicar seu direito. A gente nunca poderia aceitar o que a empresa queria impor, redução de 40% do salário. Sobre as 15 demissões na OAM, entramos com uma ação porque a empresa descumpriu a decisão do TRT, que foi estabilidade de 90 dias. E pior, o acórdão nem saiu ainda, portanto, estamos cobertos pela Lei de Greve. Ou seja, não podem demitir. Vamos fazer o que for preciso para reverter isso. Tribuna Independente – Outro ponto que se levantou durante a greve é que o acordo coletivo do piso salarial só vale para os três maiores grupos de comunicação [OAM, PSCOM e Opinião] porque são eles que o assinam. O que o Sindjornal tem em mente para fazer valer essas regras às demais empresas, tanto noticiosas quanto de assessoria? Izaías Barbosa – Isso é uma coisa que a gente já vinha conversando durante a greve, pelas coisas que estavam acontecendo. O presidente da Câmara Municipal de Maceió [Kelmann Vieira, PSDB], com a nossa ida àquele plenário para falar da nossa situação, disse que pagaria o piso aos jornalistas que assessoravam a Mesa Diretora e isso ocorreu no dia seguinte. A gente viu aí uma possibilidade de conversar com os poderes executivos Municipal e Estadual para a gente chegar a um acordo sobre isso, para o jornalista do serviço público. Queremos ver a possibilidade de se ter um piso estadual, aos colegas que fazem assessoria – no setor público ou privado – para acabar com essa diferenciação de salários. O mesmo vale para as empresas de notícias. Vamos buscar esse entendimento com os poderes Executivo e Legislativo. Tribuna Independente – O senhor citou a ida à Câmara Municipal e lá foi relatada a situação de estagiários da Gazeta, de que eles recebem R$ 180, sendo R$ 80 para vale-transporte. Só que a Lei de Estágio diz que se deve pagar ao menos um salário mínimo. O Sindjornal pensa em fazer algo sobre a situação dos estagiários? Izaías Barbosa – Já tem uma denúncia no MPT feita pelo próprio Sindjornal e também nos comprometemos a ir com os estudantes, com os diretórios acadêmicos das faculdades de Jornalismo, ao órgão para eles também realizarem a sua denúncia. Os estudantes já nos disseram que tem estagiário dando plantão sozinho, de cinco horas, no fim de semana. Isso é irregular. A Lei do Estágio diz que eles só podem trabalhar de segunda a sexta-feira – nunca no fim de semana e feriado – e a carga horária por dia não pode ser cinco horas, mas quatro horas. Esse valor pago pela OAM, ainda há contrato antigos em que se paga cerca de R$ 480, mas os novos são de R$ 100 de bolsa e R$ 80 de vale-transporte. Isso não paga o transporte, indo todos os dias trabalhar. As empresas têm de buscar uma forma de remunerar esse estagiário dentro do que diz a Lei. Outro ponto é a quantidade, que superar o permitido e só pode ater redações com mais de 20 jornalistas. Ou seja, as empresas exploram mão de obra barata com os estudantes. Eles foram muito importantes em nossa luta, foram fundamentais. Agora, nada mais justo, de ajudá-los nessa questão e lhes dar melhores condições para estagiarem.