Política

Pesquisa traça perfil de manifestantes pró-Bolsonaro em Maceió

Segundo os dados, maioria entende a democracia como melhor forma de governo, mas metade defende intervenção militar

Por Carlos Amaral com Tribuna Independente 29/05/2019 08h13
Pesquisa traça perfil de manifestantes pró-Bolsonaro em Maceió
Reprodução - Foto: Assessoria
Maioria masculina, branca, cristã e de classe média/média-alta. Esse é o perfil dos manifestantes do último domingo (26) em Maceió, no ato de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PSL). O estudo foi coordenado pelo professor doutor Cristiano Bodart, do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). O grupo de pesquisadores, formados por mais sete pessoas, entrevistou 112 manifestantes durante a concentração do ato, no Corredor Vera Arruda, na orla de Jatiúca, entre 9h e 13h. O estudo teve o “objetivo de traçar o perfil dos manifestantes e suas motivações para participação no ato. A importância deste survey está em caracterizar o perfil e as percepções dos manifestantes, o que contribui para entendermos os sujeitos que vêm participando ativamente no jogo democrático que se dá na esfera pública”, explica o relatório dos pesquisadores. Cristiano Bodart adianta à Tribuna que o grupo fará a mesma pesquisa no ato dea quinta-feira (30), contra o governo Bolsonaro. “Queremos ter um comparativo entre os dois perfis de manifestantes, apesar de já identificarmos algumas características”, comenta o pesquisador da Ufal. O questionário perguntou aos entrevistados sua percepção sobre a democracia, no geral e no Brasil. E é neste ponto que aparece a principal contradição nas respostas, pois a maioria – 84,8% – considera a democracia, sob qualquer situação, a melhor forma de governo, mas 91,4% não confiam nas instituições e 49% defendem intervenção militar. “O que a gente percebe, ainda mais durante as entrevistas, pois muitos justificavam suas respostas, é que há uma percepção superficial do que seja democracia. Se ouviu muito nas escolas, principalmente nos anos 2000 que a democracia é boa, mas ficou nisso. O que a gente percebe é que eles estavam protestando em defesa de interesses individuais e não coletivos”, analisa Cristiano Bodart. Como evidência do caráter mais individualista dos manifestantes, o professor aponta a aprovação para o porte de arma de fogo, cujo índice de aceitação foi de 85,7%. “Isso mostra que é algo individualizado. Ao invés de defenderem uma política pública de segurança, defendem a posse de arma de fogo. É a mesma lógica em relação às cotas nas universidades”, aponta Cristiano Bodart. Segundo a pesquisa, 99% dos entrevistados são a favor da redução da maioridade penal; 87,6% são contra as cotas nas universidades públicas; e 91,3% apoiam o contingenciamento/corte de recursos do ensino superior. Conservadores estão se expondo mais, destaca professor da Ufal   O perfil conservador dos apoiadores de Jair Bolsonaro tem ganhado mais holofote nos últimos anos. Segundo Cristiano Bodart, eles sempre existiram, mas não se expunham. “Hoje se orgulham de ser contra a universidade pública, de ser contra cotas, qualquer tipo de políticas públicas que tenham o objetivo de distribuir renda. Isso não era tão claro, mas sempre existiu”, afirma Cristiano Bodart. [caption id="attachment_303354" align="aligncenter" width="640"] Cristiano Bodart argumenta que apoiadores de Bolsonaro se orgulham até de ser contra universidade pública (Foto: Acervo pessoal)[/caption] Ele ressalta o crescimento da classe média brasileira com pessoas de camadas de renda mais baixas e que incorporaram os valores tradicionais desse segmento. “Tivemos uma ampliação do número considerável no Brasil de pessoas que passaram a ter consumo e acesso ao ensino superior. São sujeitos que se inseriram no consumo, mas abraçaram, em certa medida, essa ideia de ‘eu preciso ser classe média’ e incorporaram seu discurso. A inclusão numa classe não é só financeira, é também simbólica. Então é preciso incorporar costumes, valores, crenças e visão de mundo para ser reconhecido nesse grupo”, explica. NÚMEROS Segundo a pesquisa, 59,62% dos manifestantes eram homens. 63% tinham entre 30 e 59 anos de idade; 8% tinham menos de 20 anos e 14% mais de 60 anos. 42% tinham renda entre R$ 2 mil e R$ 7 mil; 43% acima de R% 7 mil; e só 14% abaixo de R$ 2 mil. 46,15% tinham ensino superior completo e 16,35% incompleto; 5,77% tinham mestrado e 1% doutorado; e 4,81% tinham ensino fundamental incompleto. 20,2% eram funcionários públicos e 12,5% privados; 12,5% eram empresários e 26,9% autônomos; e 14,4% eram aposentados. 51,9% eram católicos; 30,8% evangélicos; 7,7% eram espíritas; sem religião, 5,8%; e outras religiões, 3,8%. 50% se declararam brancos; 13,5%, pretos; 33,7%, pardos; 1%, indígenas; e 1,9% amarelos. 76,9% estavam numa manifestação de rua pela primeira vez. Os motivos de participação foram difusos, mas o mais citado foi “apoiar Jair Bolsonaro contra a oposição do Congresso Nacional”, com 39,4%. As redes sociais são o principal meio de obter informações políticas para 67,6%.   Acesse a íntegra do relatório da pesquisa clicando no link abaixo. Relatório