Política

Boulos: “Projeto é de destruição, mas o jogo está virando”

Ex-candidato a presidente pelo PSOL em 2018, Guilherme Boulos diz que gestão de Bolsonaro é de completo despreparo

Por Tribuna Independente com Carlos Amaral 18/05/2019 08h45
Boulos: “Projeto é de destruição, mas o jogo está virando”
Reprodução - Foto: Assessoria
Em visita a Alagoas para debater a reforma da Previdência proposta pelo governo  Jair Bolsonaro (PSL), Guilherme Boulos (PSOL) falou à Tribuna sobre sua visão da atual conjuntura política do Brasil. Para o filósofo formado pela Universidade de São Paulo (USP), o projeto de país do presidente e seus aliados é o de destruição do Estado brasileiro tendo como um dos carros-chefes a reforma da Previdência. Porém, Guilherme Boulos afirma ser possível barrar a aprovação dessa medida que é o “desmonte da Previdência pública no Brasil”. Tribuna Independente – O Governo Federal e seus aliados têm batido muito na tecla da reforma da Previdência, ligando-a, inclusive, com a geração de emprego. No Congresso, mesmo havendo problemas de articulação, muitos parlamentares concordam com o seu teor. É possível barrar a aprovação da reforma? Guilherme Boulos – Acho. Acho que é muito possível impedir que essa reforma seja aprovada e, aliás, na quarta-feira [15] foi dado o exemplo. Tivemos a maior manifestação do ano – uma das maiores dos últimos anos no Brasil –, em relação ao tema da educação, contra os cortes. Mobilizou um milhão e meio de pessoas em todo o país. Isso mostra que a sociedade brasileira não está adormecida. Quem acreditou numa sociedade apática, que iria dar carta branca ao Bolsonaro fazer o que quisesse, percebeu que o jogo começou a virar. Na quarta houve uma demonstração importante da capacidade de reação do povo brasileiro diante de políticas de retrocesso e antipopulares como o governo Bolsonaro está fazendo. No caso da reforma da Previdência, o que está em jogo é uma proposta desastrosa. Não diria nem reforma, é uma proposta de desmonte da Previdência pública no Brasil. Ao tornar as regras do INSS [Instituto Nacional do Seguro Social] algo impraticável para a realidade do povo brasileiro, sobretudo com aumento do tempo de contribuição da forma como está sendo feita, o que o governo tenta fazer é viabilizar a capitalização como modelo único. É pegar o jovem que entra agora no mercado de trabalho, que vai olhar aquelas regras e perceber que não vai se aposentar pelo INSS e induzi-lo a ir para o sistema de capitalização. A gente sabe muito bem, a capitalização é transformar a aposentadoria de um direito – como é hoje – a um privilégio para quem pode pagar. Tribuna Independente – Pela sua fala é preciso as pessoas nas ruas, já que só as instituições não devem se mover para impedir a aprovação da reforma da Previdência. Mas é possível reverter o grau de convencimento que Jair Bolsonaro conseguiu junto à população durante a campanha eleitoral? Por exemplo, sobre os cortes nas universidades, os grupos de WhatsApp voltaram a atuar. Guilherme Boulos – Isso tem limite e começa a saturar. Eles ganharam uma eleição propagando mentira de uma maneira deslavada e utilizando o WhatsApp como meio de propagação dessas mentiras pelo país. É evidente que isso ainda tem impacto, mas é justamente por isso que essa máquina de mentira tem de ser investigada. Queremos saber quem bancou os disparos de WhatsApp na eleição. Por que o TSE [Tribunal Superior Eleitoral] deixou de investigar isso? Queremos saber quem banca agora essa nova rodada de fake news. Será que é dinheiro da milícia do Rio de Janeiro? Isso tem de ser esclarecido. Será que é o dinheiro ilegal de empresários como o dono da Havan, o Luciano Hang? O Brasil precisa saber de onde vem esse dinheiro, isso não é de graça. Não se faz disparo de WhatsApp para milhões de pessoas de graça. Além dos crimes de mentira, danos morais e tudo que estão produzindo, estão cometendo crime com uso de dinheiro, provavelmente, ilegal. Isso é uma primeira coisa que cobramos ao TSE, para seguir com as investigações abertas no segundo turno das eleições, e ao Ministério Público que investigue. Tribuna Independente – Para usar um termo do próprio presidente, todos os dias seu governo dá uma “canelada”. No âmbito geral, qual a sua avaliação do governo Bolsonaro até agora? Guilherme Boulos – Canelada tem no Corinthians. No governo Bolsonaro não é canelada, é uma trapalhada completa todos os dias. É impressionante como essa turma não tem o menor preparo para governar o país. Nós podemos falar do projeto deles, que é antipopular, de destruição de direitos e antidemocrático. Isso é uma coisa. Podemos falar também da falta de capacidade de competência mínima para gerir a máquina pública. Você vê o ministro da Educação contando bombom em rede social e erra a conta; você vê outro que acha que a Terra é plana; o ministro das Relações Exteriores diz que o aquecimento global é invenção de comunista; um presidente da República que fica no Twitter o dia inteiro e não governa; o filho do presidente usando o Twitter dele para xingar militar; um imbecil completo como aquele Olavo de Carvalho influenciando um governo... É inacreditável o que acontece no Governo Federal deste país. Tribuna Independente – Diante disso que o senhor colocou agora, que risco as próximas gerações, e ao país, essa “imbecialização” do governo pode gerar? Guilherme Boulos – Acho que já gera um reflexo para a sociedade brasileira como um todo. Não só a imbecialização do governo, não só ter um presidente que nos faz passar vergonha lá fora, mas, principalmente, o que este governo tem produzido já. Por exemplo, em quatro meses, eles assinaram um acordo internacional em relação à Base de Alcântara [Maranhão], que até agora não chegou ao Congresso Nacional. Onde está esse acordo que entrega a Base aos Estados Unidos? Bolsonaro diz que quer fazer uma parceria com os Estados Unidos na exploração da Amazônia. Isso é algo que vai gerar sequelas de décadas se for feito. Aliás, temos um presidente que pisou duas vezes nos Estados Unidos e nenhuma no Nordeste brasileiro. Se essa turma aprova a reforma da Previdência, vai deixar sequelas para as próximas gerações. Seu projeto é a destruição do Estado brasileiro, é a destruição do que se acumulou na Constituição de 1988, fruto de luta de uma geração. É muito grave o que está acontecendo no Brasil.