Política

Para presidente da CEI na Câmara de Maceió, Braskem faz chantagem

Francisco Sales afirma que empresa tenta pressionar Governo do Estado e sociedade ao fechar fábricas em Maceió e Marechal

Por Carlos Amaral com Tribuna Independente 15/05/2019 08h30
Para presidente da CEI na Câmara de Maceió, Braskem faz chantagem
Reprodução - Foto: Assessoria
Um dia após a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) divulgar seu relatório que aponta a Braskem como responsável pelas rachaduras e afundamento dos bairros Pinheiro, Bebedouro e Mutange, a empresa decidiu paralisar a exploração de sal-gema e de fábricas de cloro-soda e dicloretano localizadas em Maceió. Mas para o vereador Francisco Sales (PPL), presidente da Comissão Especial de Inquérito (CEI) sobre o caso, tal medida não passa de uma chantagem. “A Braskem está fazendo chantagem, tanto para o Governo do Estado quanto para a sociedade. Ela sabe de sua importância para a economia de Alagoas e quer, de uma forma ou de outra, intimidar. A Braskem não é obrigada a fechar suas fábricas, mas sim os poços de sal-gema localizados nos três bairros [Pinheiro, Mutange e Bebedouro]”, afirma o presidente da CEI. O vereador ressalta a importância da preservação dos empregos que a empresa gera, mas pondera que isso não pode estar acima do risco que os moradores dos bairros atingidos pelas rachaduras correm atualmente. “Ninguém está aqui querendo atingir emprego. Todos sabem da dificuldade que há no estado, onde já há poucas indústrias. A gente não quer fechamento de postos de trabalho, mas não quer uma empresa trabalhando de forma criminosa, omitindo informações, falsificando dados, não monitorando bem seus poços. Ela não pode se achar a dona da cidade e dizer quer tudo pode, da forma que quiser trabalhar. Se ela hoje está impedida de explorar sal-gema nos três bairros é porque agiu incorretamente. A responsabilidade é só dela”, completa Francisco Sales. LÍDER Para o líder do prefeito Rui Palmeira (PSDB) na Câmara Municipal, Samyr Malta (PTC), a fala do governador Renan Filho (MDB) de que é preciso encontrar uma maneira de a Braskem seguir operando em Alagoas está correta. Para ele, é preciso encontrar uma forma de isso ocorrer sem pôr em risco as vidas dos moradores dos bairros e sem agredir o meio-ambiente. “Se for possível encontrar um meio-termo, digamos assim, será muito bom. É preciso considerar os empregos que a Braskem gera, assim como os impostos arrecadados por causa dela. Mas isso tem de ser sem causar dano ao meio-ambiente e sem pôr nenhuma vida em risco”, diz Samyr Malta. Na última segunda (13), Renan Filho afirmou que o Governo do Estado vai discutir formas de manter a Braskem atuando em Alagoas. “A área do desenvolvimento econômico vai discutir o funcionamento da empresa, a manutenção de emprego; o meio-ambiente vai preservar o direito do cidadão, que é ter segurança nos bairros onde ela opera”, disse o governador. “Pedido de prisão de diretores da empresa não está descartada”   A Comissão Especial de Inquérito estuda a possibilidade de pedir prisão aos diretores da Braskem pela responsabilização, apontada no laudo da CPRM, das rachaduras e afundamento dos bairros Pinheiro, Bebedouro e Mutange. Segundo Francisco Sales, essa decisão deve ocorrer na próxima terça-feira (21). “Tivemos uma reunião hoje [terça-feira, 14], que foi a primeira após o relatório da CPRM, e estamos apurando os fatos. Na quinta-feira [16] receberemos o IMA [Instituto do Meio Ambiente de Alagoas], a ANM [Agência Nacional de Mineração] e a CPRM para colher mais informações sobre a responsabilidade da Braskem em relação ao fornecimento de dados falsos, se houve ocultação deliberada de informações”, adianta o parlamentar. Ele destaca o fato de, durante a leitura do relatório da CPRM, o técnico responsável pela atuação do órgão em Maceió ter afirmado que a Braskem forneceu dados errados sobre a situação dos poços de sal-gema localizados no subsolo dos bairros Pinheiro, Bebedouro e Mutange. “O Thales [Sampaio], da CPRM, foi muito claro quando disse que isso atrapalhou muito o andamento das investigações por terem passado informações erradas. Precisamos saber junto aos órgãos que fiscalizam a Braskem, IMA e ANM, se houve dolo nisso. Se comprovado, a gente não pode pensar duas vezes e vamos, sim, pedir a prisão”. IMA Após a divulgação do relatório da CPRM, o IMA autuou a Braskem em R$ 29,3 milhões, referente a duas multas: uma de R$ 1.601.480,71 pela “prestação de informações falsas” e outra de R$ 27.758.996,59 por degradação ambiental. À edição de 11 e 12 de maio da Tribuna Independente, o ambientalista José Geraldo Marques afirmou que houve omissão dos fiscalizadores.