Economia

Petrobras é independente para definir preços, diz Paulo Guedes

Preocupação do Planalto era risco de nova greve de caminhoneiros, como a do ano passado

Por Reuters 16/04/2019 20h14
Petrobras é independente para definir preços, diz Paulo Guedes
Reprodução - Foto: Assessoria
O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta terça-feira que a Petrobras é independente para estabelecer preços, e que o presidente Jair Bolsonaro deixou claro entender que seria fora de propósito manipular cotações da estatal. A afirmação foi feita depois de uma reunião de pouco mais de uma hora com Bolsonaro, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, o presidente da estatal, Roberto Castello Branco, técnicos da área, além do próprio Guedes. O ministro da Economia afirmou que estava claro que esse foi um encontro de “esclarecimento”. “O presidente da República tem uma preocupação maior que só a do mercado. É natural que eu esteja sempre preocupado com questões de mercado, me preocupa qualquer coisa que possa parecer intervenção, mas eu tenho que reconhecer que ele é presidente de 200 milhões de pessoas”, disse Guedes. “Ele realmente, legitimamente, me disse ‘me explica esse negócio aí’.” Guedes afirmou ainda que o presidente “parece” ter ficado satisfeito as explicações apresentadas a ele sobre a política de preços da empresa. “Ele entende que existem práticas de preço e que é fora de propósito fazermos manipulação de preço”, disse. Na última quinta-feira, ao ser informado pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, sobre o aumento anunciado de 5,7 por cento no preço do diesel, Bolsonaro telefonou ao presidente da Petrobras e pediu que um reajuste menor, de 1 por cento, no que a estatal preferiu cancelar o aumento. A preocupação do Planalto era o risco de uma nova greve de caminhoneiros, como a do ano passado, que paralisou o país. No entanto, a impressão passada pelo governo de que o presidente interferiria diretamente no preço dos combustíveis derrubou as ações da Petrobras em mais de 8 por cento. No final do dia, a empresa perdeu 32 bilhões de reais em valor de mercado. Guedes reconheceu que a interpretação de que poderia haver uma interferência é “legítima” e que o governo não quer passar essa impressão. “A perda da ação da Petrobras é a menor perda. Se começar a manipular preço, todo processo de concessão, de fluxo de refinaria, tudo isso é afetado”, afirmou. O movimento da Petrobras de cancelar a alta programada levantou preocupações de especialistas, que alertaram para riscos sobre os planos do atual presidente da empresa de vender uma parcela significativa das refinarias. POLÍTICA DE PREÇOS O ministro disse ainda que a estatal está estudando as “melhores práticas” para sua política de preços e que precisa aumentar a transparência. Guedes disse, no entanto, que caberá à empresa decidir sobre o próximo aumento, que substituirá o barrado pelo presidente. “Vai ter que recalcular”, disse. A Petrobras decidiu manter estáveis as cotações do diesel e da gasolina em suas refinarias na quarta-feira, de acordo com informações da estatal no início da noite desta terça-feira. O diesel da Petrobras não é reajustado desde 22 de março. Já a gasolina teve reajuste pela última vez em 5 de abril, quando a cotação subiu 5,6 por cento. Guedes voltou ao discurso de que é necessário um choque de energia barata” no país, com privatizações e mudanças de regulamentação para permitir a entrada de outros atores no mercado de petróleo no país. “Vamos partir para um choque de mais competição e tirar esse problema do colo do governo. Esse problema só está no colo do governo porque o governo tem monopólio. O que nos interessa é mudar a longo prazo as condições de mercado, queremos ir em direção ao setor privado e mercados competitivos”, defendeu. INDEXAÇÃO O ministro da Economia disse ainda que está sendo estudada a indexação da tabela do frete ao preço do diesel, o que foi negado pelo Ministério da Infraestrutura na manhã desta terça-feira. Segundo Guedes, essa é uma solução que está sendo estudada, inspirada em uma solução adotada nos Estados Unidos. “O presidente da Petrobras já estava estudando tudo isso há alguns meses e por conta da greve isso tudo começou a ser avaliado. Esse foi um episódio que precipitou uma aceleração dos estudos. Ele tinha lançado o cartão caminhoneiro, que é uma espécie de pré-pago. Essa solução americana de indexar está analisada também, tudo isso está sendo analisado”, afirmou. Mais cedo, o governo federal anunciou um conjunto de medidas para melhorar as condições de trabalho de caminhoneiros autônomos e reduzir os custos da categoria, incluindo promessa de 2 bilhões de reais para conclusão de obras e manutenção de rodovias e eixos viários importantes, além de linha de crédito para manutenção de veículos, em uma tentativa de reduzir o risco de uma nova greve. A ausência de informações sobre a tabela de fretes gerou protestos entre representantes de caminhoneiros autônomos consultados pela Reuters, enquanto uma proposta sobre o assunto preparada pela Universidade de São Paulo está em consulta pública.