Política

Ato relembra violência da ditadura

Manifestantes foram ao Centro de Maceió em repúdio à ordem de Jair Bolsonaro para celebrar golpe civil-militar de 1964

Por Carlos Amaral com Tribuna Independente 02/04/2019 10h53
Ato relembra violência da ditadura
Reprodução - Foto: Assessoria
Dezenas de pessoas protestaram ontem (1º) contra a ordem do presidente Jair Bolsonaro (PSL) de celebrar – “ou rememorar” – o golpe civil-militar de 1964 no Calçadão do Comércio, em Maceió. Os manifestantes montaram um mural com fotos de mortos e desaparecidos políticos de Alagoas e do país durante a ditadura. Entre os presentes estavam militantes de partidos políticos de esquerda e de movimentos sociais, além de pessoas sem ligação direta com alguma organização da sociedade civil, entre eles pessoas que foram presas pela ditadura ou tiveram parentes presos ou assassinados por ela. É o caso de Lauro Bandeira, irmão de Selma Bandeira, presa em 1968 após participar do Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Ibiúna, São Paulo, e em 1978, em Recife. Ela era militante do Partido Comunista Revolucionário (PCR). Lauro também foi preso em 1973. Para ele, o golpe de 1964 não pode ser esquecido.  “Esse ato é para não nos esquecermos de tudo aquilo, ainda mais no momento atual, de recrudescimento de conquistas democráticas. Não queremos negar a ditadura, mas garantir que nossos filhos não passem pelo que vivemos”, diz Lauro Bandeira. “A ditadura foi um marco cruel em nossas vidas e, pelos os tantos que se foram, não vale a pena cruzar os braços”, completa. Quem também esteve presente ao ato foi o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT). Preso durante a ditadura, ele lembra o motivo de ter sido preso e que só depois decidiu ingressar no PCR. “Muitos de nós foram presos sem sequer participar de alguma organização contra a ditadura. Eles achavam que qualquer jovem era de alguma organização. De mim, eles queriam que eu entregasse militantes, mas eu nem conhecia muitos deles. Só depois de ser solto foi que eu decidi ingressar no PCR”, lembra Ronaldo Lessa. Ele lamenta ainda haver a necessidade de denunciar os atos do golpe de 1964. “Imaginava que essas cicatrizes estivessem no passado, que não precisaríamos mais sangrá-las, mas temos que manter essa memória viva. Não queremos esquecer, se fizermos não saberemos como serão as próximas gerações”, diz o ex-governador. Sem revisionismo Historiadores lembram mortos e desaparecidos Entre os manifestantes, estiveram presentes os historiadores Cícero Albuquerque e Geraldo Majella. Ambos enfatizam à Tribuna Independente a necessidade de manter viva a memória das atrocidades cometidas durante a ditadura. “Não podemos permitir o esquecimento dos mortos e desaparecidos, que tentam esconder. Querem apagar a História e este é um ato de resistência”, diz Cícero Albuquerque. Já Geraldo Majella, que participou da Comissão da Verdade alagoana, afirma que Jair Bolsonaro cometeu crime ao ordenar a celebração ao golpe de 1964. “Foi uma atitude criminosa. É crime, uma vez que a Constituição considera como crime a prática de tortura de Estado”, afirma Geraldo Majella. Para ele, a tentativa de dar ares positivos à ditadura não consegue vingar. “Não conseguiram revisionar a História. Nenhum historiador sério, mesmos os refratários à esquerda, embarcou nisso”, comenta Geraldo Majella. Para ele, ainda não está no horizonte uma repetição de 1964. “Nem os militares embarcaram nessa onda porque isso os expõe. Repare que as celebrações nos quartéis fizeram menos barulho que o esperado”, analisa o historiador. ALAGOANOS PRESOS Entre os alagoanos presos pela ditadura, segundo o site História de Alagoas, do jornalista Edberto Ticianeli, estavam: Alan Rodrigues Brandão, Alcides Correia do Nascimento, Amaro Bezerra Cavalcante, Antônio Pinheiro de Almeida, Antônio Saturnino do Nascimento, Auro Calazans de Albuquerque, Avelino Francisco da Silva, Cícero Martins de Oliveira, Dirceu Lindoso, Dorival de Araújo Lins, Eliezer Francisco de Lira, Ernande Maia Lopes, Etevaldo Dantas dos Santos, Etiene Pires de Melo, Gerson Ferreira de Souza, Gerson Rolim de Moura, Gilberto Soares Pinto, Jari Braga, Jayme Miranda, João Araújo, Jonas Paulino de Oliveira, Jorge Lamenha Filho Marreco, José Alípio Vieira, José Cabral Irmão, José de Sá Cavalcante, José Gomes da Silva, José Gonçalves de Lima, José Graciano dos Santos, José Lopes da Rocha, José Moura Rocha, José Nunes de Almeida, Josenildo Ferreira, Luiz Gonzaga Alves, Luiz Silva Barros, Manoel Hermógenes Gomes da Silva, Manoel Lisboa Filho, Manoel Moreira da Silva, Maria Augusta Neves de Miranda, Marinete de Araújo Neves, Mário César Viana de Melo, Mário Correia da Silva, Mário Rodrigues Calheiros, Miguel Bertoldo da Silva, Ogelson Acioly Gama, Pedro Epifanio dos Santos, Petrúcio Lages, Renalvo Siqueira, Roland Benamor, Roline Sound Cavalcanti Silva, Rubens Colaço, Teófilo Alves Lins, Waldomiro Pedro da Silva e Walter Pedrosa.